terça-feira, 31 de outubro de 2017

E a vulnerabilidade corporativa?

"(...) Eu sei que vulnerabilidade é o centro da vergonha e do medo e da nossa luta por merecimento mas parece que também é a origem da alegria, da criatividade, do pertencimento, do amor. E acho que tenho um problema, e preciso de ajuda." Brené Brown

Tenho visto com frequência um aumento de compartilhamento sobre "vulnerabilidade", mas gostaria de focar em duas de suas premissas:

- não julgar;
- estar aberto.

Particularmente acho muito difícil ambos e por mais que eu tenha tomado cada vez mais consciência do jeito que sou e ajo, às vezes me chateio ao me pegar julgando e não estando aberta para o outro tão genuinamente quanto poderia - e me chateia porque gostaria de ser mais consistente, só nessas duas, para começar.

Nas relações familiares e com amigos próximos acho que consigo ser mais dessa forma, sem racionalizar tanto: compartilho os meus anseios, medos, frustrações - mas é curioso observar que a maior vibração do dividir está nas alegrias, no amor, no bom humor.

Se é tão difícil sermos vulneráveis com aqueles que, teoricamente, pouco nos julgariam e tanto são abertos, imaginar isso acontecendo no ambiente de trabalho ainda é bem difícil: uma pena!

Nos últimos meses li sobre o despreparo das organizações em lidar com o luto de funcionários, seja quando perdem pais, filhos, irmãos, espos@s, enfim, não importa quem, mas parece que a dor também parece não importar - muito.

Se organizações são pessoas e se as pessoas mal se permitem - ou conseguem - ser vulneráveis em seus círculos íntimos, quiçá no trabalho, em que falhar e, sobretudo, reconhecer os aprendizados via erro, continuam raros.

Acho que vou além dos pedidos que vejo de que sejamos vulneráveis, acrescentando, "por quê não ser no trabalho?".

Depois que li sobre o impacto positivo, inclusive em termos de resultados de negócios, nas organizações em que os líderes puderam chorar, falar sobre as tristezas e os problemas que os abatem pessoalmente, principalmente nos cenários de luto, o efeito desencadeador foi extremamente significativo do ponto da cultura e do engajamento que se cria. 

Acolher as pessoas em pós-traumas e permitir que se manifestem quanto ao que sentem é uma "vulnerabilidade corporativa" e, de fato, ainda são poucos os que têm coragem de correr o risco, para si e para organização - aliás, o que significa agir com coragem, não é?

Nessas eras de automatização e foco em tecnologia, tem muita gente se esquecendo do que o faz humano: um lamento - ou uma oportunidade de transformar o que tem pouca organização transformando; ainda: coragem para não julgar e se abrir.



terça-feira, 24 de outubro de 2017

Das mudanças

"Nós definimos algumas das coisas que mais nos importam quando nos atrevemos a nos perguntar se o que esperançamos nunca mudará". School of Life.

Para fechar as reflexões do curso - misturada a tantas outras que tenho tido - depois de ter me dado conta, então, que quem você é não necessariamente significa o que você faz; que o trabalho nem sempre vai te dar tudo o que você espera dele, e que ao adquirir consciência sobre isso, você tem mais perspectiva de mudar, alocando uma necessidade a uma outra atividade e, inclusive, priorizando seu tempo para o que efetivamente te importa; me dei conta de que, independentemente do que for aquilo que você vai mexer - prioridades no trabalho, o trabalho em si, atividades extras, relações, significado do que verdadeiramente faz sentido para você - nenhum êxito será alcançado, sem qualquer mudança.

A consciência de estarmos num momento x hoje e de que esse momento não é mais satisfatório, abre espaço para algumas alterações - grandes ou pequenas, visíveis  ou não, mas diferentes do que sempre foi.

Nesse contexto, a pergunta lançada era "Quais são as mudanças que você precisa fazer, para fazer o que mais se aproxima sobre quem você é?".

De novo, com calma:
- Quais são as mudanças
- que você precisa fazer
- para fazer
- o que mais se aproxima
- de quem você é?


Uma dica?
Respire.


Outra dica?
Comece pequeno.

Um passo.

Uma mudança.

Aos poucos.


"(...) Serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar
Coragem para mudar as coisas que posso
E sabedoria para conhecer a diferença entre elas". Reinhold Niebuhr




terça-feira, 17 de outubro de 2017

Meus pais e o trabalho

"Em uma escolha entre o amor e a nossa própria satisfação, é compreensível se muitas vezes fechamos nossos horizontes para preservar nosso relacionamento com aqueles que nos levaram ao mundo". Sobre o livro "Middlemarch: um estudo da vida provinciana", de George Eliot.

Ainda sobre o curso da School of Life, outro momento eureka para mim foi criar consciência de que a forma como meus pais encararam o trabalho a vida inteira foi tão responsável pela minha liberdade, quanto eu mesma. 

E, sobretudo, como esse tema está cada vez mais relevante na formação das pessoas, e o cuidado que devemos tomar ao chegarmos em casa e compartilhar, em família, nossas experiências:

1. Tive ainda mais convicção de que o que fazemos não nos define;
2. Quebrar a corrente da pergunta às crianças "o que você vai ser quando crescer", listando características, não profissões;
3. Reforçar que nossa identidade é quem somos, não o que fazemos e que ter essa clareza vai nos ajudar a pedir do trabalho aquilo que vamos querer dele e não o que achávamos que ele deva suprir.

Descobri, em uma reflexão rápida e depois de ter mandado uma mensagem para meus irmãos no whatsapp, que embora meus pais não fossem apaixonados pelo que faziam, não tivessem esse viés de "propósito", "mudar o mundo", eles nos ensinaram que o valor deles ao trabalho era conviver com pessoas ora semelhantes, ora diferentes; que com a dedicação puderam nos dar uma excelente educação, lazer e, sobretudo, caráter sobre a utilização dessas conquistas materiais. 

Descobri que não cresci em um universo de reclamações, fossem elas "meu chefe é escroto", "meu trabalho é chato", "trabalho demais", mesmo que eles tenham vivido cada uma dessas dificuldades, diversas vezes.

Descobri que embora as leis hoje sejam diferentes das do século XVIII, XIX e até XX, em que os filhos só poderiam trabalhar em funções que o pai (na grande maioria dos casos) autorizasse, ou que ele estabelecesse ser "bom o suficiente para meu filho", que há ainda muitas, muitas, muitas pessoas que escolhem o trabalho nessa premissa familiar e que então, sobretudo, o amor pode mesmo controlar mais do que a ausência de leis, principalmente se vier carregado de medo ou liberdade.

Descobri, por fim, que por mais que eu achasse que eu não tinha uma premissa familiar para o trabalho, tive certeza que sim. Mas como ela foi discreta, verdadeira, introjetada organicamente, veio como na formação do caráter, na vivência máxima de que sou livre para ser feliz e que o trabalho deverá ser para mim o que eu quiser que ele seja. 

E esse exercício de amar, libertando o outro, deve ser um dos mais difíceis: Obrigada mãe, e pai: Isso fez toda a diferença!

terça-feira, 10 de outubro de 2017

O que o trabalho te dá?

"O verdadeiro conhecimento vem de dentro". Sócrates.

Esse fim de semana eu fiz um curso intensivo de carreira da School of Life, maravilhoso!: passamos pela história do trabalho, pela importância do autoconhecimento, da leitura de cenário e, principalmente, do significado do trabalho que cada um tem para si - grata surpresa estar alinhada com o David Baker!

Dentre as muitas perguntas feitas ao longo dos dois dias, uma que muito me chamou atenção foi "O que o trabalho nos dá?".

Simples, mas nem tanto.

Foram muitas as palavras listadas no flipchart pelo grupo: tinha desde "dinheiro", "satisfação", "reconhecimento", a "dignidade".

Curioso ter clareza de que assim como tudo na vida, o trabalho não vai te dar tudo também: não existe isso, né? Mas por que é tão difícil entendermos e por que exigimos tanto de nós mesmos e, sobretudo, do nosso trabalho - seja do nosso chefe, dos nossos colegas, dos nossos clientes, da estrutura do lugar em si?

O exercício mais rico foi pensar nessa lista e alocar algumas palavras para outras experiências, por exemplo: se em algum momento o trabalho não me der mais desafio, eu consigo me motivar me estabelecendo uma meta de participar de uma maratona?, e aí eu aproveito que o trabalho me demanda menos, para que eu possa fazer outra coisa? Afinal, por que é que a gente não sabe usar muito bem o tempo fora trabalho? 

No fim das contas, a grande pergunta foi "o trabalho é apenas sobre o próprio trabalho?". 

Bom, desde este fim de semana a resposta para mim é "não" e a aventura estará em descobrir quais outras atividades eu posso fazer para ter aquilo que quero, já que o trabalho não dará tudo. E, sobretudo, que o que eu estou priorizando tem que estar alinhado com o meu momento, adequando essa matemática de olhar para dentro e para fora.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

10 (dez) elementos sobre a não empatia do R&S

 irrelevante ter uma grande visão sem ter as pessoas certas". Jim Collins.

Depois que escrevi o "R&S e a não empatia (both ways)" tive a oportunidade de conversar com algumas pessoas sobre minha perspectiva em relação ao tema e, para resumir, eis que:

1. A empatia em si: acho mesmo que se a pessoa que representa a porta-de-entrada de uma organização olhar o CV do candidato sob uma perspectiva mais empática vai tentar entendê-lo, sem julgamento, e validar premissas, sem necessariamente trazer aquele ar de "já sabia que não tinha perfil", evitando um risco de antecipar "verdades enviesadas";

2. Querer ouvir: o próprio recrutador tem a oportunidade, inclusive, de desenvolver uma escuta mais ativa, se abrindo de fato ao que a pessoa fala e não ao filtro que ele quer usar para atender a uma interpretação própria;
3. Estar aberto: se o RH, neste caso, vai com uma postura de "vou pegá-lo na curva", por ter listado os gaps do candidato entre uma experiência e outra, provavelmente ele também não sairá ganhando: dê um passo atrás e reveja os motivos pelos quais aquela pessoa precisa ser entrevistada pr'aquela vaga, sem agenda oculta;

4. Servir primeiro: o espírito de uma entrevista deveria ser de honestidade, integralidade e atenção ao outro - só por protocolo, acredite, você vai se convencer de que aquela pessoa também não serve;
5. Aceitar que ninguém é perfeito: gerar curiosidade para entender "onde ele é bom" e focar nisso, para tentar, de verdade, fazer com que dê certo - as imperfeições são as características mais intrínsecas dos seres humanos; não as descarte!;
6. Não seja sacana, vai!: fazer perguntas que mais querem matar sua curiosidade e eventualmente expor o candidato para você se sentir mesmo melhor do que ele são práticas do passado e que dizem mais sobre você e sobre a empresa do que sobre ele;

7. Ser inteiro: se você não gosta do que faz, reavalie, porque é muito sério: dizer sim ou não vai mudar a vida dessa pessoa e não é um unmatching tipo Tinder que, depois do seu botão, virão muitos outros: você pode ser a chance de realização de um sonho dele (a)!;
8. Posicione-se: para ser estratégico não precisa ser diretor nem VP - seja o melhor que pode ser, independentemente do seu crachá e assinatura no email. Tratar o candidato como uma pessoa e não como um check list  é a oportunidade que você tem de fazer tudo aquilo que reclama que a liderança não faz: inspirar pelo exemplo;

9. Só automatizar não resolve: adquira o melhor das tecnologias para triagem de candidatos, mas acredite, nada substitui o respeito daquele instante que processualmente chamamos de "entrevista"; e cada uma é uma, porque cada pessoa vem com uma história e você pode até não gostar dela, mas precisa avaliar se os elementos da narrativa cabem no livro que a sua empresa, a qual representa, está escrevendo - e como reproduzirão, juntos;
10. Blá-blá-blá: Se nada disso interessa, faz sentido ou pode ser endereçado, só te peço mais uma coisa: se você tivesse selecionado os melhores funcionários que existem hoje na sua empresa; que empresa ela seria?
*Não adesão à nova regra gramatical.