Meu menino tem 10 anos, calça 39 e seu tamanho de roupa é 12. Não o conheço, mas o imagino alto, franzino, negro, com o sorrisão largo, talvez com dentes. Ele é da Eritréia, um país localizado no Chifre da África, que faz fronteira com o Sudão, Etiópia e Djibouti, com parte do litoral banhado pelo Mar Vermelho.
Quebrando a rotina casa-trabalho-academia-casa, comprei presentes de Natal para ele esta semana: um conjunto de malha para protegê-lo um pouco do frio, um par de tênis e uma bola de futebol, para ser um símbolo que transmita alegria, brincadeira e infância liberta em qualquer país sem conflitos.
Escolhi esta "adoção" pontual em meio a outros 50 nomes de uma lista preparada por uma Senhora que segue a missão de acolher menores, mães e pais destroçados de uma fuga de países como a Eritréia, na esperança de chegarem à Europa - preferencialmente Itália - para uma vida melhor.
Neste ensejo, a Líbia se põe como o melhor caminho entre a África e o Sul Europeu, mas até o desaguar no Mediterrâneo, muitas barreiras os impedem de atravessar, chegando algumas vezes violentados (algumas meninas grávidas) e órfãos.
Meu menino é um destes casos que, como outros piores, compõem ainda a realidade da colcha de retalhos que se faz este continente. Assim, uma freira, a Senhora Missionária, da única Igreja Católica de Tripoli, há anos, acolhe estas pessoas que chegam por aqui e, através do recebimento de doações, fornece lar, comida, acesso a educação - privada, porque a pública não aceita indigentes - um certo conforto e esperança.
Neste meu primeiro Dezembro na Líbia, adotar uma destas crianças foi bom, tipicamente Natalino!
Talvez este presente, para mim e para ele, seja o que Eckhart Tolle, autor de "O Poder do Agora", chamou de "Despertar de uma Nova Consciência", que também virou livro. E, no meu caso, para uma curiosidade de que aqui pode ter aquele "isso", que me intrigava.
Enquanto a data de conhecer "meu menino" não chega, vou para Roma, semana que vem, aproveitar alguns dias livres que teremos por aqui. No mínimo irônico: Compro um presente para ele da Itália?
"Os barcos estão seguros se permanecem nos portos. Mas não foram feitos para isso". Fernando Pessoa
sábado, 21 de novembro de 2009
Um presente para dois
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*Não adesão à nova regra gramatical.
4 comentários:
Muito bom Dona Barbara!
Já montei "sacolas" de Natal para pessoas que não conhecia e as entreguei por uns três anos. Com certeza em condições menos extremas que essa....
Em relação à Roma, estive de férias e passei três dias lá! Acho que foram os dias em que mais andei em toda minha vida...rsss
Beijos e saudades!
Leandro Bastos
Mandar um presente italiano para o esfomeado africano seria, de fato, no mínimo irônico. O fato poderia ser interpretado da seguinte forma: "Ok, nós, europeus, destruímos as suas tribos, sua cultura, suas famílias e deixamos uma legião de esfomeados; em troca, enviamos um par de tênis e uma bola de futebol para compensar o estrago!"
Por isso não comprei nada além do já feito =)
Em breve conto mais disso e Roma!
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