quinta-feira, 21 de abril de 2011

Simplicidade

É notório e registrado, pelos meus textos, que eu adoro pessoas simples. Elas ensinam facilmente sobre felicidade, superação, graça e leveza. Sobre o nosso papel em servir e apoiar o próximo. Gosto muito de interagir com estas pessoas. Mas aqui em São Luís, na repetitiva vida "casa"-trabalho-"casa/academia", nunca me encontrei com a moça que faz a limpeza e, na verdade, não sei se é uma ou se são várias que se revezam. Nome e cor do olho então? Não faço idéia. Ainda, com minhas idas e vindas semanais, para BH, São Paulo, interior do Maranhão, Pará ou onde quer que seja, menos ainda. Fico pensando o que é que elas devem pensar: raras as vezes o quarto precisa ser arrumado e raríssimas vezes há resquícios de que me alimentei por ali: guloseimas na geladeira então, nem pensar! - as últimas duas vezes que tentei, com o calor daqui, as coisas se perderam rapidamente e o destino foi o lixo, dolorosamente.


E aí, um dia, à noite, cheguei em casa e encontrei este bilhete* em cima de uma mesinha, na cozinha, que me fez lembrar muito de um episódio que vivi na Líbia:







*Tiro foto de quase tudo mesmo. A fotografia é um momento para se por em uma página. E "os fotógrafos tentam contar histórias de um jeito provocativo e imediato".


Considerações simples como esta e como as da "moça Líbia" de fato me encantam e me mantêm crente na espécie humana, por mais difícil que isto nos pareça: Boa Páscoa às Francinalvas e às moças e moços que tentam ser melhores naquilo que fazem. Para si e para os outros!






terça-feira, 5 de abril de 2011

As coisas não são

"Existem muito mais coisas para vir à luz do que nós percebemos". O Poder do Agora, Eckhart Tolle

Desde que os movimentos revolucionários começaram no Egito, comecei a me preocupar. Naquele país vivia uma amiga minha brasileira, a trabalho. Outros, sabendo da tensão e da possível dificuldade dela em sair, se uniram para captação de dinheiro, para comprar uma passagem - naquele momento, caríssima - para que ela voltasse. No meu mundinho-Sáo Luís casa-escritório-casa, sem muitas leituras de jornais, nem mesmo acompanhamento das teles, não me envolvi muito; até que fui a São Paulo e a primeira coisa que um grupo de pessoas me perguntou foi "E se a moda chegar na Líbia, hein?". De forma muito objetiva disse que não chegaria, devido à mentalidade diferente dos líbios e pelo o que eu tinha aprendido do direcionamento que a política colocava na sociedade, sob a justificativa religiosa: engano! Dias depois, lá estava Tripoli, a cidade na qual morei e que foi pano de fundo para um momento único da minha vida, do qual nunca vou me esquecer, irreconhecível. No Jornal pela tevê, lá estava a Praça Verde destruída. No meu e-mail, perguntas sem respostas. No meu skype, ligações encontraram celulares sem sinal. Foram dias difíceis e até hoje não entendo isto muito bem: quando foi que tudo acabou? E as pessoas? Em que medida elas "estão bem"? Mesmo "falando" com algumas, eu revejo fotos, vejo e leio jornal, e não reconheço mais. Eu saí da Líbia depois de ter ultrapassado meu limite de equilíbrio e desgaste emocional. Estava esgotada e abdiquei muito da boa sensação em deixar saudade nas pessoas que se deixaram conquistar por uma mentalidade tão diferente, que é a minha. Pelo jeito peculiar de ser do Ocidental. Pelo charme especial e único de ser Brasileira (o). Pelo compartilhamento daquele cenário e da vivência com pessoas que seguiram, assim como eu. Por apoiar e contribuir, em coragem e força, para a certeza de que sair dali era muito mais do que voltar para algum lugar. Sinto algo sobre isso tudo. Um alívio pela retirada, mas uma incerteza do que ficou. Dos Líbios que ficaram. Não merecem e não deveria ser. Achava que sabíamos disso tudo, na verdade, mas quanto mais as "coisas" acontecem, mais certo é que não sabemos "coisa" alguma.
*Não adesão à nova regra gramatical.