terça-feira, 14 de agosto de 2018

(meu sobrinho e) O que aprendi offline

"Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver". Dalai Lama


No dia 27 de Junho eu escrevi sobre o ritmo alucinado que todos, sim, todos, temos vivido - nossa adaptabilidade tem se expandido para uma quase capacidade de viver num mundo aparentemente sem tempo, em que fomos capazes de criar o "sem fronteiras" literalmente, quebrando a natureza e desrespeitando a luz do dia, avançando noites, com luzes artificiais das telas de computador, telefones ou televisores.

Em Junho escrevi: "Talvez esse seja o grande desafio, 'darmos conta de tudo hoje-agora': ser enquanto estamos, para nos tornarmos num tempo, atemporal".

Por essas e outas gosto tanto de escrever: registrar é ferramenta para criarmos consciência, caso você queira. 

Quase um mês depois, literalmente, na noite de 24 de julho, eu voltava pensativa da terapia, pois a sessão tinha sido sobre como eu poderia lidar melhor com o desequilíbrio do cash flow, numa percepção de que tenho trabalhado muito, as contas chegam, mas o faturamento tem outro ritmo: como "manter a mente sã" - todo o resto é consequência - numa (não) rotina de viver num "time frame assíncrono de real time x right time x next time?".

Ao chegar em casa, meu celular pifou. Simplesmente, a tela ficou colorida - me pareceu ser o cristal liquido vazando - e aos poucos ele foi apagando. De verdade, a única coisa que consegui sentir foi alívio e, integralmente, agradecer pelo acaso do tal timing.

Na manhã seguinte viajei para Paraty, para participar da FLIP; fiquei quatro dias off e, na volta para SP, viajei de novo a trabalho, ficando, ao todo, 15 dias sem "smartphone". Aliás, vou tirar as aspas: o celular é esperto, nós é que não somos.

Abaixo, um pouco do que aprendi nestes dias fora do "just in time", mas 100% "on my time": 

  1. Ninguém morreu: alguém poderia ter falecido, fato, mas a frase aqui é para outro significado - o mundo continuava lá, não me prejudiquei por estar "inacessível" e isso tem a ver com o ponto seguinte:


  2. Quem quis me achar, achou: a gente, por comodidade, tem praticamente recorrido a uma única ferramenta de comunicação - whatsapp - e isso tem, como toda ferramenta, seus prós e contras; o contra está no comportamento do indivíduo que utiliza do "te mandei mensagem e você não respondeu" como justificativa para ambos não terem ganhado nada com a rebeldia do "fiquei de mal, #poxa": o clássico "quem quer arruma um jeito, quem não quer arruma desculpa".

  3. O tal do foco: somos interrompidos o tempo inteiro!, seja por estímulos externos - pessoas, notificações de mensagens, barulhos, abas abertas, desinteresse pelo que fazemos, passarinho que pousa numa janela - seja por nós mesmos - pensamento no futuro (ansiedade, né), preocupações, desejos, frustrações, "e se's" etc. Ao longo destes dias, ter partido do pressuposto que "ninguém me mandaria mensagem", espontaneamente me colocou num "fazer o que tinha que ser feito", segui a lista de 'to do's' com disciplina e, principalmente, entusiasmo, ao entender que, terminando logo, sobraria tempo para fazer qualquer outra coisa - inclusive aquelas que a gente só pensa sobre, quando está distraído: a vontade vira realização. 

  4. Priorização: Você entra num fluxo - quanto mais focado e disciplinado, mais você reengaja no que faz, melhor você "produz" e, acredite, mais tempo livre tem: coisa louca isso! Inexiste a procrastinação, porque você fica tão animado para começar a fazer o que te dá prazer, seja ler, dormir, fazer exercício, ligar pr'alguém pra bater papo, ir naquela padaria às 16h, fazer supermercado quando não há fila: qualquer coisa!

  5. Dar importância ao que é importante: neste fluxo, você atribui verdadeiramente importância ao que é importante e a minha descoberta foi perceber como eu aportava tempo e energia em matérias ou pessoas de baixo retorno: físico, espiritual ou emocional - você realmente escolhe melhor e, principalmente, aproveita com qualidade a escolha, #semculpa

  6. Percepção: Não que os aprendizados parem por aqui, mas fecho com isso, porque ter me desconectado do tempo do outro, do tempo lá de fora, de uma urgência que não era minha, resgatou muito das minhas verdadeiras intenções e, para me ouvir, para sentir, é preciso silenciar-se, mas antes, é preciso deixar que o barulho seja barulho, ruído seja ruído, e as pessoas com o timing delas, sejam elas com e por elas - não por mim.

Pensei muito em, depois de ter recuperado meu celular, a ficar offline, fazer como duas pessoas que conheço que vivem sem smartphone e (mesmo assim - pasmem!) dão conta de responder às demandas corporativas, do "mundo real". Mas eu não cheguei lá. Aliás, taí um outro aprendizado importante:


7.As crianças: senti saudades de ver fotos do meu sobrinho, que está para completar 1 ano de vida, e mora em BH. Quando me reconectei por whatsapp, fiquei assustada: o tempo dele (também?) passa rápido! Parecia um rapazinho. E, foi pela beleza desse propósito de conexão que resolvi voltar, com parcimônia, ao smartphonefazendo o exercício de me colocar, mais do que no meu lugar neste mundo, no meu tempo, sem deixar de compartilhar do tempo do outro.



Rodrigo, 11 meses. Meu sobrinho <3.

Sugiro a experiência, mesmo que "planejada". Se for "por acaso", só aceita e vive!

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Minha 1a. FLIP: achei que fosse sobre literatura, #sqn

"Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros." Eugène Ionesco

A FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty que acontece todo ano no Brasil, em Paraty/RJ, desde 2003 - sempre me pareceu distante, tanto, que nem sequer cogitei ir um dia: nunca olhei passagem ou hospedagem, até que, à convite da Editora Kazuá, em parceria com a Revista Philos, o que nem havia sido por mim pensado, imaginado, sonhado, aconteceu.

A proposta era participar de uma mesa - nome que se dá a debates realizados por duas ou mais pessoas e mediados por alguém - para tratar, ou não, de algum tema em específico; e o meu foi "Para além da escrita: a condução da própria carreira literária – os desafios do escritor independente".

Entre a ligação da Editora oficializando o convite e sentar na cadeira com os outros escritores na manhã do dia 26 de Julho de 2018, vivi momentos de muitas emoções, muitas; e era tanto sentimento misturado, que mal pude pensar, racionalizar, planejar, esperar ou, enfim, fazer qualquer coisa senão permanecer aberta para o que quer que fosse e significasse aquela experiência.

E assim foi! Na quarta-feira à noite (25/07) assistimos (estava com amigas e meus pais) à abertura com Fernanda Montenegro, jantamos e muito rapidamente me deixei levar por aquela energia, que só foi se intensificando com o passar dos dias.

Na manhã seguinte me sentia calma, tomei café como se fosse um dia comum, saí carregada dos meus livros, cheguei à Academia do Samba - lugar que nos acolheu para o debate - e, aos poucos, vendo as pessoas entrarem, a casa encher, o microfone ligar e escutar meu nome, era como se eu tivesse nascido pr'aquilo: só para (me) comunicar. 

Curioso que ao longo da conversa meus colegas escritores falaram algumas vezes sobre a importância do processo da escrita, da disciplina, do esforço e da peleja para estarem ali e eu, apesar de ser escritora iniciante, talvez até amadora, pude entender e sentir o símbolo daquilo tudo: seja por ter estado ali num lugar de fala privilegiada ou por exercer empatia ao que falaram, ao projetar as dores - e delícias - em relação à minha "carreira" nada literária: fosse como CLT, autônoma ou empreendedora, ter estado nos lugares em que estive e ter vivido outras tantas FLIPs ao longo dos meus últimos 13 anos, mesmo que até então não tenha me dado conta, reforçaram em mim ainda mais a crença - e a paixão - de que "tudo podemos".


Sigo acreditando ainda mais em ajudar pessoas a conquistarem o que querem da vida ou a buscarem sair daquilo que não querem. Para cada um haverá uma FLIP para ir e nem sempre chegar lá é questão (só) de dinheiro; cada vez mais vejo que o sentido da vida está no 'como', para um 'porquê' que se sustenta dentro da gente, e que precisamos silenciar nesse mundo de tantas palavras e tantas mensagens para sabermos mesmo qual é a leitura que a cada um interessa e, sobretudo, deixar sentir o que desperta e o que representa.

Enfim, eu poderia lhes dizer que a FLIP é tipo um recorte dos anos 20 (1920) de Paris ou uma volta ao "túnel do tempo" direto para a Semana de Arte Moderna de SP, de 1922, porque ela também foi isso - música, poesia - e sua boemia - arte, arte, arte e artistas. Mas, pr'além disso, pra mim, ela foi uma releitura do mundo, um "amadurecimento do hobby" em algo menos romântico e mais duro talvez, mas ainda assim bonito.

"Conquistar" e "viver" deveriam ser verbos que carregam a coragem da verdade e a magia da ilusão, para que nos ajudassem a caminhar rumo às nossas FLIPs invisíveis, às nossas obras feitas, mas desconhecidas e, por fim, ao exercício do nosso propósito, com amor e dedicação. É neste detalhe que mora o despertar das (auto) realizações.

"(...) Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes. O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade. Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor". Cora Coralina

*Não adesão à nova regra gramatical.