quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Impressões e Sensações - Parte III: O último não é o final

O curioso e dolorido prazer de resgatar experiências registradas pela memória dos sentidos.


"The real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes". Marcel Proust 



Orlando.
Trinta minutos depois do Neil ter me deixado no Hotel (what a weird feeling), meu ônibus passou. E estranhamente embarquei, deixando a incerteza para trás - e pra frente, mas ainda dentro de mim. 

A estada na cidade dos parques foi breve: praticamente um dia na Disney, com muita emoção e diversão. Depois segui para Savannah, de volta ao "velho" jeito: Problema logístico, gastança de dinheiro com hotel - rodoviária - bagagem.
Continuei falando com o Neil por mensagens via celular e pensava muito nele. Quase sempre. Toda hora. Quando me atentava ao presente, percebia que não entendia o inglês dos Bronx e, na parada em Jackson Village, perdi o ônibus. Foi a sensação mais angustiante até então: mais do que passar pelos becos em NY. Na parada o motorista pediu para descermos sem as bagagens e entregou para cada passageiro uma etiqueta com um  número geral. Segundo ele, em algum momento, alguém da empresa gritaria o tal número e embarcaríamos novamente. Nunca ouvi esse grito e como não apareci, o ônibus simplesmente arrancou. O desespero e a vontade de chorar bloquearam meu cérebro. Eu olhava para os lados e não conseguia enxergar nada. Quando tudo passou (yeap! Tudo passa!), achei graça e acreditei em Deus e São Longuinho de que minha mala estaria salva quando eu chegasse em Savannah, no próximo ônibus. Aprendizado disso? Keel's: "Whenever you think you are basically right, you are most probably wrong", somado a "Paying attention pays these days".

Em SAVANNAH, os dias não foram excepcionais, até porque cheguei na "estação" e minha mala estava lá, mas sem rodas e sem meu casaco rosa (que além de me proteger tinha valor sentimental). Com meu humor cada vez pior (nem Keel me salvaria mais), não havia taxi e saí arrastando a mala, agora capenga, até que aparecesse um pela rua. Uma boa alma apareceu e, depois que entrei e disse o destino, ele sorriu e delicadamente disse que eu estava indo em sentido oposto, besides, meu destino era longe - oh God!
E era. Naquele momento, eu achei que "nunca mais" pararia de gastar tanto dinheiro e assumi que estava pagando pela minha paz e tranquilidade psicológica, na fé de que Deus estava cuidando da espiritual. Com essa sensação de que havia começado tudo errado naquela cidade, comi um sanduíche próximo ao hotel e fiquei por lá. Os dois dias seguintes me levaram às mesmas ruas e frustrações, como há algumas semanas não sentia e, mais uma vez, tal como em Boston sem hospedagem, ou em Nova York em pleno Halem, tudo o que eu queria era ir embora para casa. Tenho vagas lembranças de Savannah, mas vaga estava eu.

A viagem até ATLANTA foi cansativa, o ônibus estava lotado, havia muita falação e meu Ipod estava sem funcionar desde a primeira noite em Savannah, quando resolvi organizar minhas músicas e limpar o lixo alheio que se aglomera em festas estranhas, com pessoas esquisitas - e folgadas.
A moça do meu lado parecia ter a minha idade, tentou puxar papo, mas eu realmente não estava nem um pouco interessada em conversar; nem mesmo quando ela me disse que havia pesquisado um Projeto em Bambuí, interior de Minas Gerais, sobre Saúde Pública, que complementaria a tese do curso dela.
Como toda chegada, estava ansiosa, frágil e insegura. Em Atlanta não foi diferente: quanto mais o ônibus andava pelas largas avenidas, mais eu temia não saber a exata localização para meu desembarque. Mais adiante, descobri que teria uma das melhores vistas da cidade e meu coração enfim se acalmou: museu da Coca-Cola, Georgia Aquarium (o dia em que os Pandas quase perdem um espaço no meu coração para os Golfinhos), Parque Olímpico, CNN e Andrew Street, com algumas opções de restaurantes, como o Hard Rock Cafe. Perto dali, ainda, pude ir ao Underground, mas não me prendeu por mais que 15 minutos. 

Foi em Atlanta que tomei o legítimo café da manhã americano, aliás, declinei do pedido depois que vi a mesa do lado sendo servida com panquecas, ovos, bacon, salsicha, waffle e etc. Quando declinei, disse à garçonete "por favor, quero só um café puro, sem chantilly e um pão com manteiga, ie: a toast". Ela disse "ah senhorita, I'm sorry, mas isso não tenho". Falei "frutas?". Ela "Ah sim, milkshake de morango". Me diverti na simplicidade da comunicação e no fim expliquei: "está vendo aquela xícara? Pois então, me veja uma só com café. E vê aqueles pães (apontei para os toasts - pães de forma torrados)? Pois então, quero só aquilo. Sem mel, Nutella ou pasta de amendoim". Ela trouxe, algum tempo depois, mas de certo, nem ela nem a cozinha entenderam. A mesa do lado então, já toda lambuzada de alegria pela comilança, me deu um "hi" que mais parecia um convite ao deleite. Dei "hi back" e eles também não entenderam.

No último dia, tentando ir ao Fernbanl Museum, conheci outra parte de Atlanta, me perdi e caminhei por lindos bosques (essa foi super divertida!); experimentei McDonald's pela primeira vez naquele país para saber se era diferente mesmo - e o quão-no-quê exatamente - 
cansei e já às 17h decidi voltar, de onde não tinha ido. Mas foi um dia super leve e agradável. Me reconectei.

À noite, arrumei minhas coisas, descansei, assisti Friends por horas incalculáveis  e agradeci por aquela experiência solitária, pela superação das dificuldades, 
sem qualquer problema grave que me fizesse de fato estar preocupada para os momentos finais daquela etapa de vida: participar da formatura da Te em BUFFALO e passar com ela, Ola e Nana, 10 dias entre Las Vegas, Los Angeles e São Francisco, numa road tripEntre o céu e a terra há quem saiba que este propósito me apresentaria algum sentido; belo e único. Mais do que me perder, fui por ali me encontrar.  

Neil e eu ainda nos falamos, bem menos, raríssimas vezes, uma por ano, quiçá, mas com muito carinho e uma provável vontade de nos vermos de novo, saber como tudo anda.
Estes dias fui correr e para ouvir minhas músicas - agora limpas - peguei o porta-dólares para guardar o Ipod (o mesmo! Voltou a funcionar logo depois do súbito) e dentro dele estava o guardanapo com o telefone do Neil. Só este não voou, nem se deixou levar.

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*Não adesão à nova regra gramatical.