Analfabetismo Funcional [Pessoas com menos de quatro anos de escolarização não possuem as habilidades de leitura, escrita e cálculo para fazer face às necessidades da vida social dos nossos tempos. Por esse padrão, cerca de 800 a 900 milhões de pessoas no mundo jamais poderão cumprir algumas tarefas simples e corriqueiras em sua vida pessoal e profissional, tais como: ler uma estória infantil para seus filhos, cozinhar seguindo uma receita, ler (e entender) um jornal ou uma revista, entender as instruções de montagem de um brinquedo, consultar o menu de restaurantes, ler os ingredientes de uma embalagem de alimento ou remédio, ler o rótulo de um produto de limpeza, preencher um formulário de emprego, entender suas contas de água, luz e telefone, ler as instruções de segurança de um equipamento, etc]*1991 - União Brasileira de Escritores (www.brasileitor.org.br)
Cheguei da roça na euforia, contando os casos e o quanto me diverti ao ouvir as pessoas conversando comigo:
- Fia, se tu querê, tem mais comida (...).
- Ih quando tu teve os pobrema da coluna, tu fez inzame? Real X?
- Se tu querê, tem vinho. Mas embebeda, moça!
Sou fã da simplicidade, do trato sincero, do acolhimento.
Depois do afago familiar longínquo, voltei para a banda original e liguei para a Líbia, para saber se algo tinha acontecido durante aquela semana de refúgio, já que meu e-mail não trazia nenhuma notícia daquele lado.
Felizmente, me deram atualizações e, no dia seguinte, recebi outros telefonemas que giraram em torno de dois Santos-destino: Paulo e Luís.
Paulo é sempre interessante, moderno, criativo, diferente. Luís é desconhecido, embora tenha uma pitada curiosa.
Optei por Luís que trazia em si um desafio e uma oportunidade profissional que naquele momento Paulo não poderia iluminar.
Na quarta-feira, quando tudo foi claramente entendido, ouvi:
- Bárbara, preciso de você amanhã aqui.
- "Amanhã"... é quando?, perguntei.
- Segunda-feira.
Naquele êxtase inesperado, com tudo tão rápido, fiz de tudo um pouco: continuei a descansar, fique com a família, amigos; foquei no pilates, mala e tentativa de entendimento sobre morar em São Luís, no Maranhão. Longe. Mas Brasil.
Não consegui nada de muito otimista e a realidade me pareceu muito realista.
De novo, optei por não ouvir nem ler tanto sobre tudo e tirar minhas próprias conclusões: parênteses para os Lençóis Maranhenses: Opinião sobre visitá-lo é unânime!
Assim, mais algumas horas de vôo e diria que a Ilha do Amor e do Reggae não me recebeu da melhor forma possível e as pessoas até agora - da região ou não - foram menos solícitas do que o esperado.
Desanimada nos primeiros dias, literalmente perdida e já com aqueles questionamentos insistentes, saí do "bleh" para o "uhu", depois de uma conversa e um fato:
A primeira conversa de trabalho, propriamente, fez meus olhos brilharem, pelo desafio, crescimento, aprendizado escancarado, que era só pegar, porque já estava ali: complexo e a minha cara!
Dois dias depois, o cliente reuniu todos do prédio - to-dos - para refletir sobre um acidente que tinha acontecido em outro país, questionando-nos a importância de cada indivíduo, em qualquer lugar que se esteja.
Em um debate-aberto, falamos do quão grave os riscos se colocam, quando estamos em locais como Maranhão: mais de 40% da população é "analfabeta funcional".
Pensei (amos): como uma pessoa lê, entende e, portanto, opera um equipamento de risco; uma máquina; um diálogo; um serviço; a assinatura de papéis; tudo? Como fazem e pensam todas essas pessoas? Como lidam e vivem no dia-a-dia? Como processam e implementam tudo o que pensam? Como é... tudo?
O bleh, combatido pelo uhu!, pelo desafio que, de grande, passou a ser maior, tornou as variáveis não tão óbvias e tornando aparente que, embora Brasil, não seria mais fácil, mas ainda assim, inusitado. Ainda, diferente.
Paradoxalmente me disseram - e confirmei - que aqui se fala o Português mais correto do Brasil e, de fato, observando no dia-a-dia, gostei do que ouvi. Não é tão convidativo quanto foi na roça, mas intrigante a fala versus a escrita. Há chão e coisas além a serem feitas: se querê conhecer, é só vim.