sábado, 1 de maio de 2010

Necessita-se de intervalo

Embora já esteja nesta página, vale o reforço: "É preciso andar com cuidado e com olhos atentos, pois a beleza aparece em lugares escondidos e inesperados, e o seu tamanho é tão diminuto que quase não é vista". Campos e Cerrados, Rubem Alves.

Eu estou ocupada e você também. Trabalho seis dias da semana, corridos. Talvez você fique um sábado ou um domingo, a cada quinze dias. Não importa tanto. Estamos, boa parte de nós, reunidos em um tempo cronológico eufórico.

Dizem que nunca tantos jovens se importaram tanto com o papel social que podem desempenhar, com a ambição por experimentarem algo diferente e, do fruto colhido, fazer algo melhor.

Não que eu duvide disso, mas eu acho que toda geração se diz "nunca se viu antes na história". Claro que (talvez) não, porque a gente evolui, é natural. O nosso diferencial hoje é que é mais rápido e, sendo rápido, podemos perder alguns detalhes.

Quando escolhi fazer Jornalismo, em 2002 - ano do temeroso vestibular - achava que queria fazer tevê. Diziam que escrevia bem e, em alguns trabalhos na escola, os professores, principalmente de Humanas, me orientavam para a Justiça ("Direito") ou a Comunicação.

Naquela época, pouco sabia do real poder e influência que comunicar podia determinar; seja um grupo de pessoas, uma decisão em família, uma revolução social. É forte. E, naquele momento, comecei a refletir que talvez ela não seria mais o Quarto Poder, mas o Primeiro.

Logo vi que tevê gera um impacto maior, é mais visível e, quase que em paralelo, vi, como voluntária em um jornal impresso, que fazia cobertura às necessidades da comunidade que vivia em torno da faculdade, que abdicaria do aparente luxo televisivo, pois me acrescentava estar mais próximo a pessoas que pudessem me ensinar mais; provocar em mim algo inquietante e não linear.

Passado à parte, em conversa esses dias com a Milinha por MSN - ferramenta de comunicação em tempo real ;) - falávamos dos nossos sonhos, há dois anos, quando em São Paulo, e o caminho que tínhamos percorrido desde então e que terminávamos, eu, revendo essa vontade de estar fora do Brasil e, ela, em Porto Alegre, trabalhando como Jornalista, comunicando para muitas pessoas que um avião com o presidente da Polônia havia caído, que o Serra confirmou a candidatura, que o Rio virou um mar de lamas e etc e tal.

Sem intervalo.

Nesta mesma semana, em casa, coloquei minhas roupas para passar e, como não encontro a moça - ela chega eu já saí, eu volto ela já saiu - o código é: roupas e cabides em cima da mesa, um dinheiro por ali; sinal entendido, volto à noite do trabalho, as roupas são encontradas devidamente prontas para serem vestidas.

Dessa vez, não foi assim. As roupas continuavam do mesmo jeito que eu deixei e, pelo jeito que os cômodos estavam, tive certeza que a moça tinha ido. Intrigante. Coloquei mais dinheiro.

No dia seguinte, nada. Fiquei maluca de raiva e a única coisa que consegui pensar foi "será que ponho mais dinheiro?". E, enquanto abria minha mochila para pegar, minha rommie disse:
- Ela deixou um papel, o que será que está escrito?
Eu: - Sei lá, mas é óbvio que não vou entender. A gente não fala árabe e com certeza não está em Inglês!



Eis que:




Sim!! Estava faltando o ferro de passar roupa, que estava em um dos quartos fechados, que ela não podia pegar! Portanto, eu poderia colocar mais dinheiro que ela não faria o que eu precisava =)


E eu, letrada, Jornalista, comunicativa, falando mais do que o meu idioma, com todas as qualificações que dizem e, reconheço; só consegui pensar em algo que nada dizia, supondo uma razão inexistente. Bem-feito para mim, mas dei boas risadas da inteligência, perspicácia, esperteza, criatividade e comunicabilidade da moça.
Se estivesse na minha frente, dava logo um abraço e pedia desculpa, passando o recado de quão belo achei aquilo.

E, sim, é o Primeiro Poder, carente de intervalos de respiração, para que se siga no ritmo demandado.


4 comentários:

Teca Camargo disse...

adorei!!! comunicação é tudo!!!

Anônimo disse...

Sem duvida comunicacao eh tudo! As vezes me pego refletindo sobre o seu poder e influencia diante de diversos fatos que acontecem todos os dias. Costumo me assustar.

Mila disse...

É o primeiro sem dúvida! Qual a razão da minha total descrença no impacto positivo do mesmo? Mas a questáo é: Por que a tua empregada precisa de uma forma individual de fatia de pizza pra passar roupa?? hein?

Bárbara Teles disse...

Só você, Milinha! E, acredite, sem quês nem porquês!

*Não adesão à nova regra gramatical.