sexta-feira, 17 de abril de 2009

Capítulo IV - O final não é o término


"Sou e não sou naquilo que estou sendo" Álvaro de Campos

O líbio não foi e não será. Ele é. E Álvaro de Campos não sabia disso, mas é um exemplo de que por mais deslocados que possamos ser deles, ou pelo menos falo por mim, deve haver algumas questões que se cruzam. Todavia, o ponto não é saber no que nos parecemos, somente. Quero entendê-los como são e, no resumo superficial do aprendizado, diria que, sendo muçulmano, orientado por um direcionamento masculino e isolado, o líbio tem um perfil bem diferente do que qualquer outro do qual já tenha lido sobre ou ouvido falar. E essa composição de fatores o faz ter uma mentalidade, um modo de pensar, peculiar e dividido em perspectivas culturais:

Sendo o amanhã pertencente a Alá, o líbio vive no encontro do medo com a supertição, sem planos, focado no dia-a-dia, tornando-se aos nossos olhos passivos e não comprometidos, por outro lado, encaram, por exemplo a morte e a doença, de modo mais leve e mais aceitável, porque não se prepararam para acreditar em um futuro e em condições de alegria e paz a todo tempo: ser surpreendido é entender que foi feita a vontade de Deus.

Aí está a primeira divergência conosco, que em maioria vivemos a olhar para trás e para frente e pouco absorvemos do presente. Assim, eles são e nós estamos. A abordagem deles em tudo o que fazem exige ser pessoal e emocional. Hoje entendo bem as conversas, para mim até então aleatórias, de quando fui visitar escolas de inglês. Um Diretor mostrou fotos e o outro falava da mobília da casa. Os líbios são seguidores, não necessariamente líderes, ou seja, não tomam a iniciativa agressiva para que algo aconteça após a reunião. O foco deles é aquele momento e isso não os faz tornar alguém, eles já são. Sob esta ótica e, de novo ao contrário do que somos feitos, os líbios agem em consideração ao emocional. Pergunte da família, da cultura, revele-o importante para você e ele será pragmático nas atividades. O desafio é mudá-lo de função, por exemplo, sem envolvê-lo pessoalmente e esperarmos que ele seja flexível e aja de acordo com o ambiente: não, ele não se torna alguém dependendo do lugar, ele é em todas as maneiras a mesma pessoa.

Essa redenção, que também parece um pouco de resistência ou de dificuldade em compreender-nos, é da natureza deles. Eles são educados a não causarem problemas porque são o reflexo da família, que é a base estrutural e a cara social deles. Nesta natureza, o líbio aceita as condições existentes, não questiona e acata determinados direcionamentos, o que não significa que se sentirão parte deles: aí você vai pensar que eles estão sob seu controle, quando na verdade, eles só agem de acordo com o que aprenderam: a não provocar.

Em resumo,a mentalidade de um líbio se soma por seu entendimento de tempo (passado, presente e futuro); por seu conceito de atividade (aceitar, o que não significa fazer e não questionar) e por sua natureza de se render, em prol da harmonia, para não comprometer a imagem de sua família dentro da sociedade e, por fim, mas não mais importante, por todo e qualquer tipo de relacionamento.

De novo e, ao contrário de nós, eles não agem individualmente, porque pensam em coletivo. Enquanto somos individualistas no sentido de fazermos por nós e para nós mesmos, o líbio, como reflexo da família e nessa quase anulação de indentidade individual, tem como prioridade os parentes e os amigos, ambos embasados pela diretriz religiosa. No frigir dos ovos, o trabalho é secundário e não importante sob o ponto de vista daquilo que os motiva e orienta: relacionamento pessoal e conforto coletivo.

2 comentários:

Marcelinho disse...

E essas diferenças vão lhe fazendo mais madura, mais flexível e culturalmente sensível :) Sensacional fofa!

Tecolina!! disse...

WRITER!!!

*Não adesão à nova regra gramatical.