quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um ano do quê - mesmo?



"Há um ano eu decidia pela vivência de uma nova-outra vida. Não foi pelo dinheiro, pelo status, pela glória ou pela reputação. Foi pelos meus valores, talentos e paixões - pela busca de um trabalho realizado pelo fim em si mesmo, que me preencha de sentido e faça a diferença. Hoje é dia de comemorar: Feliz aniversário, Coragem! Que possamos juntas caminhar por nossas escolhas, fiéis aos nossos "múltiplos 'eus" - Eu, 17 de Dezembro de 2012


Leia ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=doU59v5LxVY


Há quase um ano, escrevi sobre as escolhas que fazemos na vida e o peso que elas têm em nos "definir" e, principalmente, em causar um mal-estar quando entendemos que aquele feito não combina mais com você.

Ao longo destes meses, tenho lido livros, histórias, contos e reflexões belíssimos, em que 
os protagonistas são sinceros com a dificuldade de encarar a mudança - qualquer que seja ela. Tive a oportunidade de conhecer algumas, pessoalmente, e de trocar ideias em mesas de bares e cafés, com outras que vão sumir e se distanciar do meu radar, procurando por elas mesmas, por aí, num processo sem data - e sem fim.

Falamos que "re-escolher" não é necessariamente um marco dos 20 e poucos anos. Talvez seja mais intenso porque é o primeiro grande passo por si mesmo, a primeira definição dentro de um grupo, uma sociedade, um conjunto de valores, gosto e crença. Mas depois dos 20 e poucos vem esta releitura forte do que foi feito e um desejo quase que incontrolável de fazer dos próximos 20 anos algo com mais sentido, sensatez, prazer, alma e espírito alimentados, quase que como uma prestação de serviço a si mesmo; ao mundo.

Falando em alma, parece que ela se aquieta, ao mesmo tempo em que sente o máximo grau da vitalidade e da expansão da vida!

Falamos do porquê existirem tantos jovens hoje sedentos por fazer a diferença, perdidos com a gama de escolhas que a vida apresenta. Daqueles que por outro lado continuam vetados de sonhar, porque o que tem é o que é para hoje e que vai pagar as contas de amanhã. Dos privilegiados, como eu, que se deram um tempo para nada, para tudo, para experimentar, se reinventar, refazer, começar, recomeçar, reconhecer, retroceder, respirar, voltar, repassar; reviver. Errar e aprender. Fazer, pensar, refazer, refletir - de novo, respira e vai.

Falamos do conforto, da zona que nos encobre de aconchego, certezas, segurança e estrutura emocional. Verdades pela metade. Mentiras necessárias?

Neste um ano sem trabalho (aspas?), repensei sobre o que é isso e passei a acreditar, cada vez mais, no porque das palavras terem poder e do porque elas poderem representar tanto - e o porque de querer usá-las para o bem, para o que é bom:

"A palavra russa para trabalho, robota, vem da palavra usada para escravo, rab. O termo latino labor significa trabalho penoso ou duro, enquanto travail em francês deriva de tripalium, um instrumento de tortura da Roma antiga feito de três varas. Poderíamos, então, considerar a visão cristã inicial de que o trabalho é um castigo, uma punição pelos pecados do Jardim do Éden, quando Deus nos condenou a ganhar o pão de todo dia com o suor do nosso rosto. Se a Bíblia não faz muito o seu gênero espiritual, tente o budismo, que acredita que toda vida consiste em sofrimento(...)", discorreu Roman Krznaric em "Como encontrar o trabalho da sua vida".

Sem querer concluir, entendi que trabalho e diversão podem ser perigosos, se muito juntos; que fazer da sua atividade fim por paixão pode corroer. Que escolher pelo dinheiro é uma opção necessária, mas não deve ser o pilar que sustenta, porque ele é abstrato e pode não aguentar o suficiente numa alma que se firma por talentos e outras motivações, mais sutis e incontáveis. Intangíveis. Aprendi também que a atividade fim não vai ser perfeita e leve, principalmente por ser conquistada em um processo tão solitário. Aprendi que experimentar, o que quer que seja, será o que tiver que ser: ensina, testa, confunde, reapresenta, desconstrói. Enriquece.

Sobretudo, aprendi que sendo todos nós uma soma de "vários eus", o Jornalismo pode não ser (mais) a minha vocação, porque ele era quando eu era uma outra pessoa, com outras experiências. E que a minha busca de hoje vai me levar a vivências que podem agregar outros eus e, no meio do caminho, me fazer a mesma pergunta, mais uma vez, que apontará para uma resposta que poderá não estar ligada ao que era hoje. Mas este hoje dura quanto tempo?: "Faça esta pergunta a você: Será que daqui há um ano o que você está fazendo hoje ainda vai importar para você?".

"Pergunta
Tem paciência
com tudo não resolvido em teu coração
e
tenta amar as perguntas em ti
como se fossem
quartos trancados ou livros escritos em idioma estranho.

Não pesquises em busca de respostas
que não te podem ser dadas,
porque tu não as pode viver,
e
trata-se de viver tudo.

Vive as grandes perguntas agora.
Talvez um dia longínquo,
sem o perceberes,
te familiarizarás com a resposta". Rainer Maria Rilke

*Não adesão à nova regra gramatical.