sábado, 26 de dezembro de 2009

Embalando

Natal [1 Que diz respeito ao nascimento; natalício. 2 Pátrio: Terra natal. sm 1 Dia do nascimento. 2 Dia do aniversário de nascimento de qualquer indivíduo. 3 Dia ou época em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo].
Michaelis

Até aqui seriam três aviões, horas de vôo que não consigo calcular, por mais que eu tente; alguns presentes pelas paradas, vinho ou cerveja para relaxar, leituras ou filme. Mas não teve (quase) nada disso.

Chegando em Londres a neve nos impediu de desembarcar para esperar o vôo com destino direto ao Brasil e vi que não tenho tanto auto-controle da ansiedade como achei que tivesse desenvolvido.

Por mais que tenha sido tudo e mais um pouco sentir a espera por cinco horas dentro do avião, antes de decolar, chato mesmo era esperar os últimos 45 minutos - de São Paulo a BH: Por que isso não pode ser normal? Que nada! Coração não agüenta e começa a bater como um louco desesperado, ofegante.

Já em solo, literalmente, é aproveitar a calma que aterriza e curtir o que estava em falta. De novo, amigos e família no contexto feliz e pleno:

O encontro daqueles que por um tempo são virtuais, mas que o Natal converge no experimento de abraçar e ver de novo: primas que envelhecem, como eu; que se casam e têm filhos. Amigas que falam em casamento e viagens enquanto "solteiras" no papel e em registros oficiais; planejamento do futuro curto que é a próxima semana e do longo que é o ano que vem; conversas por telefones de quem está em cima, do lado esquerdo, direito e abaixo de mim, no desenho do mapa do Brasil; resposta a e-mails de quem está do lado de lá do mapa-mundi, por onde estive há dias; novo olhar da mesma cidade, das mesmas pessoas, das praças, ruas e avenidas; nova escuta das mesmas músicas e prova de velhos sabores, natalinos. Tudo isto é parte do renascer e começar, de onde se fez o berço e o braço.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O que você está fazendo?

relicário [1 Recipiente onde se guardam relíquias. 2 Bolsinha ou medalha com relíquias que, por devoção, alguns trazem ao pescoço. 3 Caixa de lembranças ou recordações. 4 Memória; coração].
Michaelis

Em tempos de COP-15 e discussão sobre os efeitos atuais e futuros quanto à mudança climática, a segunda-feira por aqui amanheceu como eu: devagar. As nove horas cruzaram o relógio e o tempo estava escuro; e eu fora da cama. No trabalho, com algumas planilhas de excel pela frente, confundindo o que não era claro, com o que é novo, tentava ajustar em mente uma semana de despedida, comemorações e sensibilidade do espírito que se prepara para um Natal em casa na Líbia ou no Brasil.

Parece que este ano o próprio país cedeu à nossa procura cristã para valorização do momento, sendo possível organizar ceia e transformar os colegas de trabalho em familiares ocasionais.

Nesta busca constante por nos sentirmos em casa, tentamos nos apropriar da vida do outro, fazendo do processo diário um fluxo natural de novos e importantes relacionamentos.

Não literalmente, mas quase, as mudanças estão também na ida-e-vinda, chegadas e partidas. E, nesta semana, em que o Sol tem dormido até tarde, sentindo o frio intenso, uma das minhas rommies vai de volta para casa: Brasil!

É estranho pensar, porque você se acostuma: acostuma com as gracinhas, com as conversas e com o "ter mais um". Por outro lado, fazendo parte, a gente comemora a felicidade da escolha e se prepara para se adaptar à nova rotina. Nem mais ou menos. Simplesmente, como é.

Entre as escolhas do que pôr na mala que só tem um despache e um destino, dá vontade de colocar algumas coisas mais; mesmo que não materiais.

Seguindo adiante, nós três levaremos, espaçadamente juntas, um relicário nosso, com momentos muito bons, caseiros, saudáveis, alegre e vivo; exatamente como somos e como não nos dispusemos a mudar. Pelo menos, isso não.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Apresentação do Meu Menino


Hasem Abobaker. 10 anos. E do jeito que eu pensei. Aliás. Mais alegre. E muito esperto.
Não pude ir, mas espero fazer uma visita em breve. Sem avisar. Sem ser (somente) pelo Natal. Quero dar um abraço nele. Me ligaram de lá e ele disse "Hey Bárbara, thank you! Thank you!". É um dos poucos que fala Inglês e eu, que falo muito, só pude dizer "Você é muito fofo! Espero que goste".

Minhas mãos ficaram trêmulas por longos minutos e meus olhos se encheram d'água, como já há algum tempo não os sentia. Emocionante e feliz.

Feliz Natal, Hasem!
- Alô?, Bárbara?
- Oi, sim!
- Oi Bárbara, é o Rapaz!
- Oi Rapaz, tudo bem?
- Bárbara, tem gente chegando para a república?
- Sim, Rapaz. Amanhã.
- Vixe. Tem que comprá cobertô!
- Uai, por que? Os quartos estavam todos montados. Eu fui lá na casa.
- Sim, mas a gente pegou os cobertô. Tá muito frio! Eu mes peguei dois a mais. Tô cum trêis.
- Tá bem, Rapaz! Vou ver como podemos fazer; se o pessoal consegue comprar mais hoje. Mas uma pergunta: vocês ligam a calefação?
- A quê?
- O ar quente. Vocês ligam o ar quente da casa e do quarto, pelo menos um tempo antes de dormir?
- Ah nem. Vou mexer qu'esse trem não. Nem. Muito complicado. To cons trêis cobertô! Compra mais lá, tá? Tchau.


sábado, 5 de dezembro de 2009

Sim. Ela é Bella

Sacrifício [1 Ação ou efeito de sacrificar. 2 Oferenda de animal, produto da colheita ou de qualquer coisa de valor, feita a uma divindade para lhe tributar homenagens, ou para reconhecimento do seu poder, ou ainda para lhe aplacar a cólera. 3 A pessoa ou coisa sacrificada. 4 Renúncia voluntária a um bem ou a um direito. 5 Ato de abnegação, inspirado por um veemente sentimento de amizade ou de amor. 6 Privação, voluntária ou involuntária, de uma coisa digna de apreço e estima. 7 Risco em que se põem os próprios interesses para interesse de alguém ou de alguma coisa (...)].
Michaelis

Não comprei nada para o meu menino. Não acho que ajudaria ou acrescentaria com foco na procedência dos presentes. Mesmo que não seja suficiente, prefiro pesar pela importância da representatividade e não propriamente dos objetos em si. E, na verdade, não vi nada por lá que me fizesse brilhar os olhos e dizer "vou levar". Se pudesse, levaria mesmo algumas pinturas, algumas especiarias e (re)distribuiria a emoção de ouvir ao Papa dali da janela do Vaticano: Praticamente o sopro da paz!

Ainda, enfatizaria que Shakespeare estava mesmo certo!, porque existe algo de muito misterioso entre o céu e a terra!; afinal, os quatro dias de andanças pelas longas, largas, curtas e estreitas ruas de Roma e Florença foram possíveis pelo Eid al-Adha, a Festa do Sacrifício, celebrado pelos muçulmanos em memória da disposição do profeta Ibrahim (Abrãao) em sacrificar o seu filho Ismail conforme a vontade de Deus.
Isso não aconteceu e um carneiro foi pôsto no lugar do filho e a carne deste foi distribuída entre os membros da comunidade à época.
Assim, estes (três/quatro) dias seguem tão importantes quanto aqueles que finalizam o Ramadã, com a ênfase para a quantidade de carneiro sendo sacrificado nas ruas, para que as famílias estejam reunidas em volta de um momento religiosamente sagrado e único.

Saí da Líbia neste contexto e horas depois eu comia bacon em algumas das cantinas charmosas das ruas entupidas de folhas secas: Ah Macarrone al Carbonara!Tomava café, depois do vinho, antes da cerveja. Sopas. Pastas. Carnes. Segui andando, pecando - pela gula - e rezando. Chocolates!

O Vaticano é gigantesco. É a imposição de um poder divino mesmo. No Domingo, em que pudemos estar presente na fala do Papa, tive a impressão de estar no meio do mundo. Exatamente ali. Com todas as nacionalidades. Como se o mundo todo fosse católico e só houvesse aquilo ali. Aquele momento. O instante em que ele apareceu na janela e foi aplaudido. O minuto em que desejou um dia de paz para todos e em coro fez o Amém mais harmônico que se pudesse planejar. Arrepiante. Belo. Belissimo! Talvez uma obra de arte não imaginada nem mesmo pelo genioso e abençoado Michelângelo, quem tentamos visitar na ida a Florença, repleta de espetáculos naturais e humanas, como no caso da Igreja Duomo.

Agora sim, posso dizer que conheci a Itália!

Absurdo também em Roma, de forma diferente, é o Coliseu. Entre as andanças você se depara com o que é, para mim, até hoje, a melhor imagem de um museu a céu aberto. Todas aquelas pedras, aquelas terras prensadas e todo aquele tempo reunido. Numa dessas, a gente respira, bate a foto, e continua, por todas as fontanas, de Trevi e das Quatro, e cantinas pelo caminho.

Uma coisa que deixou a desejar foi o espírito natalino! Irônico de novo! Tanto Cristianismo e nada de luzes, árvores ou Papai Noel de enfeites. Achei meio triste. Adoro luzes e cor! Traz alegria!
Deixarei então para vê-las no Brasil, para onde embarco em breve. Mais uma viagem e uma oportunidade de ver e rever pessoas e continuar experimentando, porque nenhuma ida é igual ao que foi: "Viajar compensa qualquer custo ou sacrifício*".


*Despertar de Uma Nova Consciência, Eckhart Tolle

*Não adesão à nova regra gramatical.