domingo, 26 de junho de 2011

Paris por Líbia

Leia ouvindo A Flor, Los Hermanos



Fez um ano que voltei, que saí de lá e meses que procuro saber sem retorno. Nem e-mail, msn ou as tais redes sociais.

Esta semana, tentando me desprender, troquei um pingente meia-lua e a mão-de-Fátima que ganhei de uma Líbia muito querida, a quem conquistei e fui conquistada, da qual a despedida foi uma das mais difíceis de superar, porque o inglês arrastado dela não conseguia dizer o nosso "adeus"; somente o goodbye dos norte-americanos. E, na verdade, vai saber se não ia voltar né? Se a Índia, China, Laos e Camboja viraram um destino (quase corriqueiro, diga-se de passagem), porque não pode vir a ser o deserto do Saara por aqueles lados e, portanto, uma parada em Tripoli, quem sabe. Mas de fato, não prometi nada e respondi "tchau" como um "adeus" e abraço forte.

Sob o aspecto da simbologia sintomática, na troca de pingentes, coloquei uma mini-delicada Torre Eiffel, que mamãe trouxe para mim, porque ela além de saber, viu o tanto que sou fascinada com a e pela cidade Luz - (boa) energia daquelas praças, parques, céu. Pela movimentação de pessoas.

Ali e no Vaticano o mundo se reúne, com ou sem véus, cada um com sua crença, apenas para admirar.

Junto ao meu escapulário, agradeci por mais um dia e ao desligar o telefone pessoal, para dormir, me deparei com uma chamada não atendida, que perdi enquanto estava na academia - pois é, recomecei mais uma vez. Nome? A "menina" Líbia.
Aquele encontro do meus olhos, com os dedos e a tela me deu uma sensação indescritível e lamentei não conseguir retornar a ligação. Passei a outra semana tentando falar, mas não havia sinal - lá.

Exatamente neste período, eu lia "O Pequeno Príncipe" e ao me deparar com o contexto que divulgou frases clássicas, de forma solta - o que me lembrou Shakespeare, inclusive, que há anos não leio/releio - entendi, de novo, mas de maneira diferente, a tal da escolha na vida e o significado daquilo que Steve Jobs chamou de "os pontos se conectam":

"Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla. Ele [Pequeno Príncipe] pensa: 'Minha flor está lá, nalgum lugar...'

O que é importante, a gente não vê ...(...)


- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas. As pessoas têm estrelas que não são as mesmas".

Além de ser fantástico que isto leve ao "O essencial é invisível aos olhos" e que "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", tudo bem "trocar" a Líbia por Paris, a Torre pela meia lua e pela mão-de-Fátima, a flor (e a "menina Líbia" é de fato uma) por uma estrela-luz, porque será, como outras, para mim, uma única, mesmo que dentre milhões.

Hoje, nesta elucubração toda, sendo Domingo, dia de saber o que se passa pelas tais redes sociais, me alegro imensamente com uma mensagem de outra Líbia, que andava sumida há meses, com o registro de um número da Tunísia. Liguei e consegui falar, por poucos minutos, e que, embora a grata surpresa de que fisicamente ela estivesse bem, mesmo que "refugiada", confirmou a triste situação de irmãos desaparecidos, família separada e, sobretudo, que Tripoli virou uma cidade fantasma, em que as pessoas não têm o que comer, em que só se ouve bombardeios e só se vê corpos pelo chão.

Confidenciei que não conseguia imaginar tal como descrevia e a ligação caiu. Era mais uma [rosa] no meio de milhões e uma estrela entre tantas.

Por mais que o Pequeno Príncipe tenha concluído que os homens [grandes] são súditos, admiradores, que não sabem ocupar seu lugar na Terra, que não têm imaginação como as crianças, que têm fuzis e caçam e que não têm tempo de conhecer outras coisas, ou de fazer amigos, eu prefiro ficar com o fato de que podem ser "[As pessoas grandes são] mesmo extraordinárias".
*Não adesão à nova regra gramatical.