sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O que é que é bom


Voltar [1 Dirigir para outro lado; virar, volver(...). 2 Ir ou tornar ao ponto de onde partiu; regressar; ir ou vir pela segunda vez (...). 6 Retroceder. 7 Retroceder para atacar. 8 Acometer, investir (...). 10 Retornar a um estado anterior (...). 13 Pôr do avesso. 14 Fazer de novo; repetir. 15 Ocupar-se ou tratar novamente de uma coisa ou de um assunto. 16 Reaparecer. 17 Manifestar-se de novo; reproduzir-se. 18 Recomeçar (...). 20 Mudar de rumo ou direção (...). 27 Converter, mudar, transformar].
Michaelis.
Já não me lembro mais como foi a ida da Malásia para o Brasil. Lembro-me que por um bom tempo pegamos uma turbulência fortemente considerável, daquelas em que parece que todas as bagagens e comida dos armários cairão sobre sua cabeça e que você não sabe se faz xixi nas calças, ignora a sede nervosa e o fato de que não vê nem sinal dos comissários de bordo ou se dá gargalhadas forçadas, fingindo estar super interessada no filme que passa à sua frente. Enfim, passou e ansiosamente pousei em São Paulo, desejando que minha casa fosse efetivamente lá, para evitar pegar mais um vôo.

No Aeroporto de Belo Horizonte, era tanta alegria que me sentia bêbada, zonza, completamente fora de mim. Quando as portas que dividem o saguão do desembarque de quem te espera se abriram, rapidamente identifiquei meus pais, com sorrisão largo e olhos brilhantes e meu coração prestes a ser vomitado por ali mesmo. E, como se isso não fosse suficiente, logo que eu virei para a direita, para sair daquela corda de isolamento, um bando de meninas-mulheres-loucas, gritando alto, apito e pompons, pulam em cima de mim e do meu carrinho com as malas mais pesadas de todos os tempos (salve-salve multas pagas). Eram algumas das minhas melhores amigas que à meia-noite entre a segunda e terça-feira foram me saudar. Naquele instante não conseguia pensar em nada, somente que tudo era inacreditável e que era muito bom estar de volta, mesmo que por acaso, depois de oito meses.

Fui para o Brasil não por opção, mas por questão de visto. A idéia era seguir da Malásia para a Indonésia, não deu. Mas, então, ali estava, com as pessoas que efetivamente amo e me fazem bem: alegria-alegria!

Mesmo zuada do fuso e de tanta adrenalina, fomos comer pizza e, claro, tomei um chopp!Falei bem sobre meus últimos meses, sobre as pessoas, os lugares e, principalmente, viver em um contexto tão diferente como este tem sido. É bom externalizar, porque aí as pessoas desistem da idéia de achar que é fácil fazer algo difícil e que pelo fato de você ter feito coisas interessantes anteriormente, não necessariamente significa que você dará conta de algo que mexe essencialmente com o seu interior, com aquilo que te forma e várias vezes te cala.

Foi bom ver que as pessoas em BH estão felizes, que as surpresas continuaram e que vi outras que não via desde minha mudança para São Paulo, em 2007. Valeu para ter tido a certeza de que todos os momentos bons continuam mantidos e que é preciso estarmos unidos e conectados ao "lá", para que as coisas continuem. Foi bom registrar tudo isso, compartilhar e trazer comigo.

Foram 10 dias de muita energia boa, risada, encontros & re-encontros, família, amigos e todas as coisas boas que se explodem quando se volta para a casa.
E, mesmo sendo difícil, mais uma vez, deixar tudo passar e voltar para o que é o hoje, é o que tem que ser, neste momento. O depois, veremos com o tempo.

Assim, a viagem Brasil-Líbia foi muito mais calma do que pensaria que fosse, não só pelas turbulências que graças aos Deuses - o meu e o Allah - não aconteceram, mas pela tranqüilidade em recomeçar e começar 2010, onde quer que seja.

Em Guarulhos, como se eu não pudesse ir embora sem uma benção, um sinal ou outra coisa do tipo, houve uma luz, mas preciso de ajuda para interpretá-la. Acho que este feixe, de certa forma, foi o que fechou com chave de ouro a minha ida e, já na Líbia, pude estar de bom-humor no convívio com os últimos dias do Ramadã.

Falando nele, por três dias fiquei sem conseguir ir à vendinha, porque os "nômades" dormem de dia e aproveitam pela noite. Eu, com fuso trocado, agitado, não consegui acompanhá-los. Ho-ho-ho o Ramadã termina agora neste fim de semana e, em comemoração, serão três dias de feriado (Sábado, Domingo e Segunda-Feira) e deve ser uma alegria para eles, que poderão voltar a fumar os cigarros, beber o café e tomar a água, deixando como lembrança o fato de que o que eu mais senti falta neste período todo foi do pãozinho quente de manhã - isso deixava em péssimos lençóis meu estômago egocêntrico.

Nesta reta final, pós-Brasil, cometi gafes ao beber água na frente de algum deles e, pior, ofereci uns biscoitos a um líbio com quem queria ser simpática e o que ganhei foi um sorrisinho sarcástico como quem disse "se eu pudesse, dava a você bolachas na cara", haha. Foi cômico, porque senão teria sido trágico. O rapaz não gostou do meu desleixo mesmo. Ficou com raiva. Mandei o típico "sorry-pardon" de sempre, fazer o quê?

Enfim, nestes dias então em que seguirei somente comigo mesma, já que quase todos os expatriados partiram para o Egito ou para algum país na Europa, aproveitando a rebarba do feriado líbio, vou retomar a minha mente e corpo à vida aqui, valorizando os alongamentos* e as leituras e ver se me direciono melhor para o que vier depois. E, ainda, me desafiar a ser algo que um amigo meu, involuntariamente, se tornou e me convidou para tentar: "mais importante do que coragem, eu tenho paciência".

*Fui a médicos no Brasil e, a grosso modo, um dos discos da minha coluna saiu do lugar. O tratamento seria pilates/RPG/acupuntura, como aqui não tem, sigo com exercícios leves (sem impacto) e alongamentos para fortalecimento do músculo. Em caso de dor, estou consultada =)

2 comentários:

Anônimo disse...

como sempre seus textos são fantásticos e ilários !!!!!! beijos - uma de suas melhores amigas !!!

Marcelinho disse...

Dias que passaram rápido mas como valeram a pena hein :) Grande beijo!

*Não adesão à nova regra gramatical.