quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Qual o preço de um gesto de honestidade?

No último domingo, após almoçar com amigos, dei uma parada no shopping para resolver "coisas de casa", rapidamente. Depois, entrei no ônibus, paguei a passagem em dinheiro, guardei o troco em moedas e, vendo que meu celular - um Iphone - estava sem bateria, coloquei tudo junto e misturado, dentro de uma das sacolas de supermercado.
Para minha surpresa, ao chegar em casa, tirei tudo da sacola, menos o celular. 

Achei que estava louca, já que não estava bêbada. Desci. Olhei no porteiro, no elevador, nas escadas, debaixo da cama; até que pensei: Ou caiu no chão e eu não ouvi (sabe-se-lá-como-não) ou alguém me furtou no ônibus e eu nem senti.

Pois bem.

Fiquei meio chateada, mas mais com minha desatenção do que com o fato em si. Meu ponto era "o que aconteceu e eu não vi?!".
Anfam. Fui para o clássico bloqueia-celular-bloqueia-chip-avisa-as-pessoas-coloca-outro-número-no-find-my-Iphone (Thanks, Apple!); e fiz isso meio que sem muita pretensão, embora, verdadeiramente, achava que tinha perdido e não sido furtada.

No dia seguinte de manhã, recebo um Whatsapp:
- Oiee gracinha bom diaa Vc dona iphone?

Pensei: Não é possível? Será? Respondo? E se ele me sequestrar? E se hackear todas as informações? E se me chantagear e descobrir onde eu moro? JURO para vocês: nenhum pensamento positivo passou pela minha cabeça nos primeiros 30 segundos.


Respondi:- Oiee! Siiim! =)


Ele:
- Sou Rodrigo prazer tava dando aula de dança ontem q achei no meio da av esqueci nome da av kkk



Eu:
- Rebouças?

Ele:
- Isso deve ser essa mesmo deu sorte em porq passei por ele fiquei olhando no chão os carros passando do lado dele kkkk


Depois de trocas de risadas e eu sem saber como perguntar para ele se ele me devolveria, enfim, tomei coragem e a resposta veio:
- Entrego não trazendo polícia falar q eu te roubei kkkk ta firmeza

Voltei 10 passos e pensei: "Não quero meu celular mais não". E, librianamente, negociava indecisa: "vamos encontrar?". Não vamos. "Quero meu celular?". Quero. "Correndo riscos?" Mas por que ele se daria o trabalho de me contatar? "Será que ele acessou meus dados ou viu que não revenderia por estar bloqueado ou..."; enfim. Decidi acreditar e ainda assim não foi fácil.

Ainda estávamos na 2afeira. Marcamos de nos encontrar na 3afeira, em uma estação de metrô. Poucas horas antes, ele proativamente desmarcou e sugeriu que uma amiga me entregasse no shopping perto da minha casa. Ele então se despediu com um "ok vou passa seu contato pro meu encarregado ele te passa tudo certinho... de qual que forma foi meu último contato com vc até... mais...".

Estaca zero.
Eu e minha positividade pensamos: "É, não vai rolar. 'Encarregado'? Último contato?".

Na 4afeira o tal encarregado entrou em contato comigo, se apresentou como esposo-da-tal-amiga-que-trabalha-no-tal-shopping. Depois, a tal esposa me escreveu, combinando o encontro na praça de alimentação. Neste momento, desisti. Ali eu tive certeza absoluta que estavam rindo da minha cara, fazendo graça e/ou que iam devolver sob algum tipo de "cobrança".


Por outro lado, eu não me conformava em me conformar. Hoje, 5afeira, saí de um cliente, mandei mensagem para a esposa e disse: "Olá! Estou no shopping. Posso pegar meu celular com você?".
E ela veio, com ele assim:


                                              
Limpo e protegido. Funcionando.
Fiquei muito feliz. Muito!: Uma mistura de crença no brasileiro, no futuro, nas pessoas boas escondidas e, eu, meio ressabiada com meu preconceito, meu pessimismo e minha desconfiança.

Foi um tapa na cara com a força de um atropelamento. Impacto suficientemente grande para (re) pensar e (re)agir. 

Aliás, como diria Drummond, "a confiança é ato de fé e dispensa raciocínio". #Acreditemos.

*Não adesão à nova regra gramatical.