domingo, 12 de dezembro de 2010

Coisas Feitas

"Não importa de onde você tira as coisas - importa é para onde você as leva." Jean-Luc Godard

São quase quarto meses sem escrever. De fato, não vivi muitas coisas diferentes para manter o ritmo de compartilhar, semanalmente.

Houve dias em que tive vontade de detalhar, mas parecia pouco.

Ao mesmo tempo em que vou ficando menos exigente com as coisas (não com as pessoas), porque já passei por situações em que escolher é um luxo, já não consigo enxergar a beleza e o diferente "em lugares escondidos e inesperados", então, o que talvez pudesse ser publicado, ficou comigo.

Demorei a sair de São Luís, capital, para percorrer os trechos que compõem o projeto físico ao qual estou alocada desde a Líbia: muito trabalho de reconhecimento do negócio, do cliente e dos parceiros.

Enfim, nas últimas três semanas, pude percorrer pelo interior do Maranhão e do Pará para visitar nossos escritórios e ver, de fato, como as coisas iam. E eu, embora com raízes humildes, pobres e interioranas, que, além de tudo, já tinha vivido as experiências no Sri Lanka e Tailândia, me desbanquei, de novo!: nota-se uma carência extrema e diferente, onde não há água (mesmo), imersos a um calor naturalmente prejudicial, com pessoas dispostas a serem outra coisa além do que foram até hoje.

Jovens ou velhos com um olhar de esperança de que aquilo vai fazer as coisas mudarem.

De que haverá tratamento de água, redes de esgoto, escola, conforto, asfalto, alimentação saudável, diferentes marcas de consumo, opções de escolha, olhares que se olham e decisões que impactam. Transporte público. Segurança. Coleta de lixo.

Crianças vivem em meio ao alcoolismo dos pais, que não necessariamente são agressivos, apenas se dopam para dormir sem ventilador e trabalhar por meio salário mínimo.
Jovens sem ter o que fazer, perambulando e, tentando se encontrar ali, na praça, em meio a fumaças de cigarros baratos.

Nem mesmo naquele que dizem e promovem em revistas caras, nos Lençóis Maranhenses, há quaisquer estruturas para o que poderia de fato ser. Vale o visual e o passeio pelo Rio Preguiça; a observação dos nativos que vivem em vilas e vilarejos, à espera dos turistas que vão comprar um adorno, um artesanato ou simplesmente vão abrir a mão para que tenham como retorno o sorriso da criança.

Difícil prever um futuro nisso tudo. E é Brasil. Logo aqui, em cima de nós, que "somos do Sul":
é preciso evoluir, e muito!

Do interior do Maranhão segui para o interior do Pará - a ponta de lá do projeto. Por terra, foi sensacionalmente estranho andar em uma estrada que separava em lados esquerdo e direto a Floresta Amazônica.Em vários pontos, a Floresta é fechada, robusta, se impõe e se mostra ao que veio. Adiante, ela vira pasto e demonstra-se devastada, não tão dona do reinado mais: os burgueses acabaram com a nobreza, também ali.

Chegando em uma das minhas cidades-destino, perguntei pela Transamazônica, projetada como uma "obra faraônica", mas que não disse e ainda está muda, a respeito do que veio.
Pouco interessante, ela é uma avenida como outra qualquer, com seus buracos, má sinalização, envolta a prédios e casebres inacabados e mal-cuidados: nada demais, infelizmente.

Entre-sinais, tribos indígenas vendendo seus cocais; indiozinhos dependurados pelo seio materno; índios dirigindo caminhonetes caras, com celulares na cintura, fumando outros cigarros baratos e não naturais.

Tudo muito estranho, mas não ao ponto de ser caracterizado como um "choque-cultural".

De fato, nesta nova experiência de Brasil, é bom que tenha trazido vivências, de onde quer que sejam e que tenho tentado colocá-las, por onde quer que passe.

Se te intriga o porquê deste texto, Saramago me justificaria: "No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e que é que estamos fazendo e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade*".
*Do texto, Coisas Feitas - José Saramago

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Do que vem o recomeço

A viagem começou com minha ida ao Aeroporto e, em um engarrafamento literalmente em cima da Ponte José Sarney, o taxista, até então, único a ser falante e se interessar por qualquer coisa, rasgava o verbo acerca de carreatas (razão do trânsito naquele horário) e poluição, se contradizendo:

- Mas até que lixo aqui no rio, não tem problema. Quando ele encontra com o mar, a água leva.

De São Luis, parei em Fortaleza, Recife, Salvador até que chegasse, no início da madrugada, em São Paulo.
Estava frio como há muito tempo não sentia e gosto mais ainda da garoa daquele jeito, mesmo sem roupa propícia para curtir.

Saindo pelo portão de desembarque, me encontrei com um buzinaço. Eram elas. Abraço bom e muita conversa rápida, no desespero de nós cinco em atualizar umas às outras entre Guarulhos e a casa da Te.

A Te nasceu em São Paulo, morou até o fim da faculdade em Curitiba, fez intercâmbio para a Nova Zelândia, viajou bastante, é mais nova do que eu, conhece muita coisa muito mais do que eu e se parece bastante comigo.
Não moramos efetivamente juntas em Sampa porque ela morava com o pai, mas era "praticamente". Acordava e ela estava lá e quase colocava a gente para dormir, além de dar carona nas madrugadas afora.

Foi aprovada para um mestrado nos Estados Unidos e, arquitetonicamente, programou isto aí para nos vermos e outras tantas.

Não chegamos a relembrar dois anos atrás, mas revivemos com muita alegria, conversa, risada, música, amigos, cerveja, comida; enfim, felicidade.

Além disso tudo, re-encontrei a Teca, da Líbia. Até parece que foi ontem e, diferente dela e de outras pessoas, realmente não sinto saudade. Acho que é um dos poucos capítulos totalmente bem resolvidos na minha vida, que só me dá leveza pela decisão, sem ter medo ou desconforto a não dizer que "sinto muito" - realmente não sinto.

Rapidamente, vi ainda a Dea - o casamento em que não fui. Este não é assim tão resolvido, mas passa.

Cafés.

Na correria, daquelas de parar de sentir frio, embarquei de novo e, mais uma vez, pela madrugada, repensei, pensei, vivi, revivi, ri, dormi.

Com tanta coisa, fica por aqui esta etapa do blog. Escrever assim não representa para mim o que procuro com a escrita, que é compartilhar o aprendizado para que pessoas saibam de mim e, mais ainda, sobre si mesmas. Para que façam diferente. Diferente e melhor.

A novidade não me rodeia tanto mais e o olhar já não é tão caprichoso para enxergar o curioso na simplicidade.

Estou feliz que é Brasil, mesmo certa de que não sei por quanto tempo.

Estou egoísta e, não compartilhar o dia-a-dia assim, é ter certeza de compartilhar de outra forma.

Se "Escrever é uma maneira de falar sem sermos interrompidos*", quero mais é que me interrompam, porque espero do Brasil o diálogo, o relacionamento e a proximidade. É egoísta porque hoje não penso nos que me leem e estão fora, mas em mim que absorvo que "Devemos escrever para nós mesmos, assim poderemos chegar aos outros".**

E que, do escrever, farei como pintura da voz.***

O céu da alçada mudando, voarei de volta.

*Luis Felipe Angell, "Sofocleto"
** Eugène Ionesco
*** Referência a Voltaire.

domingo, 8 de agosto de 2010

Tu achastes?

Leia ouvindo: I'm Miami Beach - David Guetta

Fiquei sem internet, porque mudei do hotel para o flat.
Não tem muita diferença, apenas que agora posso fazer meu macarrão sem tempero, miojo com salsicha e relembrar os bons tempos de dificuldade e alegria em Sampa.

O custo de vida daqui é surpreendentemente alto e os nativos estão tirando um super 'proveito da migração, do desenvolvimento e da oferta de emprego. Segundo eles, "o povo do sul tá subindo". Eu não sou do sul e subi, mas veja lá, comparemos as receitas.

Negociações à parte, vou e volto andando do escritório e ouvi dizer que a praia é do lado. No Domingo, desbravando a região, ao som de várias músicas que há muito tempo não escutava, descobri que é perto mesmo, mas diria que fica "atrás de mim".

Não é das melhores para banho, mas andei, andei, andei e, na volta, parei em uma barraca típica, pedi "um chopps e dois pastel" e, uma pena, veio de carne e queijo, ao invés de camarão ou algo sortido regional - o atendimento é péssimo, por mais que se pague pelo ambiente, cardápio ou serviço mesmo.

Liguei lá para casa, porque é dia dos pais. Feliz ou infelizmente, já não me abalo por não estar próxima e em conjunto em datas como esta e dar um alô soa "ok".

A adaptação está indo, nem boa ou ruim. Adoro o que faço, estou tentando (ainda) me identificar e entender a empresa, interagir com meus pares e afins e de segunda à sexta a rotina me agrada.

Ainda não achei uma academia por perto, mas amanhã acho que terei notícias de uma Associação Atlética de um Banco ao qual não sou correntista: faço votos!

Fui ao show do Capital Inicial, graças a presença de um amigo de uma amiga na cidade: se não fosse ele, me manteria entre quatro paredes.

Este fim de semana, fomos numa balada tutst-tutst. Os amigos dele me receberam bem e, cada um no seu quadrado, pude curtir o som: até que gostei e fiquei até quase a hora em que a lanchonete vira padaria.

Na semana em que passou, fui a um dos treinamentos obrigatórios ministrados por nossa cliente e, o que parecia chato e cansativo, ao fim, foi muito divertido.
Mais próxima aos simplórios daqui, descobri palavras novas e expressões que até então não significavam nada para mim:
- Pessoal, o equipamento é para ser usado como pede o seu fim, nada de fazer "xibé" nele.(Xibé é uma mistura de cebola, tomate, pimenta, água e farinha).

Foram dias dinâmicos e, na verdade, na espera de que a Gol se acerte porque sexta-feira tenho um encontro marcado, marcadíssmo: a reunião de amigas que se tornaram o que são desde 2008. Advinhe onde?

Verás.

Falando nisso, o título é apenas porque gosto do jeito que falam por aqui e, por enquanto, é só isso
do que gosto. Isso e que é Brasil!

domingo, 25 de julho de 2010

Do bleh ao uhu!

Analfabetismo Funcional [Pessoas com menos de quatro anos de escolarização não possuem as habilidades de leitura, escrita e cálculo para fazer face às necessidades da vida social dos nossos tempos. Por esse padrão, cerca de 800 a 900 milhões de pessoas no mundo jamais poderão cumprir algumas tarefas simples e corriqueiras em sua vida pessoal e profissional, tais como: ler uma estória infantil para seus filhos, cozinhar seguindo uma receita, ler (e entender) um jornal ou uma revista, entender as instruções de montagem de um brinquedo, consultar o menu de restaurantes, ler os ingredientes de uma embalagem de alimento ou remédio, ler o rótulo de um produto de limpeza, preencher um formulário de emprego, entender suas contas de água, luz e telefone, ler as instruções de segurança de um equipamento, etc]*1991 - União Brasileira de Escritores (www.brasileitor.org.br)

Cheguei da roça na euforia, contando os casos e o quanto me diverti ao ouvir as pessoas conversando comigo:

- Fia, se tu querê, tem mais comida (...).
- Ih quando tu teve os pobrema da coluna, tu fez inzame? Real X?
- Se tu querê, tem vinho. Mas embebeda, moça!
Sou fã da simplicidade, do trato sincero, do acolhimento.

Depois do afago familiar longínquo, voltei para a banda original e liguei para a Líbia, para saber se algo tinha acontecido durante aquela semana de refúgio, já que meu e-mail não trazia nenhuma notícia daquele lado.
Felizmente, me deram atualizações e, no dia seguinte, recebi outros telefonemas que giraram em torno de dois Santos-destino: Paulo e Luís.

Paulo é sempre interessante, moderno, criativo, diferente. Luís é desconhecido, embora tenha uma pitada curiosa.

Optei por Luís que trazia em si um desafio e uma oportunidade profissional que naquele momento Paulo não poderia iluminar.

Na quarta-feira, quando tudo foi claramente entendido, ouvi:

- Bárbara, preciso de você amanhã aqui.
- "Amanhã"... é quando?, perguntei.
- Segunda-feira.

Naquele êxtase inesperado, com tudo tão rápido, fiz de tudo um pouco: continuei a descansar, fique com a família, amigos; foquei no pilates, mala e tentativa de entendimento sobre morar em São Luís, no Maranhão. Longe. Mas Brasil.

Não consegui nada de muito otimista e a realidade me pareceu muito realista.

De novo, optei por não ouvir nem ler tanto sobre tudo e tirar minhas próprias conclusões: parênteses para os Lençóis Maranhenses: Opinião sobre visitá-lo é unânime!

Assim, mais algumas horas de vôo e diria que a Ilha do Amor e do Reggae não me recebeu da melhor forma possível e as pessoas até agora - da região ou não - foram menos solícitas do que o esperado.

Desanimada nos primeiros dias, literalmente perdida e já com aqueles questionamentos insistentes, saí do "bleh" para o "uhu", depois de uma conversa e um fato:

A primeira conversa de trabalho, propriamente, fez meus olhos brilharem, pelo desafio, crescimento, aprendizado escancarado, que era só pegar, porque já estava ali: complexo e a minha cara!

Dois dias depois, o cliente reuniu todos do prédio - to-dos - para refletir sobre um acidente que tinha acontecido em outro país, questionando-nos a importância de cada indivíduo, em qualquer lugar que se esteja.

Em um debate-aberto, falamos do quão grave os riscos se colocam, quando estamos em locais como Maranhão: mais de 40% da população é "analfabeta funcional".

Pensei (amos): como uma pessoa lê, entende e, portanto, opera um equipamento de risco; uma máquina; um diálogo; um serviço; a assinatura de papéis; tudo? Como fazem e pensam todas essas pessoas? Como lidam e vivem no dia-a-dia? Como processam e implementam tudo o que pensam? Como é... tudo?

O bleh, combatido pelo uhu!, pelo desafio que, de grande, passou a ser maior, tornou as variáveis não tão óbvias e tornando aparente que, embora Brasil, não seria mais fácil, mas ainda assim, inusitado. Ainda, diferente.

Paradoxalmente me disseram - e confirmei - que aqui se fala o Português mais correto do Brasil e, de fato, observando no dia-a-dia, gostei do que ouvi. Não é tão convidativo quanto foi na roça, mas intrigante a fala versus a escrita. Há chão e coisas além a serem feitas: se querê conhecer, é só vim.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

(Ainda) Somos os mesmos

Na noite anterior à minha partida para o sertão Baiano, fomos para a casa da vovó, ficar juntos, jogar conversa fora, comer coisas boas, tomar umas cervejas em família e rir!
Para compartilhar um pouco de como eram as noites dos meus "fins de semana" na Líbia, levei o narguilê que tomou conta do pedaço e foi a sensação: mamãe e vovó experimentaram os fumos de hortelã e maçãs (verde e vermelha), rimos dos tragos não muito bem dados e do fumaceiro que exalava cheiro bom; reunindo o que estava aparentemente isolado.

Contei um pouco das últimas semanas que vivi antes de voltar e um pouco de casos gerais, bons e difíceis que convergiram para a decisão de revê-los e estar mais próxima.
Rimos da minha imaginação quanto ao que enfrentaria pelo caminho até chegar na roça e diria que desmereceram o meu medo, fazendo um comparativo "Você morou na Líbia um ano e meio e está assim para ir ao interior da Bahia?". Sim, estava. Acontece. E rimos de novo: muitão!
Noite feliz! O dia seguinte se resumiu em comprar queijo, castanhas e afins para levar para o pessoal.

Minha mala se tornou algo totalmente inconveniente para quem pegaria dois ônibus, esperaria pelo segundo por uma quantidade de horas inesperada e andaria em ruelas de terra batida e cascalhos.
Na rodoviária, entre BH e a tal cidade-primeiro-destino, seriam 20-22 horas. Depois, mais seis (horas) e cinco km até a casa do vovô.
Tudo bem. Papel higiênico na mochila, pães de queijo, água, livro, Ipod: (acho) que estava pronta para o caminho.

As paradas na estrada, de fato, são muito precárias e embrulham o estômago algumas vezes. Um acidente entre Minas e Bahia nos deixou literalmente parados até que o tráfego fosse liberado por umas três horas. Sem sinal de celular, saí andandando por ali até achar um telefone público e avisar minha mãe que avisasse "meu irmão do meio" que não seria tal como deveria.

Depois de 30 horas, percorrendo os dois trechos, cheguei na cidadezinha próxima à roça e o Sérgio me esperava.
Quando viu a minha mala, balbuciou algo por alguns segundos e entendeu que não seria prático, cômodo, nem inteligente tentarmos uma moto, carona, carro ou bicleta para irmos para a roça, aquela hora: dormimos em uma vizinha-amiga, que nunca vi na vida, mas que trouxe o bom indício de que me sentiria em casa, mesmo após 12 anos e... 30 horas.

No dia seguinte, logo pela manhã, conseguimos carona de carro e fomos. Tia Zai, vovô e vovó nos esperavam de
braços abertos e mesa posta. Também entendi que comeria bem!
Conversa em dia pela manhã, à tarde, depois do almoço, participei com meu irmão do manuseio de adubos e preparação da terra.
Revi algumas pessoas que participavam das minhas férias de Julho, quando criança; conheci outras; relembrei e vi
que embora tenha mudado bastante, com a tecnologia e a energia elétrica presentes, o lugar "continua a mesma coisa"- "mentalidade Senhorita, mentalidade".

Tomei banho no rio. Andei de bicicleta. Comi frango que vivia no quintal. Demos comida aos porcos. Comi biscoito
recém assado em fogão a lenha. Vi como se faz um legítimo doce de leite no tacho. Tomei vinho de garrafa de plástico. Tomei picolé caseiro. Dormi depois do Jornal Nacional. Acordava com os galos. Vi como se planta árvore. Passei por um assentamento de sem-terra. Dei tomé na galinha para ver um de seus pintinhos-amarelos de perto: fofinho!

Compartilhei presente, passado e futuro, com meu irmão do meio. Comi bolo, tapioca e aipim. Cuzcuz.
E voltei, energizada, depois de 18 horas de viagem, entendida de como proceder em caso de paradas, mas sem saber que dali a dias deveria estar pronta para viajar de novo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Antes do recomeço

À toa [1.Impensado, irrefletido; 2.Sem préstimo, inútil; 3.Que não exige trabalho ou esforço; fácil (...)].
Dicionário Aurélio

Foi difícil me levantar. Fosse da cama ou do sofá. Uma semana e um dia de sono e cansaço.

Sim. Não liguei o computador, desligava algumas vezes por dia meu celular e, confesso, deixei o telefone de casa tocar. Sei lá o que deu.

Não foi só a viagem longa, acho que foi uma baixa emocional mesmo. Um "finalmente" seguido de um pensamento paradoxo; algo como "mas muitos deles não vou ver mais". Muita coisa ao mesmo tempo e eu sem disposição e interesse de pensar por alguns dias.

Enfim, quando cheguei e abri a porta do meu quarto, havia fotos, frases e votos espalhados pelas paredes e móveis. Balões coloridos: era festa! "Back home!".
Eram registros de lugares por onde passei, pessoas que conheci e, nas costas da porta, retratos de nós cinco: papai, mamãe e os meninos, com uma lembrança ao passado, que até hoje cai como um ótimo conselho que dizia "férias é folga".

Meu irmão do meio dizia isso quando viajávamos, todo mês de Julho, quando meus pais falavam de trabalho ou quando meu pai se irritava (facilmente) com qualquer ligação que atendia no celular.

Sim! Estava de férias e "férias é folga". E, então, daquele modo, dormi, li, saí muito pouco de casa, tomei poucas cervejas e, somente no outro fim de semana, compartilhei uma garrafa de vinho com meus pais e meu irmão mais velho na hora do almoço. Não queria muito e estava gripada, além da preguiça inerte.

A primeira semana seguiu do jeito que quis, literalmente. No fim de semana, alguns compromissos sociais que até quis dizer "sim" e, principalmente, a um casamento. Bela e estranha a sensação de vê-la entrar de branco, com o príncipe esperando ali no altar, abençoado.
Acompanhei de longe o caminhar do relacionamento, porque primeiro estive em São Paulo, depois Tripoli. Mas nas minhas duas vindas à BH nos vimos, me relatava, estava feliz.
O dia chega. Foi bacana. Que seja...!

Depois, na Segunda-Feira, amanheci bem melhor e fui correr, absorvendo energia boa e na volta parei em uma academia: comecei pilates e atividades de verdade! Quem diria: havia outro eu em mim!

Entre uma lida, conversa, saída, novela e outra, porque não ir para a roça, visitar o Sérgio - "meu irmão do meio" - e meus avós paternos? Parei para contar e havia 12 anos que não aparecia por lá. Sim, era hora. De avião, muito confuso e somente uma vez por semana. De carro, não haveria companhia. Foi de ônibus mesmo: e que viagem!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

(E) Feito Borboleta

Quando eu vi o filme Efeito Borboleta pela primeira vez, não gostei. Não entendi a lógica. Por ali, eu já estava na Faculdade, mas só fui entender a mensagem e acreditar que fazia sentido e era verdadeiro, depois que decidi sair da empresa do meu pai, para seguir um caminho desconhecido, meu, que eu traçaria conforme caminhasse.
Pensei sim - e ainda penso às vezes - no "e se tivesse continuado na Empresa do meu pai?": mas o "se" logo se desfaz.

Nada do que eu pensava para mim, naquela época, aconteceu. Talvez eu tenha colhido algumas coisas, como ter conhecido vários países e diferentes pessoas, mas a forma que isto me encontrou foi de um efeito proporcionado pelo "acaso" e que, então, me fez adorar este filme e, por conseguinte, a Teoria do Caos.

Hoje, sei e entendo que as coisas farão sentido um dia. Pode ser que leve um, dois, dez anos; mas os pontos se conectam e as pessoas se encontram; desencontrando-se de outras.

Esta minha última semana na Líbia foi leve e boa. Não muito diferente do cotidiano, exceto pela Copa. Na verdade, pelo Jogo do Brasil.

A transmissão aqui só pode ser adquirida a partir do canal Al-Jazeera que é a cabo, mas é de outro satélite, diferente do que temos a Globo Internacional.

Assim, alguns se juntaram na casa de uns expatriados, verde-amarelo, balões, bandeira. Chips e nuts! Tudo pronto! Fui direto da academia. Estava de azul e preto, não me lembrei, !

Pegamos carne em casa para assar no pós-jogo. Levei minhas cervejas sem álcool que, se não bebesse naquele momento, apodreceriam na geladeira, porque minhas roomies gostam é de leite: eu já desmamei faz algum tempo!

Com a ótima transmissão, não vimos o primeiro gol, só ouvimos o Go-Go-Go-Gooooooool e começamos a gritar e nos abraçar!: incrível que até quando o momento poderia ser ótimo, dá raiva. Passou.
Dos 90 e poucos minutos, talvez tenhamos assistido 20, mas o segundo gol conseguimos e o da Corea do Norte também.

Há quem diga que fizeram isto de propósito - sabotagem, mas acredito mesmo que foi o vento: uma tempestade de areia ameaçava chegar desde o amanhecer do dia e se fez presente, fortemente, entre o intervalo do primeiro e o segundo tempo.
Mesmo ficando embaixo da tenda armada no Jardim para me proteger do efeito natural, aproveitei para prender o cabelo e reunir de uma vez só toda aquela areia que, quem sabe, serviria como um nutriente e passava fortemente a mão no meu rosto, para aproveitar o esfoliante natural.
Meus olhos ficaram expostos mesmo e nada de positivo pude tentar tirar daquele momento: era muita areia e muito vento, enquanto o Brasil jogava pela Copa!

Tipicamente assim, com o que vivi no contexto Líbio, fecho este ciclo, com muito aprendizado e certa de que várias sensações, principalmente as sentidas sozinhas, mesmo quando fisicamente em volta de outras pessoas, venham acrescentar em um outro momento e espaço.
Mesmo sabendo que para muitos esta decisão é o princípio de um erro e/ou de um desacerto, prefiro acreditar no Efeito sob uma outra forma, mais atemporal, que não foi definida por nenhuma teoria ou caos, mas pela experimentação prática, real e natural da vida:

"Justo quando a lagarta pensou que o mundo tinha acabado, ela virou uma linda borboleta", Lamartine*.

Darei notícias do Brasil!

*Alphonse Marie Louis de Prat de Lamartine: escritor, poeta e político francês.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Fato consumado

"(...) O futuro está no ar
Posso senti-lo em todo lugar
Soprando com o vento da mudança (...).

Se o meu post anterior "Como é que as coisas são ( )" fosse uma pergunta, eu hoje responderia "engraçadas"; para não dizer "irônicas". E, ainda, se eu te perguntasse o que você faria, se você estivesse determinado a fazer algo que todas as pessoas do seu convívio te dissessem para não fazer, qual seria sua decisão? Qual resposta seria? "Depende?".

Bom, hoje estou determinada a sair da Líbia, com um primeiro plano de voltar ao Brasil, resgatar o convívio com alguns valores, algumas pessoas, algumas atividades.

Embora tenha aprendido com a cultura árabe a não ser tão séria e determinada em relação ao que é planejado, eu criei algumas expectativas em relação a mim mesma quanto a encerrar um ciclo por aqui; só que inesperadamente não está fluindo de forma tão clara e leve como pensei que seria.

Quando esta minha decisão saiu do campo das idéias e ganhou data prática, me expus a uma série de conversas que geraram algumas provocações e (re) questionamentos em mim mesma. Mas (me) relendo, principalmente textos que começaram com o que eu pensei para 2010, me voltava a certeza de que estou fazendo a coisa certa, mesmo que esteja apoiada efetivamente por pouquíssimas pessoas neste ambiente.

Mas, voltando às minhas bases, tenho o apoio de todos, sem exceção e, se foi o Gajo Português que disse, com seus mais de 60 anos, que o que aprendeu da vida é que mais do que qualquer direcionamento é verdadeiro seguir o dos seus pais e dos seus amigos; aí, posso te dizer, não há "se" nem "porém" no que eu escolhi para este momento: El presente!

Coloco um ponto final, mesmo que haja vírgulas no caminho ou reticências e interrogações que me façam pausar a pontuação, até que termine a expressão iniciada.

Nesta semana em que o equilíbrio emocional foi posto em cheque e me avaliava quase que por segundo, tivemos Festa Junina da empresa. Pois é. O tempo está voando; e bem diferente do ano passado, não fiz questão de me envolver com nenhum entusiasmo prévio e, para a noite em si, fui como se fosse uma noite qualquer, preparada para encarar um calor intenso, sem brisas de ar fresco.

Ironicamente, há um ano, pairava uma dúvida no ar entre ir e permanecer.

Muito se passou de lá para cá, mesmo que tenha sido somente uma Festa Junina entre o que foi questionado e vivido naquele dia e nesta noite, hoje.
Contudo-entretanto-todavia, como muita coisa é semelhante mas não igual, a decisão também é outra.

"Ainda que neste momento haja algo que incomoda ou preocupa você, não deve abater-se. Aproveite a circunstância e transforme a dificuldade em um estímulo para ir adiante. Tenha confiança no destino que muda sempre, transformando o mal em bem. A sorte é de quem possui coragem". I Ching - Filosofia Taoísta

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Como é que as coisas são ( )

Procure no Youtube: When your mind's made up - Glen Hansard


Entre os parênteses do título, eu poderia colocar um ponto de exclamação, interrogação ou reticências e qualquer que fosse minha escolha, o sentido iria mudar e traria sensações diferentes; mas não caberia um ponto final.

Assim que cheguei na Líbia, entre um telefonema e outro para saudar os poucos com quem me relaciono, fiquei sabendo que o Felipe estava de partida; porque entre outras coisas, estava havendo um rearranjo no Projeto ao qual estava alocado e que em dias se destinaria para um outro lugar.

Aquilo soou para mim como algo completamente inesperado, afinal, nos meus planos e nos deles, eu iria antes: muito antes!

Nos falamos por telefone e só conseguimos nos encontrar na noite anterior do seu embarque, afinal, a diversão no Brasil repercutiu no preço de resolver várias pendências e, principalmente, me organizar, para que eu me libere em breve e siga, para onde quer que seja.

Com os desafios logísticos, marcávamos e desmarcávamos. Na sexta-feira, trabalhei o dia inteiro, literalmente, chegando em casa e capotando como um bebê cansado após seu aniversário de um ano.

Assim, os dias seguiram e fomos jantar com outros amigos dele: da minha "turma", do verão do ano passado, já não tinha mais ninguém - no fim das contas, era só mais um jantar.

O dia amanheceu e eu estava completamente aérea. Sem foco no trabalho, segui para o Aeroporto para encontrá-lo: Ele não vai estar na minha despedida, se houver uma.
Neste um ano e meio de Líbia, as grandes companhias não estão mais aqui e são realmente poucas as que me aliviam e me fazem rir. Vai ser difícil para elas, assim como para mim.

Foi a semana em que tive conversas importantes. Avisei aos Líbios que mais respeito, admiro e considero, que em breve me vou: fiquei feliz em ver que, por mais que tenhamos os entraves na comunicação, tornamos possível um relacionamento verdadeiro, duradouro, bom e inesquecível!

Conversei com os líderes do Projeto. Com meus pares. Com pouquíssimos amigos e é isso mesmo: em breve, sou eu do lado de lá!
Depois do Felipe, me despedi de uma outra pessoa que a partir de ontem sairia de férias, com quem não encontrarei em breve, porque quando ela voltar já vou ter saído.

Semaninha difícil, mas como diz a Habiba, é só o começo e, acrescentaria, que é o meu e de muita gente; com a espera de que tenhamos todas as pontuações, menos (o ponto) final.


Do Início: Somos o Tico & o Teco.



Do caminho:


Da continuidade:







sábado, 22 de maio de 2010

Virada Cultural

Leia ouvindo: Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal (já vai saber porque).

Acordei e faltavam quatro horas para chegar em São Paulo. No mapa, o avião passava por Fortaleza - já no Brasil, se não me engano.

Dessa vez a ansiedade não apareceu para dizer "Oi", mesmo sendo lembrada, em segundos, que aquilo só era do conhecimento de uma pessoa: meu irmão mais velho.

Isso mesmo: decidi fazer surpresa e chegar repentinamente ao Brasil, dando-me de presente a minha mãe, principalmente, porque o Domingo que seguiria depois daquela Sexta-Feira e Sábado seria dela!

Foi emocionante o arriar das minhas malas, ainda que pudesse ver e rever pouquíssimas pessoas; afinal, o tempo se põe cada vez mais curto para emoções que despertam o prazer e a felicidade momentânea a cada abraço.

Assim, neste clima alegre, eufórico, surpreso, tomava fôlego a cada vez que alguém abria a boca, mas não muito, e falava algo como "ó. Uai. Como assim, gente?", particularmente mineiro!

O fim de semana veio com reunião familiar, muita comida boa, vinho e cerveja. A semana seguiu com afazeres burocráticos, dormidas sem compromisso depois do almoço, andanças pela cidade para se observar as mudanças e as continuidades, corridas ao ar livre, restaurantes, bares, jogos de futebol e, então, avião... .

Dali segui para São Paulo para tentar articular alterações para um futuro próximo e afirmar a certezade que a cidade, mesmo sendo "uma panela impermeável de concreto", me chama, me atrai e me joga na cara que temos muito o que fazer. As oportunidades estão ali, escancaradas, e a nossa leitura depende da compreensão daqueles que se disponibilizam a olhar com boa perspectiva.

Revi outras pessoas. Repassei o passado e vi que realmente passei dele. Que o presente é sim continuidade da semente plantada, mas o fruto é muito mais maduro do que a semeadura.
Admirei quase que como se fosse pela primeira vez a liberdade: a leveza de se ir-e-vir quando se quer e, em uma dessas saídas, caí na Estação da República, com a sensação de que tinha sido despejada em um grande centrão da Índia ou China, sei lá, devido a quantidade de pessoas que transitavam em direções iguais ou opostas a minha.

Estava ali porque assistiria a shows, à Virada Cultural de São Paulo. Minha ida caiu exatamente no fim de semana em que haveria apresentações gratuitas por 24 horas, a céu aberto. E eu, completamente linerar, fui virada, de fato: era show do Sidney Magal! Seria péssimo, mas foi ótimo. Muito engraçado e alegre e, entre amigos, não tem preço - mesmo!
Os dias passaram, não tão rápidos, mas o suficiente para ter conversas importantes, para dar outros abraços, comer pastéis, coxinhas, comida japonesa e tudo o que aparecia pela frente: anhac!

Tempo para rezar e agradecer: Amém!

Depois, entre uma madrugada e outra, fui para o Rio, fechar com chave de ouro essa ousadia toda em tentar me surpreender. Lá, mais do que qualquer outra coisa, fui assistir, me envolver, contribuir, para-com o 3o. Forum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade: que preenchimento! Discussões e apresentações riquíssimas, com novos questionamentos e reflexões. Novos acessos. Novo compartilhamento de informação. De notícia. De direcionamento.

Tietagens à parte, é impressionante a sede que tenho de inspiração e de colocações como aquela. Em apenas um dia, veio tudo à tona novamente e, então, a releitura dos meus objetivos e caminhos.

Mas, sem pressa, o importante é continuar em frente, no compasso do momento. Do presente.

Falando em presente, não pude ficar o dia seguinte, para o encerramento do Fórum, porque precisava fechar o ciclo iniciado e voltar para BH. E foi um dia bom. Melhor ainda, por estar pronta para recomeçar, onde quer que seja, com o que quer que seja.

Os planos, à princípio traçados e tomados como verdade, não ficaram tão lineares assim. Sofreram turbulências durante o passeio. Passaremos por uma manutenção e recauchutagem, para definição do próximo destino a ser seguido.

sábado, 1 de maio de 2010

Necessita-se de intervalo

Embora já esteja nesta página, vale o reforço: "É preciso andar com cuidado e com olhos atentos, pois a beleza aparece em lugares escondidos e inesperados, e o seu tamanho é tão diminuto que quase não é vista". Campos e Cerrados, Rubem Alves.

Eu estou ocupada e você também. Trabalho seis dias da semana, corridos. Talvez você fique um sábado ou um domingo, a cada quinze dias. Não importa tanto. Estamos, boa parte de nós, reunidos em um tempo cronológico eufórico.

Dizem que nunca tantos jovens se importaram tanto com o papel social que podem desempenhar, com a ambição por experimentarem algo diferente e, do fruto colhido, fazer algo melhor.

Não que eu duvide disso, mas eu acho que toda geração se diz "nunca se viu antes na história". Claro que (talvez) não, porque a gente evolui, é natural. O nosso diferencial hoje é que é mais rápido e, sendo rápido, podemos perder alguns detalhes.

Quando escolhi fazer Jornalismo, em 2002 - ano do temeroso vestibular - achava que queria fazer tevê. Diziam que escrevia bem e, em alguns trabalhos na escola, os professores, principalmente de Humanas, me orientavam para a Justiça ("Direito") ou a Comunicação.

Naquela época, pouco sabia do real poder e influência que comunicar podia determinar; seja um grupo de pessoas, uma decisão em família, uma revolução social. É forte. E, naquele momento, comecei a refletir que talvez ela não seria mais o Quarto Poder, mas o Primeiro.

Logo vi que tevê gera um impacto maior, é mais visível e, quase que em paralelo, vi, como voluntária em um jornal impresso, que fazia cobertura às necessidades da comunidade que vivia em torno da faculdade, que abdicaria do aparente luxo televisivo, pois me acrescentava estar mais próximo a pessoas que pudessem me ensinar mais; provocar em mim algo inquietante e não linear.

Passado à parte, em conversa esses dias com a Milinha por MSN - ferramenta de comunicação em tempo real ;) - falávamos dos nossos sonhos, há dois anos, quando em São Paulo, e o caminho que tínhamos percorrido desde então e que terminávamos, eu, revendo essa vontade de estar fora do Brasil e, ela, em Porto Alegre, trabalhando como Jornalista, comunicando para muitas pessoas que um avião com o presidente da Polônia havia caído, que o Serra confirmou a candidatura, que o Rio virou um mar de lamas e etc e tal.

Sem intervalo.

Nesta mesma semana, em casa, coloquei minhas roupas para passar e, como não encontro a moça - ela chega eu já saí, eu volto ela já saiu - o código é: roupas e cabides em cima da mesa, um dinheiro por ali; sinal entendido, volto à noite do trabalho, as roupas são encontradas devidamente prontas para serem vestidas.

Dessa vez, não foi assim. As roupas continuavam do mesmo jeito que eu deixei e, pelo jeito que os cômodos estavam, tive certeza que a moça tinha ido. Intrigante. Coloquei mais dinheiro.

No dia seguinte, nada. Fiquei maluca de raiva e a única coisa que consegui pensar foi "será que ponho mais dinheiro?". E, enquanto abria minha mochila para pegar, minha rommie disse:
- Ela deixou um papel, o que será que está escrito?
Eu: - Sei lá, mas é óbvio que não vou entender. A gente não fala árabe e com certeza não está em Inglês!



Eis que:




Sim!! Estava faltando o ferro de passar roupa, que estava em um dos quartos fechados, que ela não podia pegar! Portanto, eu poderia colocar mais dinheiro que ela não faria o que eu precisava =)


E eu, letrada, Jornalista, comunicativa, falando mais do que o meu idioma, com todas as qualificações que dizem e, reconheço; só consegui pensar em algo que nada dizia, supondo uma razão inexistente. Bem-feito para mim, mas dei boas risadas da inteligência, perspicácia, esperteza, criatividade e comunicabilidade da moça.
Se estivesse na minha frente, dava logo um abraço e pedia desculpa, passando o recado de quão belo achei aquilo.

E, sim, é o Primeiro Poder, carente de intervalos de respiração, para que se siga no ritmo demandado.


sábado, 24 de abril de 2010

Olha, será que ela é moça?*

Tempo [Do lat. tempus, pela f. tempos, que foi sentida como um pl. port. de que se tiraria um singular]: A sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro; Momento ou ocasião apropriada (ou disponível) para que uma coisa se realize; Época; As condições meteorológicas; O período em que se vive; época, século (...).
Dicionário Aurélio

Voltamos à época em que o Sol aparece cedo e vai embora mais tarde, mas não me remete como uma repetição de dias já vividos, no ano passado.

O ambiente está diferente, as pessoas mudaram, há gente nova e recém-chegada, há indefinição de tempo e às vezes de espaço.
A rotina vai-e-volta, mas com aspectos diferentes. O trabalho, no dia-a-dia, já não é mais o mesmo, mas continua aumentando e se tornando intenso; e nem a academia pede os mesmos movimentos.

Entre o despertar e o adormecer do Sol, as horas têm passado como se fosse em segundos e os minutos se tornam um apanhado mínimo da fração deles.
Só percebo a rapidez destas passagens, quando a TV anuncia o Programa do Faustão ou o Fantástico que, sendo apresentados semanalmente, despertam a pergunta em mim: "Outro? E, de novo?".

Não procuro entender a sensação das 24 horas terem se tornado metade do todo, um terço ou o que seja, mas neste frenesi, sem muito tempo para olhar para mim mesma no espelho, um dia, observando meu reflexo no vidro da academia, enquanto aproveitava a oportunidade da válvula de escape, me vi grisalha - e não é exagero: acredite!

Os poucos fios que nasciam brancos a partir da minha mudança para São Paulo agora são muitos, se multiplicaram e parece que vários deles, negros, estão se tornando branco. Portanto, não há só aqueles que nascem, mas os que se tornam. Levei um susto e fui compartilhar a emoção, quando um dos meus receptores disse "Ah sim, você tem vários; olha mais aqui. E aqui em cima, vire para este lado. Ih, dá para ver de longe já. Brilha! Já tinha visto outras vezes": Ai, que alegria!

Cientificamente, sei que os cabelos brancos surgem como uma consequência do processo natural de envelhecimento, em que as células pigmentares que dão tons aos fios param de produzir melanina (pigmento do "folículo capilar") - que chique!

Enfim, não vou pintar. Pode ser que vire charme, com o passar do tempo - vai saber. Tempo este que tem sido compartilhado por todos e, de novo, não sou só eu.

Uma das Líbias que trabalha comigo veio me apontar alguns fios também e, em tom de brincadeira, disse a ela "Sim, estou velha". E ela, na mesma graça, respondeu "Eu também tenho. Use véu e ninguém vai saber".

Que véu que nada, me desculpe, quero que eles façam parte das contagens dos anos, como uma boa referência da experiência e prática vivida. Da constatação da intensidade do tempo.

Curiosamente, neste intervalo todo, fui agraciada por dois e-mails oportunos. Um era questionador e o outro poderia ser, sem saber, a parte reflexiva que responderia a boa parte das perguntas levantadas.

O anônimo-atrevido escreveu: "Qual seria a sua idade se você não soubesse quantos anos tem?".
O Mario de Andrade, sábio e lúcido, ponderou: "Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro".

Eu diria que eu sou o que eu tenho, dentro da capacidade de ser, que é verdadeiramente incontável, imensurável, atemporal e incolor; afinal, "não é pelo que se vê, e sim pelo que não se vê".

sábado, 10 de abril de 2010

Pelo Tempo que Durar

Leia ouvindo, Podes Crer, Cidade Negra.

Ela pediu para que eu relesse a aplicação dela para o Mestrado nos Estados Unidos. Me inspirei. Uma outra disse que iria ao Brasil, ver os pais, e que seria bom conversarmos naquele café.

O pai de uma delas segue mal no hospital e, compartilhando a dor, disse que rezaria por todos. Depois, uma outra remetente me disse que seu avô havia ido. Todas nós nos acalentamos e no fim deixamos uma mensagem positiva e terminamos por rir.

Um amigo teve um imprevisto e voltou voando - literalmente - para o Brasil, depois de um susto que a mãe levou.

Um outro e-mail chegou trazendo a mim a mensagem de que um deles largara todo o conforto da "vida fácil", o salário certo no fim do mês, para abrir uma ONG e pagar o preço por ser feliz.

Trabalhando na China, estudando nos Estados Unidos, sendo reconhecido na Costa Rica, desafiando-se no Chile ou Colômbia, enfrentando as barreiras culturais mesmo falando a mesma língua portuguesa, terminando namoro, começando outro, abandonando o estudo tradicional, abandonando as viagens corriqueiras, mudando de cidade, casando e fazendo filhos; se envolvendo com causas sociais, enriquecendo-se dentro da causa privada, estudando para Concurso Público, tentando mudar o Governo; chorando pelo time de futebol que perdeu e ganhou, de novo; na dúvida se compra um carro ou faz uma pós; se termina o novo namoro ou se vai para a praia; se faz processo de trainee ou conhece a Austrália; se chora por alguém ou se ri por vários outros; se lembra da novela com pizza ou da ressaca da gandaia.

Saudade.

Tudo isso é sentimento compartilhado.

Videos, poemas e mensagens que dizem muito mais do que a conversa no bar, talvez.

O show que ela foi e eu ouvi dizer. A viagem que fizeram e faltaram algumas na foto. Aquela que optou pelo caminho inverso e chegou mesmo assim. Aquela que tem aparecido em Revistas por bons princípios e que tem colhido o resultado das sementes plantadas na aula de ciências, lá na 6a. série.

Ela que vai para a França, receber um prêmio.
Ele que virou gente-grande.
Ela que virou mulher.
Ele que me pediu recomendação para sair da Bélgica e voltar para a Suíça.
Ela que abriu uma loja.
Eles que abriram uma boate.
Eles que casaram e não fui. Eles que vão se casar e irei.

A nós todos, pela amizade e pelas piadas. Talvez o ser "por e-mail" diminua para alguns e aumente para outros. O que importa é contar. Contar comigo para contar. Contar contigo para te contar.

Foi no Sri Lanka que ouvi do Gajo Português: escute a todos, mas só faça aquilo que ouvir dos teus pais e teus amigos. Teus verdadeiros amigos. A eles cabe considerar. Contando com eles, tens com quem contar.

Estou repensando sobre os barcos, porque acho que estou vendo do porto e, para toda costa, há aqueles que para uns partem e para outros chegam: "Podes crer, eu tô falando de amizade".

sábado, 3 de abril de 2010

E os sapatos que não me cabem?

Outro [1. Diverso do primeiro; diferente de pessoa ou coisa especificada; 2. Diferente, diverso,distante (...); 4. O resto; o restante (...)].
Aurelio

Não sei se é do ser humano, mas acho que é de várias pessoas, inclusive de mim mesma, achar que estamos em situações únicas e que, algumas vezes, só nos damos conta que não estamos tão mal ou tão bem assim, quando criamos oportunidade para entender uma outra pessoa e conhecer uma situação diferente.

Acho que sempre pensei assim, ou pelo menos sempre tentei. "Assim" que eu digo é sob a perspectiva do outro. Não que algumas coisas se justifiquem, mas acho que quando você tem a visão do lado de lá - talvez isso seja um ponto curioso que tenha me feito estudar Jornalismo - você critica menos, ou critica fundamentado no que falta ou excede; no equilíbrio do que é bom e ruim.

É difícil a afirmação, por isso, principalmente no dia-a-dia, acabamos por nos colocar como sendo únicos e injustiçados - ou felizardos - de um modo geral, sem necessariamente olhar para quaisquer lados: - teríamos nos tornado individualistas?

Reflexões (vagas) a parte, tenho alguns (bons) exemplos que me acalmam, me confortam, me fortalecem, me inspiram e me motivam, por me mostrarem de que não, não sou só eu e meu umbigo:

A Conina está na Polônia, trabalhando para uma senhora empresa de Petróleo, depois de ter trabalhado com cultura, na Índia. O Marcelinho está na Costa Rica, trabalhando para uma monstruosa indústria farmacêutica. A Milinha esteve em Paris, trabalhando para uma recauchutada empresa de telecomunicação. Lorão ainda está na cidade Luz, fazendo mestrado; redescubrindo-se na vida de estudante europeu, ao contrário da Amanda, que após terminar um semestre em Direito Internacional, voltou para casa. A Lora está em um Banco Holandês, perto da Anna, na Bélgica. Cacá, na Suíça, em um Banco de origem daquele país, mas em cidade diferente da Beta, que antes de desembarcar no País do Chocolate para uma missão pela ONU, esteve em uma árdua tarefa quando em um trabalho volutário, no Quênia. Sister está na Itália, para uma empresa de telefonia (móvel). Leo, na Romênia. Chefitcho, na Suécia, mais ao Sul, de onde está o Kabelo. A fofa-da-Aline está no tremelique do Chile e a Ju, comendo pastéis de Belém, naquele que nos colonizou. Cissinha já-já volta da Hungria, mas não sei se o Henrique volta de lá. O Delfa, no México, fica ainda uns três anos, eu acho. Meu irmão está no sertão Baiano, para onde a Lubi vai em breve. A Duda se mudou para São Paulo, por onde a Marcela vive há anos, um pouco depois que nós saímos do colégio. A Fernanda foi há pouco mais do que um/dois anos - já perdi a noção do tempo!

Neste discurso vai a vida, etc e tal. Mas e aí?

E aí que todos eles passaram, passam ou vão passar pela experiência, como se brincassem na montanha-russa:

Começa devagar, tem uma descida brusca que parece desesperadora, mas impulsiona para cima, porque se pensar bem, há um leve prazer naquele caos e, depois, volta a ficar devagar, pela subida que se repete. Raramente há momentos lineares. Cada um com seu sapato teve que entrar no carrinho para ver o nível da emoção. Umas mais íngrimes, outras nem tanto. Outras com quedas de 90 graus, praticamente queda livre. Algumas bem motorizadas e modernas, acolchoadas. Outras velhas, nada confortáveis, mas que proporcionam diversão e receio que, no fim, fazem seu papel de entregar a experiência prometida.

Cada um com seu sapato, ali. Cada um com seu umbigo. E é aí que eu entro com meu pensamento e agradecimento de que eu não sou a única a gostar deste tipo de sapato: há consumidores com uma linha de escolha parecida com a minha, embora não igual. E, se é parecida, eu posso pensar no porquê da escolha daquele produto que não necessariamente é melhor ou pior; é simplesmente o resultado de uma decisão.

Ah, será que gostaria mesmo de experimentar o calçado deles? Diferente, mas compreensível.

Enfim, entendendo que não importa onde, nem como, mas todos nós, muito provavelmente, sentiremos falta e colocaremos questionamento nas mesmas coisas e, no final, vamos às mesmas lojas em busca dos mesmos sapatos. Uns mais coloridos, outros maiores, uns descobertos. Mas nenhum desconfortável o bastante que te faça optar por andar descalço - não enquanto se está na montanha-russa:

"(...)Pare e pense no que já se viu
Pense e sinta o que já se fez
O mundo visto de uma janela
Pelos olhos de uma criança

Você sabe
Que o sentimento não trai
Um bom sentimento não trai(...)".
O Erê, Cidade Negra

sábado, 27 de março de 2010

Daquela que foi

Sem Youtube, Leia ouvindo Stairway To Heaven - Led Zeppelin:

- Babi, vamos para o deserto de novo; anima?
- Opa!
- Mas dessa vez não vai furar, hein?

Felipe me ligou no meio da semana e como já tinha dito "não" da última vez, disse "sim" desta para quebrar a monotonia: como estou chata!.

Na quinta, saí do trabalho meia hora antes do horário previsto, fui para casa, peguei cobertor, moleton e otras cositas más; tomei banho e segui para o Aeroporto.

Éramos 17 pessoas, quatro mulheres, seis nacionalidades. Não tinha a mínima idéia do que esperar e foi muito bom, porque realmente fui bem surpreendida e, por ora, está em uma das melhores viagens que fiz.

Chegamos em Sebah - saindo de Tripoli, pelo mapa, desça em linha reta em direção ao sul do País; dê uma olhadinha para a esquerda: é lá - e logo que o portão do desembarque se abriu havia um legítitmo Tuaregue a nossa espera: barba grande, turbante, vestido de pano branco, com sandálias. Era o Otman. Naquele instante, não senti medo, porque o Tonito, Sul-Africano que organizou a aventura, já tinha estado lá anteriormente com ele e disse que podíamos confiar. Ok, né? Já estava ali e, adiante, era rezar.

Seguimos em cinco Jeeps por uma estrada de asfalto e o destino era o acampamento em meio a dunas de areia, não mais que 30, 40 minutos. Caminho escuro, a lua estava tímida, não cruzamos com outros carros e não se via nada pela janela. Absolutamente nada!

Em determinado momento, avistamos uma barreira policial e Otman parou. Entendemos que, com o intenso trânsito ilegal de pessoas pelo país e, sendo o deserto bem extenso, teríamos que apresentar uma carta - de alguém - dizendo que tudo bem e que só queríamos passear por ali. O Tonito apresentou a tal carta, virou-se para trás e disse:

- Babi, para todos os efeitos você não trabalha no seu Projeto. Você trabalha em outro.

Que alegria!

Como tudo que envolve polícia, ainda mais em um país estranho, foi tenso. Blablabla. Olhares. Enfim. Liberado. Ufa.

Barreira rompida, em alguns minutos entramos nas areias, que só senti, pois não via nada. Não sei como, e nem vou saber, mas chegamos ao acampamento. Do nada. Sem qualquer placa ou referência. Alegria, música, friozinho e lareira. Alguns outros sete já estavam lá, porque tinham ido logo depois do almoço. Nos acostamos, pegamos colchões, saudamos a todos e aos outros quatro Tuaregues.

As 22 horas já se aproximavam e a pergunta era: "e o jantar"?:

- Fizemos supermercado antes de vir, Babi - diz Felipe.

Logo, Otman e os amigos pegaram farinha, ovos e água e, com várias mãos, uma massa de pão estava pronta. Formato decidido, começa uma das experiências mais interessantes das quais já participei: pegaram a brasa da lenha da fogueira, esquentaram uma parte da areia, cavaram o pão nela, literalmente, e ali ele foi assado - por quase duas horas!
Enquanto o forno natural dava seu jeito, picaram tomate, cebola, alho e abriram latas de atum.

Às 2h da manhã, com a lua naquele momento totalmente tímida, coberta por nuvens, com o frio apertando, sentamos todos e, já não me lembro como - talher, mão - comemos e, para mim, nada saboroso, até porque, o delicioso pão árabe naquela noite estava absurdamente areado =)

O dia amanheceu, fizemos ovo cozido, compartilhamos o pão dormido, empacotamos e seguimos para o real objetivo daquela viagem: quebrar a rotina, conhecendo o deserto e encontrando com o oásis!

Dali de onde estávamos seria 80km pela estrada de asfalto, no sentido contrário à barreira policial, e 25km pelas dunas. Logo que começamos pela areia, os nossos motoristas-tuaregues e, portanto, guias, resolveram parar para esvaziar o pneu, explicando-nos que precisavam tirar 1kg de ar de pressão multiplicado por xis outras medições - e isso tudo em árabe. Não entendi bulhufas!
Neste momento, Otman disse para segurarmos firme no "puta-que-pariu" (perdoem meu Francês) e pediu que usássemos cinto de segurança. De novo, não fiquei preocupada e tudo o que sentia era: Uhuuuu, ia começar o meu Rally Dakar!

Em todo o trajeto - das 9h às 16:30 - tivemos três paradas fantásticas, sendo a última surreal:

- 1a.: Areia por todos os lados, cinco carros e um baticum eletrizante. Era tanta adrenalina, que o medo desistiu de se pronunciar e riu de si mesmo. Entre as subidas-e-descidas, chegamos a um ponto alto de onde achei que íamos despencar, mas logo que o campo de visão foi aberto de novo, ali estava uma área verde, linda, que envolvia um lago seco: deslumbrante!

Fotos tiradas, todo mundo babando, entramos para o carro de volta e encontramos o primeiro cenário imaginado por mim quando se falava em oásis. Ali, foi rápido. O tempo já corria contra nós e Otman disse "Vamos para Gebaren".

E fomos: Inacreditável!

Gebaren (lê-se Gabron) ainda se dispõe fisicamente como uma cidade antiga, com casebres e vários Tuaregues que vendem artesanato para quem quer que visite o local. No "bar" existente, pode-se alugar pranchas para fazer "Sandboard".

Em meio às dunas há um lago, verde; tão verde quanto a vegetação que o circunda; mas a água é um verde-esmeralda; lindíssimo!

Estirei minha canga, deitei, agradeci, fiquei emocionada pela delicadeza dos traços naturais e pela perfeição da composição da imagem e, com o calor, só queria ficar de biquini e dar um tibum na água. Que nada! Tuaregues, tuaregues! Foi de calça e camiseta mesmo! Se não tem tu, vai tu mesmo!

Esta caída n'água, diferentemente da sensação em ver um pão debaixo da areia quente ser assado, provocou em mim uma das estranhezas mais difíceis de assimilar que já tive:

Com o forte calor, a evaporação é alta, havendo muito sal e minerais; então, tentava mergulhar e empurrar meu peso para baixo, sem sucesso. Boiei naturalmente!
O sal irritou muito os meus olhos e minha boca praticamente estourou: pá! Sensível já pelo frio da noite anterior, aquele pulo dentro d'água foi a gota que faltava. Ainda, do joelho para baixo a água é quente-quente e, do joelho para cima, muito fria! Era tanta coisa ao mesmo tempo que molhei meu cabelo e saí; mas, enfim, posso dizer que mergulhei num Oásis - que dizem dar a mesma sensação do mar Morto: será?

Saindo, me vi absolutamente branca: ó sal! E cadê o chuveirinho depois da praia? E a barraca para secar e trocar? Tuaregues, tuaregues!
Muito homem, grande maioria local ou, mesmo que não fossem, eram muçulmanos, e não dava nem uma cabaninha protegida por mulheres.

Desafios logísticos à parte, sem detalhes, fiquei com boa parte do sal no corpo e, pior ainda, no cabelo.

Passamos um pouco da tarde conversando e vendo nossos guias prepararem macarrão com atum, que ficou muito bom por sinal - sem areia - e dali seguimos pelo deserto, até o Aeroporto, de volta.

Otman ficou sabendo que o posto para encher pneus tinha fechado e que, então, faríamos todo o percurso pelas dunas: ai minhas costas!

Algumas paradas para desatolar alguns dos carros que estavam conosco, mas no fim, tudo certo! Tanto, que não vi serpentes, lagartos, escorpiões ou camelos: "Tudo na mais perfeita ordem; tudo na mais santa paz".

Depois do banho de sal (não necessariamente grosso), não há porquê não recomeçar, com energia boa: a semana promete!

sábado, 20 de março de 2010

O que importa é o seu dia-a-dia III?

Em inglês:

- Alô, por favor, gostaria de falar com a Eman?
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
- Oi?
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Sou euuuuuuuuuuuu, Fátimaaaaaaaaaaaaaaaaa.
Como você estááááááááááááá. Aaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
- Desculpa-me. Mas não sou Fátima. Aqui quem fala é Bárbara, trabalho no RH da...
Tu. tu. tu. tu.

sábado, 13 de março de 2010

A hora do sim é o descuido do não*

Acomodar [1.Dar cômodo a; alojar: 2.Pôr ou dispor em ordem; ordenar, arrumar (...). 4.Apaziguar, acalmar, serenar, aquietar (...); 7.Adaptar, afeiçoar, afazer (...). 16.Dar-se por satisfeito].
Dicionário Aurélio

Parece que a ida à Tunísia foi boa: Assim que cheguei do Sri Lanka, recebi a notícia que dali iria para a Jordânia, como continuidade do que tinha sido começado, para uma oficialização da parceria prática com aqueles dez representantes para os quais nos apresentamos.

Como tudo na vida, foi bom e ruim: bom porque não deixa de ser extensão de uma oportunidade que vivenciei e que tinha repercutido em frutos esperançosos e; ruim, porque eu estava muito cansada. Ainda estou. E o que eu menos queria era desfazer fazendo mala e esperar pelo tempo que fosse, em qualquer aeroporto.

Eu gosto de viajar, mas adoro voltar para casa; rever minhas coisas, recomeçar pela rotina, contar casos, compartilhar fotos e planejar a próxima partida.
De supetão, me desestrutura um pouco!

E aí, na dúvida da certeza, voltando atrás para recuperar o tempo suspenso, o trabalho transbordava e a pressão levava a um esforço transpirante.

No ensejo de ignorar a diferença de horários e hábitos, retomando o que eu esperava, a Jordânia realmente ficou para a próxima - nossa participação foi confirmada, mas outra pessoa iria - e o descanso era meu único destino: dormir até tarde e ficar de pijama.

Mas, como a história se repete e somente os personagens se alteram, como já havia lido, concordado e creditado, o nada é um luxo!, que dificilmente tem me pertencido.
Já não me recordo uma semana tranqüila ou o deleite de curtir a quinta-feira à noite e a sexta-feira como dias leves e tão pouco passageiros.
Mais uma vez, eu, com minha mania em não dizer "não" e a não me colocar limites, fiz a rotina da academia após o trabalho e a recaptulação das novelas; dormindo "tarde", mesmo quando não podia mais.

Sem me posicionar, a quinta chegou com dois convites e, seguida dela, a sexta com mais dois. Antes de sair, o sofá bem que me puxou, mas a teimosia pesa mais e logo me levantei dali: rua!

Hoje, pensando nisso tudo (agitações e idas-e-vindas) e me acomodando em um processo de sono atrasado, me dei conta do quão para trás estou em outros assuntos: nos e-mails pessoais, nas leituras vagas, no livro que me espera escorado na cabeceira da cama, que já recolhe poeiras, nas citações que fiquei de reler e, sobretudo, no planejamento da próxima viagem.

Paradoxal.

Nesta fração de segundos em que os pensamentos soltos se juntaram como na rapidez da formação de um feixe de luz, fui embalada pela abertura da novela Viver a Vida que resume bem
essa confusão e que me alivia em aceitar, por ora, que estou cômoda, no que quer que seja este momento:

"Sei lá, sei lá, só sei que é preciso paixão.
Sei lá, sei lá, a vida tem sempre razão".
Toquinho e Vinícius*

sexta-feira, 5 de março de 2010

Namastê!*

Foi até bom o Mister Kang ter feito o alerta quanto ao exército nas ruas, porque comecei a ver os oficiais já mesmo dentro do Aeroporto, carregados, cada um deles, com metralhadora. Não que gerasse medo, mas é incômodo e mal sabia eu que, uma vez em Colombo, a cada momento, nossa van seria interceptada por alguns deles a checar documentos.

Diferente de Bangkok, a chegada não trouxe nenhum encontro espetacular de boas-vindas e embora não apresentasse nenhum visual altamente tecnológico, comparativamente, o Aeroporto é um pouco melhor do que os de São Paulo. Precisamos melhorar muito, principalmente porque temo-nos colocado em voga no cenário mundial e, como toda porta de entrada, é preciso mexer na infra-estrutura Brasileira.

Divagações à parte, a experiência no Sri Lanka foi um caos e, de novo, muito engraçada.

Dessa vez, quem nos acompanhou para a seleção de trabalhadores foi um Português, inteligentíssimo e sarcástico, do jeito que eu gosto: aprendizado rápido e leve. Trouxe consigo dois livros e já nos três primeiros dias já os tinha lido, estava por dentro do que acontecia no mundo e tinha como embalo à noite as notícias veiculadas pela CNN, dando-nos o resumo depois do café-da-manhã.

Também viajou boa parte do mundo e continua a trabalhar pelas netas. Tem um senhor valor à família: gostei do gajo, ó pá!

Profissionalmente, era uma surpresa a cada dia e as pessoas que nos esperavam não estavam nada preparadas para o feito e; por mais que planejássemos o dia seguinte, voltávamos à noite ao Hotel, para jantar e dormir, com a certeza de que aquelas belas colocações ficariam no papel.

Com tantos desafios inesperados, Sri Lanka vai entrar na lista dos próximos, mas realmente não acho que retorne, a não ser que haja uma conexão para as Ilhas Maldivas.

Colombo, por si só, é uma cidade aparentemente sem qualquer apresentação da cultura e é tradicionalmente como uma outra cidade grande desprovida de organização.
É ocupada por um povo sofrido, simples e boa parte abaixo da linha da pobreza.

O mar não necessariamente é serventia para um banho e descanso e, na orla, vê-se muito da Índia,com as mulheres e senhoras cobertas por seus saris vivos, que refletem a luz do sol, sendo boa parte delas e de seus familiares dispostos de uma pele com coloração única, que nos remete ao passado e a mistura da qual resulta o Brasil.

Não vi uma distinção clara entre ricos e pobres, quando todas as ruas parecem iguais, sonorizadas com muitas buzinas e algumas vacas por ali. Poucas, mas existentes. Em meio aos carros e aos saris desfilantes, há muitos triciclos que se dispõem como um veículo de transporte mais barato, ágil e, portanto, pouco seguro; envoltos a uma curiosa e, porque não, irônica publicidade por todas as esquinas, contribuindo para uma poluição visual que há muito tempo não via tão exaustiva.

O Sri Lanka fecha, em mim, um ciclo de viagens com muitos questionamentos e poucas respostas, mas, sobretudo, com uma inspiração e várias imagens boas e engraçadas, daquilo que podemos dividir e, então, voltar melhor do que saímos, sempre.

Para compartilhar a graça da simplicidade, logo no primeiro dia, fomos a um centro de teste longe do movimento comercial de Colombo. Estávamos, literalmente, no meio de um grande mato e demoramos quase uma hora para chegar lá. Eu e minha bexiga começamos a ter um impasse. Quando estava quase prestes a soltá-la, pedi que me levassem a algum lugar em que pudesse aliviá-la. Prontamente os agentes pediram para que eu entrasse na van e o motorista me levaria a um banheiro, propriamente dito.

Os 15 minutos bateram no relógio e o que eu via, pela janela, eram casebres e a imagem que tinha do que deve ser a Índia e do que é boa parte das regiões carentes no Brasil. E não via nada que pudesse me apresentar o tal banheiro.

Por fim, a van parou em um acostamento, onde havia cinco homens em pé, conversando. O motorista desceu, não fez sinal para que eu fosse, falou algo na língua deles e, então, minha bexiga gritava. Desci correndo, sem poder falar nada, porque não poderia fazer qualquer movimento, além daquele de segurar(...). Vi um casebre e ali entrei correndo. Dei de cara com uma senhora muito magra, com seu sari velho, amassado e já sem brilho. Ela sorriu, com pouquíssimos dentes, me deu passagem, tropecei em um gato, vi uma porta para uma fossa e fui. Ó, divindades budista, obrigada por esta oportunidade!

Saí, aliviada, achei uma torneira que pingava lentamente uma gota por alguns segundos e, então, a senhora voltou, rindo muito daquilo tudo.

Naquela hora, pude ver a extrema pobreza daquele casebre que abrigava mais que as cinco pessoas que lá fora estavam, com uma porção de arroz e alguns vegetais que logo compartilhariam para o almoço.

Saí e o motorista estava com uma cara incrédula. Ainda não entendi se aquele era meu destino ou se ele tinha parado para perguntar qualquer informação. Não pude esperar. E foi assim, sem pedir licença, que fui muito bem recebida por aquela senhora, a quem esteve a me olhar de longe, até que a van se desfizesse em meio a poeira da estrada de areia.
Nos dias que seguiram, me preparei antes de ir, para onde quer que fosse e, sob este aspecto, tudo correu como planejado.
*Um pouco diferente da Índia, Namastê, no Sri Lanka, tem um sentido de "que você tenha uma vida longa". E esta vai para a senhora que me acolheu, quase sem saber.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pó-Léu

Entre Tunísia e Tailândia, preferi ler outras coisas, fazer o relatório da primeira visita, ao invés de ler sobre o país e sobre Bangkok. De praxe, não arrependi por não ter sido mais interessada, mas ao mesmo tempo fiquei com aquela sensação de quem acaba de cair de pára-quedas: Uow! Onde foi?

O que mais tinha claro em mente era a suposta figura do agente que nos receberia, com quem havia falado algumas vezes por telefone e várias por e-mail: o Mister Kang.

Imaginava-o como um de nossos trabalhadores Tailandês ou Vietnamita, mas tive a surpresa de que ele é Coreano.
Com um bom vôo entre Istambul e a Cidade dos Anjos, tive uma semana leve, com muita risada, ótima alimentação, recepção e alguém para se guardar:

Mister Kang é aparentemente como imagino ser o Silvio Santos; simples, espontâneo, tranqüilo e esperto; vivido, engraçado; muito engraçado e, tomara, um avô bacana! De estatura média-baixa, esbelto, com olhos pequenos que engrandecem por trás das lentes dos óculos de grau, sempre elegante, com roupa social, rodou um pouco mais do que meio mundo, se perdeu da família e atrela seus laços aos sócios da empresa e aos herdeiros deles.
São cinco filhos, mas conheci somente dois. Tá e Tam. Talvez seria assim a pronúncia-escrita. Vinte e cinco e vinte quatro anos, respectivamente, com um bom inglês e uma serventia admirável. São pessoas boas.

Talvez Mister Kang seja um empresário demasiadamente solícito com o interlocutor e não tão duro com os negócios. Ou, talvez, nós, como interlocutores, amolecemos o coração dele e ele retirou a tropa reativa, sendo um bom companheiro, guia e, porque não, parceiro.

Nos levou para jantar no restaurante preferido dele, fez questão que conhecêssemos sua filha mais próxima - os outros dois estão por aí, espalhados em algum canto do mapa-mundi, com encontros casuais, pessoalmente; fez questão de nos deixar à vontade, quando nos sentimos em casa e pudemos coordenar o trabalho da maneira que melhor nos atendesse e não a ele, necessariamente. Variou o cardápio todos os dias da semana, almoço e jantar, e nos fez ensinar a palavra mais pronunciada nestes últimos cinco dias: "pó-léu"/chega! Acabou!

Pela manhã, tão logo começávamos a trabalhar, havia café, chá, água, frutas (parabéns para a Manga Tailandesa!),biscoitos, doces, balas e o que quer que fosse; mesmo ele sabendo que por estarmos em um belo hotel, havíamos tomado um desjejum à altura.
Logo chegava a hora do almoço e o absurdo era contínuo. O jantar então, eita, contribuía fortemente para o aumento dos quilos que, segundo o Mister Kang, "no problem". Para ele, aplicando os ensinamentos da mãe, desperdiçar não é aceitável e comer faz bem, não faz mal. Comer muito também faz bem: "no problem!".

Assim, no mínimo três vezes por dia, seguimos gritando "Póléu, póléu, póléu", na tentativa árdua de que os ajudantes nos entendessem, pelo idioma deles, que aquilo era suficiente e, diretamente, que estávamos lo-ta-dos e que, por favor, "pó-léu food"!

Ufa, cansei!

Bom, falando de Bangkok, a Cidade dos Anjos, do grande Palácio Real, o que pude ver foi por dentro de espelhos e vidros - dos carros e da janela do quarto do Hotel. Entre um engarrafamento e outro, me lembrei muito da Malásia e de tudo o que vi por lá, com a exceção de que Bangkok é tipicamente São Paulo, com seu desenho concretista, carros enfileirados e cortados por motos e lambretas, com quase nenhum helicóptero e aparente segurança; mesmo com algo como 10 milhões de pessoas (2008). Preciso voltar, para contar mais do que sobre sua culinária, batendo palmas de pé quando se ordena frutos do mar ou quaisquer noodles. Pela falta de buzina no trânsito. Pelos arranha-céus. Pela hospitalidade gentil e harmônica do povo local. Pela forma como mantém o moderno, com o tradicional, principalmente os valores familiares e o respeito aos mais velhos. Pela fala mansa e truncada, quando em inglês.

Preciso voltar para ver as cobras e os hipopótamos no zoológico, do qual pude ver elefantes, mágicos, crocodilos e tigres, com direito a foto que registra o momento em que segurei o rabo dele, sem gritar, suando horrores. Mas ali, forte: uh! Praticamente a Shiha!

Voltarei para contar da ilhas promovidas em filmes e para dizer o que é possível, sendo tão barato.

Voltarei, sabendo, indo, e não dois dias depois, que estive na cidade que tem o maior nome do mundo e que se chama originalmente Krung Thep Mahanakhon Amon Rattanakosin Mahinthara Yuthaya Mahadilok Phop Noppharat Ratchathani Burirom Udomratchaniwet Mahasathan Amon Piman Awatan Sathit Sakkathattiya Witsanukam Prasit: 157 letras!

Voltar é a idéia, mas tudo pode mudar, desde a idéia original.

É, mundão de meu Deus: é hora de guardar isso tudo e seguir para o Sri Lanka, que, segundo o Mister Kang, "o melhor hotel lá é péssimo e não tem chá verde; só vermelho" e que, ainda:

- Não se assuste, senhorita Bárbara. Você vai ver exército por todos os lados, chegando no Aeroporto, vários soldados com grandes armas em mãos. É que eles estão em Guerra Civil, mas nada acontece: no problem!
- Muito obrigada, Mister Kang. Agora posso viajar tranqüila e realmente sem necessidade de checar qualquer informação sobre o país antes, afinal, nada vai mudar a minha ida:

Pára-quedas armado e, depois dessa, Pó-Léu! Pó-léu de vez e rotina de volta!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Eu sou o que nós somos*

Ainda sem YouTube, leia ouvindo - A Estrada, Cidade Negra
Essa semana foi uma daquelas:

Enquanto esperava a volta da rotina, ouvi dizer que viajaria para a Tunísia, Tailândia e Sri Lanka, respectivamente, sem qualquer intervalo. A trabalho. Entre o ter escutado e ter as passagens em mãos, fui a um aniversário de uma filha de um colega nosso e a festa de criança virou um Carnaval para adultos!

Depois do Parabéns para Você, das coxinhas de frango e brigadeiros devorados, colocaram o som na caixa, com direito a marchinhas e axé de tempos bons. Invadimos o quarto da criança e de lá saímos fantasiados, cada um com um adereço, arredamos os móveis para os cantos da casa, fizemos trenzinho, rimos e pulamos muito, como se estivéssemos em alguma Sapucaí! E, é certo, vendo as fotos, ninguém diria que aquilo não era Brasil, porque o que importa é ter Brasileiro!

No ritmo do alalaô ô ô ô, ficou a incógnita do itinerário. Por fim, eis a confirmação que me levou direto ao passado recente, adormecido, fingindo-se esquecido no lado direito do cérebro, que tem estado inerte há um tempo.

Fui escalada para atender a um Congresso de uma organização que apresenta oportunidades para o desenvolvimento de pessoas, baseando-se nos conceitos, características e competências do que chamam de agente de mudança.

Na Tunísia, então, dentre representantes de mais de 100 países que compõem a rede global desta Instituição, meu objetivo era falar com 10 deles - Egito, Tunísia, Marrocos, Emirados Árabes Unidos, Bahren, Qatar, Oman, Jordânia, Algéria e Arábia Saudita.

A começar pela chegada no Aeroporto, tudo veio à tona e, de novo, estava do lado de cá; pegando a mala. Logo ali, um jovem rapaz sorridente estava com uma placa, me esperando, e, solícito, me ajudou com a bagagem, imigração e outros oficiais; troca de moedas e compra de chip de celular local.

Na hora de me colocar no carro, que me levaria para o Hotel, perguntou se eu não teria um cartão de visita e me chamou de senhorita. Elogiei o bom atendimento e solicitude e dispensei a formalidade, não só porque não gosto e me sinto menos confortável, mas porque há pouco mais de um ano, eu fazia a mesma coisa que ele.

Instantaneamente saíram feixes de luz dos olhos dele, Amin, dos quais espero não esquecer a força do brilho e a alegria, seguida ao som de um "Uow. Então é você! E você entende!".

Sim. Entendo. Compartilho e sinto falta. Falta dessa visão e dessas oportunidades diárias que desafiam e enobrecem.

No dia seguinte, as reuniões seguiram como agendadas e algumas conversas inspiradoras, também.

Preciso digerir estes dois intensos dias, como de praxe quando se fala de e com pessoas apaixonadas pelo o que fazem, e voltar a refletir sobre o que eu quero e quis. Sobre como as mudanças me afetam, positivamente. E, sobretudo, para relembrar o que queria.

Por fim, em uma conversa com um Tunisiano, Mohamed Ali, eu perguntei o que ele faria depois desta experiência e ele disse:
- Não sei o caminho que vou escolher.
- Mas você sabe o que você quer da vida?, perguntei.
- Sim. E sei onde quero estar daqui há cinco anos. Mas criei tanta coisa, que não sei qual das curvas virar.
- Eu também não sei e não acho que sabia; porque virei a minha sem sentir e sem pensar muito sobre. Mas, dentro da concordância com Robert Frost, escolhi a menos percorrida e "isso fez toda a diferença".

Que Mohamed's e Amin's se multipliquem e se conectem, em qualquer que seja o caminho, porque o meu mesmo, é a Tailândia. Pelo menos por enquanto e nos próximos dias e sigo sem perder o ritmo do "ô abre alas, que eu quero passar"!

*Não me inspirei na última citação da Madonna. Isso foi fruto de uma reflexão e uma conversa.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Amanhã tudo volta ao Normal

Sem YouYube, leia ouvindo

Já não está tão frio mais. Aliás, já não está frio. O Sol já não aparece tão depois e nem vai embora tão antes. Não há intensidade, como ano passado. Poucas coisas passam a ser extraordinárias, como quando do começo; mas do jeito que este aquecimento global surpreende, pode ser que volte a ser como deveria ter sido.

Em meio ao diferente, por não ter sido como esperávamos que fosse, ainda, com a ida da Teca, acho que entendi o porquê de não ter enfrentado (bem) a situação: eu fui a que sempre partiu e, dessa vez, fui que estive do lado de cá do portão de embarque do aeroporto.

Foi difícil.

A praticidade de pegar o telefone e falar bobagem e de trocar mensagens instantâneas pelo Outlook e todas as coisas simples do dia-a-dia é que quebram a expectativa e te desafiam a levar a rotina assumida e satisfeita, sem auto-engano.

Eu fui para o Canadá. São Paulo e Turquia. Estou na Líbia. Mas só agora, eu acho, é que compartilho do sentimento de quem fica e do quão esquisito é isso de não estar todos os dias.

É estranho mesmo. E, de novo, é parte de uma escolha que a gente faz.

Enquanto eu penso nisso tudo e continuo me divertindo, ao que tenemos del presente, o Brasil pulsa o Carnaval.

Ano passado foi sem purpurina por aqui, porque não há registros em posts publicados. Se bem que não tinha a Globeleza rebolando na minha frente, porque não tinha Globo Internacional, então provavelmente foi pela falta de provocação. Hm, mas o que importa é que não pensei no Carnaval, por qualquer que fosse o motivo. Aliás, até onde eu sei e concordo, escrever é imprimir o melhor dos fatos, sejam eles bons ou ruins; e não há relato relevante deste período.

Bem, deixemos de bobagem! Temos ainda a diferença de fuso. Enquanto sambam, eu durmo. Enquanto se recuperam,eu trabalho: deixarei de Brasil, mas só porque é carnaval!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Fé em Deus e Pé na Tábua


Como o Youtube não está mais acessível na Líbia, leia ouvindo por aqui

Antes de vir para cá, já tinha ouvido falar em algumas meninas-moças-mulheres que aqui se encontravam e, de certa forma, foram uma das primeiras no processo construtivo daquilo que chamamos "efetivo expatriado".

Não cheguei com nenhuma expectativa específica para encontrá-las e não imaginei nada demais, mas a primeira impressão foi boa!

Lembro que o que me aproximou, de imediato, da Teca, além do fato de estarmos no mesmo Hotel e de ter o encontro diário matinal no café da manhã, foi que uma das minhas duas malas demorou alguns dias para chegar e a outra quase uma semana. No desespero, a Teca prontamente se ofereceu para emprestar o que quer que fosse.

Nesta primeira abertura para a intimidade, sem qualquer noção do que o futuro resguardava, estreitamos relacionamento e, dentre o pouco mais que 12 meses, rimos muito e dividimos muitas das angústias e dúvidas por aqui.

Rimos horrores. Como falei bobagem e me permiti ser eu mesma!

Moramos na mesma casa, a família se formou naturalmente e se fortaleceu em momentos de alegria e comemorações. Resistimos a viagens e aos desencontros criados pela falta de infra-estrutura local e ousadia em arriscar, para nos vermos em dia livre; quando me mudei.

Meu verão e os dias de sol têm muito dela. As correções e as brincadeiras ao meu suposto espanhol nunca mais foram os mesmos depois que ela se meteu a me zuar e cometeu uma gafe tremenda.

Pandas, vacas, touros, marrecos e patos têm novos sentidos e significam muita coisa.

Eu mesma não vou dizer mais que jogava muito bem handball, que morei no Canadá, que acho francês um máximo, que quero viajar o mundo e que adoro seriados da Warner, porque diante dela, tudo isso é muito pouco.

Falta mais.

E vai continuar faltando.

A irmã mais velha decidiu sair de casa, caçar seu rumo e buscar o que a faz mais feliz. Chato e estranho, mas parte.

Eu, sendo a mais nova, de verdade, fui a primeira sair; mas quando o mais velho sai, fica a impressão de que todos amadureceram e que o cuidado pode ser acompanhado a uma distância maior.

Os questionamentos talvez fiquem menos recorrentes, porque a freqüência com a qual você se coloca a enfrentá-los vai diminuindo a partir do momento em que se vê fazendo por si mesma.

Sendo a vida mesmo a "arte do encontro, embora haja tanto desencontro", aqui, o que diferencia, é a duração e a efemeridade com que relações são feitas, suspensas, ou simplesmente postergadas para um outro momento.

São Paulo, de novo, ganha mais alguém que me puxe para lá.

Também, a forma como tiro fotos e observo arquitetura de prédios Europeus já não é mais a mesma.

Meu gosto musical segue sendo desafiado e "uma coisa é clara: Eu uso uma auréola. Eu uso uma auréola quando você olha pra mim".




sábado, 30 de janeiro de 2010

Daquela que não foi

Decidir [Deliberar, determinar(-se), resolver(-se) (...). 4 Explicar, resolver (...) 7 Inclinar-se a favor de ou contra: Decida-se por uma ou pela outra].
Michaelis

Primeiro seríamos dois. Depois éramos 11. No fim das contas, virou uma continha; e foram cinco. Eu não fui e iríamos para o deserto: diferente e inesquecível, se não fosse o desencontro e o desânimo, quase que uma preguiça, em seguir com o combinado - entre otras cositas más.

A mala estava pronta, o cobertor separado, moleton e luvas e a coragem de encarar o frio. Que nada! Olhei bem para tudo aquilo em cima da cama, fiz alguns telefonemas, outros haviam desistido. Fiquei naquele vou-não-vou tipicamente libriano e só não liguei para minha mãe porque seria três horas da manhã no Brasil: mas considerei bem a idéia =)

Pensei no caminho-aventura a ser percorrido, nas pessoas, na situação e posterguei fotografar o oásis.

Peguei a mochila do dia-a-dia, coloquei roupa e tênis da academia e decidi, então, que aquela seria uma quinta-feira normal, para que a sexta fosse também; como tanto tenho esperado desde que cheguei de férias: preciso me dar ao luxo do nada.

Mas o nada não tem me pertencido. Ainda na esteira, a rommie liga dizendo que algo ia rolar. Fiquei no lenga-lenga do sim ou não. Cinco minutos depois, outro telefonema e outro convite. Este, inegável, porque era a continuação da despedida da semana anterior - sabe como é uma reunião de Brasileiros: qualquer desculpa vira oportunidade!

E assim, seguimos. O melhor foi ter uma daquelas conversas que adoro! Conheci uma pessoa, deve ter lá seus 50 anos, bem vivido, paulista-libanês. Falava do porquê, nesta "altura da vida", de ter decidido vir trabalhar na Líbia e que se interessava pelo pioneirismo que, em grande maioria, é mais instigante aos jovens descompromissados socialmente. Falamos de assuntos que há muito não abordo e não leio sobre: ser cidadão do mundo!

Curioso como em poucos minutos eu me permiti me lembrar de alguns fatores que desencadearam minha vinda e minha permanência e que quando absorvemos o ganho da vivência na diversidade e oposição; que não é preciso concordar, mas respeitar para saber conviver; que me abro para desafiar meus valores e a base da minha formação, me permito entender que o que eu questiono são minhas referências e que é preciso estar aberta para entendê-las.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Do balacobaco

Agitação: [Ato ou efeito de agitar (...) 4 Inquietação. 5 Perturbação política, turbulência, revolução (...).Antôn: tranqüilidade, calma].
Michaelis

Estou ligada na tomada. Dormindo não fico quieta, nem me acalmo. Nos meus sonhos eu corro e na corrida ainda estou atrasada. Tem sido um pra-lá-pra-cá que e vou te contar:

Vou dormir rindo e logo a graça me apaga. Às vezes me perco em que parte parei na reza antes dos meus olhos fecharem e no dia seguinte acho que começo a pedir desculpa pelo dia anterior; em que dormi falando com Deus e, achando graça de novo; e de novo, durmo. Raramente tenho alcançado o Amém!

Estou boba!

Nesta semana em que a rotina do trabalho veio quase que em velocidade máxima - sim, "quase" porque sempre há espaço para mais - o dia-a-dia na casa também esteve pipocando: ela voltou - uma das rommies mais engraçadas que já tive em três anos de independência. Chegou em um agito só! Pá: quase o resquício de um furacão!

Para colocar tantas conversas em dia, inclusive detalhes da passagem pelo Brasil, eu briguei com os cílios para me manter acordada, ouvindo até o fim: o fim da noite!

Acordava e, de novo, era hora do trabalho. Um dia atrás do outro. Parece que sem intervalo. O tempo passa rápido.

Seis dias intensos. Muitas planilhas, números, controles, retornos, conversas, telefonemas, e-mails e o desejo de uma quinta-feira à noite para dormir, seguida de uma sexta-feira de pijama: Que nada! Era a vez do Agito no zodíaco: hora de levantar!

Fugindo duas vezes da academia, na quinta, depois dela e do banho, fui a um jantar. Na sexta, o cheiro do almoço em casa me despertou e vi que já era hora de sair para um churrasco: mais uma despedida! Abandono do pijama e rua: graças! No churrasco, muita música brasileira e alegria. Estamos em casa. Sambei e ri. Contei casos. Ouvi casos. Sambei não; tentei e fingi.

E aí, os minutos rodaram, formaram horas, o dia virou noite, a lua diminuiu o riso, a novela começou e o sono tomou conta: menos uma semana. E mais uma do balacobaco!
*Não adesão à nova regra gramatical.