terça-feira, 18 de julho de 2017

Não acaba o que não tem fim | Filipinas

"Dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários." (C.S. Lewis)
A saída de El Nido foi muito feliz: depois de Shimizu Island, ainda paramos por uma hora e meia em Seven Commando Beach - uma praia simpática, com coqueiros e algumas cabanas que finalmente deram sombra - onde pude, então, relaxar, admirar por completo toda aquela experiência e me despedir de uma das viagens mais incríveis que pude vivenciar. 

Quando cheguei de volta ao hotel, tinham me trocado de quarto, para um melhor, pelo mesmo preço - tentei entender o porquê, mas não consegui: importante mesmo foi que no meu último dia tomei o melhor banho e deitei na melhor cama de todos aqueles dias.

À noite, andei pelas ruelas confusas e dentre as inúmeras e até charmosas opções, acabei escolhendo um restaurante de cozinha mediterrânea à beira mar e me esbaldei com uma salada maravilhosa - finalmente!

Na manhã seguinte, antes de seguir para o aeroporto de El Nido, fui andar em busca de souvenir e foi outra decepção - arrependi por não ter comprado em Boracay, que apresentava melhor estrutura e esperei encontrar algo no aeroporto de Manila, já que em El Nido o que comprei, como lembrança, foi um chaveiro e um imã de madeira, pintado à mão.

Em menos de uma hora caminhando, transpirei mais do que em horas de academia. Calor úmido e sol forte, ainda que cedo, e que, com a falta de energia na ilha - ela é interrompida algumas vezes durante o dia, por horas - nem pude me refrescar debaixo dos ventiladores-furacão das lojas ou do ar-condicionado do hotel.

Me restou sentar à sombra de uma marquise e observar o movimento, até a máxima hora do banho e check out, para encarar as quase 30 horas de voo até chegar ao Brasil: o resto é história.

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Chegando ao aeroporto de El Nido, parecia que estava entrando em uma reserva florestal - estrada de terra, muito mato, muito, muito mesmo. Um primeiro guarda perguntou algo para o motorista, continuamos. Um segundo mocinho, de pé descalço, bermuda e camiseta surrada nos parou logo adiante e perguntou o nome do meu hotel(?). Ao enfim desembarcar no que parecia a casa de alguém - no meio do mato, claro - um outro rapaz, dessa vez calçado, mas sem qualquer uniforme de identificação, pediu cópia da minha passagem aérea, abriu uma lista de três páginas fixas numa prancheta, achou meu nome e disse: "You can go, ma'am". 

Fui, e a sala de espera estava fechada. Esperei. Vi movimento depois de uns 20 minutos e havia sido aberta, com fila. Entrei na fila e logo pude ver dois caras, agora uniformizados e de luvas, abrindo mala a mala, mochila a mochila: era a inspeção de segurança! 

Ri, desacreditada, esperando chegar a minha vez e me lembrei de que deixei uma calcinha - limpa, ufa! - bem por cima de tudo. Ri ainda mais - bom, azar (ou sorte) do policial. 

Passei por eles tranquila e, na hora H, nem me lembrei da calcinha - acho que nem ele - distraí observando os gringos com seus mochilões enormes.

Cheguei na sala de espera, onde, num dos cantos, tinha um buffet tipo daqueles coffees corporativos, montado. Era quase três da tarde, estava só com o maravilhooooso café da manhã (#sóQuenão) e fui até a mesa, pensando: "neste fim de mundo, nessa desestrutura, qualquer coisa deve custar meu rim". 

- O que é isso, moça?, perguntei - em inglês, claro - para uma jovenzinha que estava em pé, com as mãos para trás, parada, atrás da mesa.
 - [bla bla bla] de arroz.
(Claro que teria arroz né? O que se come sem arroz nesse país?).
Ri.
- E isso? 
(Juro que parecia pão de queijo: daria meu rim e meu fígado por eles).
- [bla bla bla bla].
Não entendi nada, mas perguntei:
- Quanto custa?
- It's free, ma'am!
Pensei: "gente, to burra! Quando entendo o inglês deles, sonho com uma resposta ideal!".
Insisti:
- Desculpa, moça. De graça? Não pago?
- Yes, ma'am, it's all free!
- Incluindo as bebidas? Café, água, chá gelado, suco?
Yes, ma'am, it's all free!
Quase comemorei com um "uhul, tô no paraíso!", mas me contive e delicadamente só peguei dois bolinhos que não sei do que eram e que, certamente, não tinha nada de queijo, só açúcar.

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Fiquei quase três horas no "aeroporto", tentei antecipar meu vôo, mas para isso sim, o pagamento seria um rim, um fígado e os dois pulmões - não valia a pena, mesmo!

Meu receio era atrasar demais e eu acabar perdendo o vôo em Manila, pois, relembrando a chegada, eu desceria no desembarque doméstico, pegaria o ônibus, faria check-in (não conseguia por celular, por causa da conexão) e despacharia a mala no saguão internacional, para depois passar pelo raio-x, imigração e, então, voar para Dubai - depois São Paulo.

Ao mesmo tempo que estava agoniada, sentia uma paz imensa. Uma alegria inenarrável de ter vivido aquilo tudo. Sentada, entre bolinhos, café e água, observando os passageiros, reativei várias sensações, desde o primeiro dia. Revi cada foto, incansavelmente. Agradeci por tudo e, inclusive, pela coragem de ter ido sozinha e de ter experimentando tanto ao meu gosto e ao meu tempo. Por ter criado tanta consciência de várias verdades e de que, sobretudo, "o lugar certo, senhora, é o seu coração. O lugar certo é sua interioridade. O lugar certo é a profundidade de sua alma e não um lugar geográfico. Há muita gente no 'lugar certo' com o coração errado".

3 comentários:

Rafita disse...

Mas.... e o arroz?! Rsrss

Brincadeiras a parte, simplesmente apaixonante seus posts sobre essa grande aventura. Curti demais! ! Parabéns Babi :)

Babi Teles disse...

ahahahhaa
mana Rafita! cara, que antipatia dessa arrozaiada, ahahahahaa.

Valeu, Rafita!
beijo no seu coração!

Unknown disse...

Uau...sem palavras para este ultimo post da viagem, que fecho incrível. Palmas pra você, pela coragem, pela experiência e pelo belo relato de tudo!!

Parabéns Babi!!

Bjos.

Fábio Drumond

*Não adesão à nova regra gramatical.