"Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros." Eugène Ionesco
A FLIP - Festa Literária Internacional de Paraty que acontece todo ano no Brasil, em Paraty/RJ, desde 2003 - sempre me pareceu distante, tanto, que nem sequer cogitei ir um dia: nunca olhei passagem ou hospedagem, até que, à convite da Editora Kazuá, em parceria com a Revista Philos, o que nem havia sido por mim pensado, imaginado, sonhado, aconteceu.
A proposta era participar de uma mesa - nome que se dá a debates realizados por duas ou mais pessoas e mediados por alguém - para tratar, ou não, de algum tema em específico; e o meu foi "Para além da escrita: a condução da própria carreira literária – os desafios do escritor independente".
Entre a ligação da Editora oficializando o convite e sentar na cadeira com os outros escritores na manhã do dia 26 de Julho de 2018, vivi momentos de muitas emoções, muitas; e era tanto sentimento misturado, que mal pude pensar, racionalizar, planejar, esperar ou, enfim, fazer qualquer coisa senão permanecer aberta para o que quer que fosse e significasse aquela experiência.
E assim foi! Na quarta-feira à noite (25/07) assistimos (estava com amigas e meus pais) à abertura com Fernanda Montenegro, jantamos e muito rapidamente me deixei levar por aquela energia, que só foi se intensificando com o passar dos dias.
Na manhã seguinte me sentia calma, tomei café como se fosse um dia comum, saí carregada dos meus livros, cheguei à Academia do Samba - lugar que nos acolheu para o debate - e, aos poucos, vendo as pessoas entrarem, a casa encher, o microfone ligar e escutar meu nome, era como se eu tivesse nascido pr'aquilo: só para (me) comunicar.
Curioso que ao longo da conversa meus colegas escritores falaram algumas vezes sobre a importância do processo da escrita, da disciplina, do esforço e da peleja para estarem ali e eu, apesar de ser escritora iniciante, talvez até amadora, pude entender e sentir o símbolo daquilo tudo: seja por ter estado ali num lugar de fala privilegiada ou por exercer empatia ao que falaram, ao projetar as dores - e delícias - em relação à minha "carreira" nada literária: fosse como CLT, autônoma ou empreendedora, ter estado nos lugares em que estive e ter vivido outras tantas FLIPs ao longo dos meus últimos 13 anos, mesmo que até então não tenha me dado conta, reforçaram em mim ainda mais a crença - e a paixão - de que "tudo podemos".
Sigo acreditando ainda mais em ajudar pessoas a conquistarem o que querem da vida ou a buscarem sair daquilo que não querem. Para cada um haverá uma FLIP para ir e nem sempre chegar lá é questão (só) de dinheiro; cada vez mais vejo que o sentido da vida está no 'como', para um 'porquê' que se sustenta dentro da gente, e que precisamos silenciar nesse mundo de tantas palavras e tantas mensagens para sabermos mesmo qual é a leitura que a cada um interessa e, sobretudo, deixar sentir o que desperta e o que representa.
Enfim, eu poderia lhes dizer que a FLIP é tipo um recorte dos anos 20 (1920) de Paris ou uma volta ao "túnel do tempo" direto para a Semana de Arte Moderna de SP, de 1922, porque ela também foi isso - música, poesia - e sua boemia - arte, arte, arte e artistas. Mas, pr'além disso, pra mim, ela foi uma releitura do mundo, um "amadurecimento do hobby" em algo menos romântico e mais duro talvez, mas ainda assim bonito.
"Conquistar" e "viver" deveriam ser verbos que carregam a coragem da verdade e a magia da ilusão, para que nos ajudassem a caminhar rumo às nossas FLIPs invisíveis, às nossas obras feitas, mas desconhecidas e, por fim, ao exercício do nosso propósito, com amor e dedicação. É neste detalhe que mora o despertar das (auto) realizações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário