sábado, 22 de maio de 2010

Virada Cultural

Leia ouvindo: Sandra Rosa Madalena, de Sidney Magal (já vai saber porque).

Acordei e faltavam quatro horas para chegar em São Paulo. No mapa, o avião passava por Fortaleza - já no Brasil, se não me engano.

Dessa vez a ansiedade não apareceu para dizer "Oi", mesmo sendo lembrada, em segundos, que aquilo só era do conhecimento de uma pessoa: meu irmão mais velho.

Isso mesmo: decidi fazer surpresa e chegar repentinamente ao Brasil, dando-me de presente a minha mãe, principalmente, porque o Domingo que seguiria depois daquela Sexta-Feira e Sábado seria dela!

Foi emocionante o arriar das minhas malas, ainda que pudesse ver e rever pouquíssimas pessoas; afinal, o tempo se põe cada vez mais curto para emoções que despertam o prazer e a felicidade momentânea a cada abraço.

Assim, neste clima alegre, eufórico, surpreso, tomava fôlego a cada vez que alguém abria a boca, mas não muito, e falava algo como "ó. Uai. Como assim, gente?", particularmente mineiro!

O fim de semana veio com reunião familiar, muita comida boa, vinho e cerveja. A semana seguiu com afazeres burocráticos, dormidas sem compromisso depois do almoço, andanças pela cidade para se observar as mudanças e as continuidades, corridas ao ar livre, restaurantes, bares, jogos de futebol e, então, avião... .

Dali segui para São Paulo para tentar articular alterações para um futuro próximo e afirmar a certezade que a cidade, mesmo sendo "uma panela impermeável de concreto", me chama, me atrai e me joga na cara que temos muito o que fazer. As oportunidades estão ali, escancaradas, e a nossa leitura depende da compreensão daqueles que se disponibilizam a olhar com boa perspectiva.

Revi outras pessoas. Repassei o passado e vi que realmente passei dele. Que o presente é sim continuidade da semente plantada, mas o fruto é muito mais maduro do que a semeadura.
Admirei quase que como se fosse pela primeira vez a liberdade: a leveza de se ir-e-vir quando se quer e, em uma dessas saídas, caí na Estação da República, com a sensação de que tinha sido despejada em um grande centrão da Índia ou China, sei lá, devido a quantidade de pessoas que transitavam em direções iguais ou opostas a minha.

Estava ali porque assistiria a shows, à Virada Cultural de São Paulo. Minha ida caiu exatamente no fim de semana em que haveria apresentações gratuitas por 24 horas, a céu aberto. E eu, completamente linerar, fui virada, de fato: era show do Sidney Magal! Seria péssimo, mas foi ótimo. Muito engraçado e alegre e, entre amigos, não tem preço - mesmo!
Os dias passaram, não tão rápidos, mas o suficiente para ter conversas importantes, para dar outros abraços, comer pastéis, coxinhas, comida japonesa e tudo o que aparecia pela frente: anhac!

Tempo para rezar e agradecer: Amém!

Depois, entre uma madrugada e outra, fui para o Rio, fechar com chave de ouro essa ousadia toda em tentar me surpreender. Lá, mais do que qualquer outra coisa, fui assistir, me envolver, contribuir, para-com o 3o. Forum Internacional de Comunicação e Sustentabilidade: que preenchimento! Discussões e apresentações riquíssimas, com novos questionamentos e reflexões. Novos acessos. Novo compartilhamento de informação. De notícia. De direcionamento.

Tietagens à parte, é impressionante a sede que tenho de inspiração e de colocações como aquela. Em apenas um dia, veio tudo à tona novamente e, então, a releitura dos meus objetivos e caminhos.

Mas, sem pressa, o importante é continuar em frente, no compasso do momento. Do presente.

Falando em presente, não pude ficar o dia seguinte, para o encerramento do Fórum, porque precisava fechar o ciclo iniciado e voltar para BH. E foi um dia bom. Melhor ainda, por estar pronta para recomeçar, onde quer que seja, com o que quer que seja.

Os planos, à princípio traçados e tomados como verdade, não ficaram tão lineares assim. Sofreram turbulências durante o passeio. Passaremos por uma manutenção e recauchutagem, para definição do próximo destino a ser seguido.

sábado, 1 de maio de 2010

Necessita-se de intervalo

Embora já esteja nesta página, vale o reforço: "É preciso andar com cuidado e com olhos atentos, pois a beleza aparece em lugares escondidos e inesperados, e o seu tamanho é tão diminuto que quase não é vista". Campos e Cerrados, Rubem Alves.

Eu estou ocupada e você também. Trabalho seis dias da semana, corridos. Talvez você fique um sábado ou um domingo, a cada quinze dias. Não importa tanto. Estamos, boa parte de nós, reunidos em um tempo cronológico eufórico.

Dizem que nunca tantos jovens se importaram tanto com o papel social que podem desempenhar, com a ambição por experimentarem algo diferente e, do fruto colhido, fazer algo melhor.

Não que eu duvide disso, mas eu acho que toda geração se diz "nunca se viu antes na história". Claro que (talvez) não, porque a gente evolui, é natural. O nosso diferencial hoje é que é mais rápido e, sendo rápido, podemos perder alguns detalhes.

Quando escolhi fazer Jornalismo, em 2002 - ano do temeroso vestibular - achava que queria fazer tevê. Diziam que escrevia bem e, em alguns trabalhos na escola, os professores, principalmente de Humanas, me orientavam para a Justiça ("Direito") ou a Comunicação.

Naquela época, pouco sabia do real poder e influência que comunicar podia determinar; seja um grupo de pessoas, uma decisão em família, uma revolução social. É forte. E, naquele momento, comecei a refletir que talvez ela não seria mais o Quarto Poder, mas o Primeiro.

Logo vi que tevê gera um impacto maior, é mais visível e, quase que em paralelo, vi, como voluntária em um jornal impresso, que fazia cobertura às necessidades da comunidade que vivia em torno da faculdade, que abdicaria do aparente luxo televisivo, pois me acrescentava estar mais próximo a pessoas que pudessem me ensinar mais; provocar em mim algo inquietante e não linear.

Passado à parte, em conversa esses dias com a Milinha por MSN - ferramenta de comunicação em tempo real ;) - falávamos dos nossos sonhos, há dois anos, quando em São Paulo, e o caminho que tínhamos percorrido desde então e que terminávamos, eu, revendo essa vontade de estar fora do Brasil e, ela, em Porto Alegre, trabalhando como Jornalista, comunicando para muitas pessoas que um avião com o presidente da Polônia havia caído, que o Serra confirmou a candidatura, que o Rio virou um mar de lamas e etc e tal.

Sem intervalo.

Nesta mesma semana, em casa, coloquei minhas roupas para passar e, como não encontro a moça - ela chega eu já saí, eu volto ela já saiu - o código é: roupas e cabides em cima da mesa, um dinheiro por ali; sinal entendido, volto à noite do trabalho, as roupas são encontradas devidamente prontas para serem vestidas.

Dessa vez, não foi assim. As roupas continuavam do mesmo jeito que eu deixei e, pelo jeito que os cômodos estavam, tive certeza que a moça tinha ido. Intrigante. Coloquei mais dinheiro.

No dia seguinte, nada. Fiquei maluca de raiva e a única coisa que consegui pensar foi "será que ponho mais dinheiro?". E, enquanto abria minha mochila para pegar, minha rommie disse:
- Ela deixou um papel, o que será que está escrito?
Eu: - Sei lá, mas é óbvio que não vou entender. A gente não fala árabe e com certeza não está em Inglês!



Eis que:




Sim!! Estava faltando o ferro de passar roupa, que estava em um dos quartos fechados, que ela não podia pegar! Portanto, eu poderia colocar mais dinheiro que ela não faria o que eu precisava =)


E eu, letrada, Jornalista, comunicativa, falando mais do que o meu idioma, com todas as qualificações que dizem e, reconheço; só consegui pensar em algo que nada dizia, supondo uma razão inexistente. Bem-feito para mim, mas dei boas risadas da inteligência, perspicácia, esperteza, criatividade e comunicabilidade da moça.
Se estivesse na minha frente, dava logo um abraço e pedia desculpa, passando o recado de quão belo achei aquilo.

E, sim, é o Primeiro Poder, carente de intervalos de respiração, para que se siga no ritmo demandado.


*Não adesão à nova regra gramatical.