sábado, 14 de fevereiro de 2009

Só com a metade do cérebro

Cérebro [(...) 2. Inteligência, razão, espírito (...)].
Michaelis

Eu sempre fui aquela menina da turma que era a amiga das populares, dos nerds, dos pobres, dos excluídos e dos novatos. E acho que o meu tratamento comum a todas as pessoas, independentemente da origem delas, vem do ensinamento dos meus pais e da base familiar que eles construíram para mim e para meus irmãos.

Aprendi que no final todos vão feder igual e que as pessoas sentem e sofrem os mesmos sentimentos. Mas estando em um outro país e tão diferente ao que estamos aconstumados, este ensinamento hoje chamado de "sensibilidade cultural" se aflora e se torna mais evidente, mais cotidiano. E passamos a valorizá-lo em momentos não tão legais: "a gente cresce é na adversidade".

Antes de vir para cá conheci uma pessoa originalmente do Rio, que trabalhou comigo em São Paulo por dois meses. Ficamos bem amigos, próximos, companheiros e confidentes em um relacionamento familiar que acho que nunca tive com nenhum dos meus dois irmãos de sangue: "de sangue" porque este amigo do Rio será meu irmão igual, meu irmão da vida. Mas chegando aqui ele teve um problema de saúde e hoje precisou voltar ao Brasil para tratamento. E até que fosse essa a decisão - voltar - vivemos uma longa história em um lugar sem estrutura e com várias limitações; mas como todo país é feito de pessoas e livros - já dizia Monteiro Lobato - e pessoas muito boas - eu acrescento - houve salvação!

Nessa insatisfação, nesta comunicação travada, na falta de entendimento e de orientações, ficou claro para mim que se todos entendessem e aplicassem o que lhes foi ensinado, pelos livros ou pelos pais, a sensibilidade cultural poderia contribuir e muito para que as coisas fossem mais leves. Talvez até menos lenta.

E, antes de vir para este país, eu tive o privilégio de poder ter vivido nos últimos três anos com pessoas de vários lugares, várias culturas, "n" variações de comportamento. Principalmente no meu último ano eu aprendi a ser pontual porque holandeses e ucranianos se sentem absurdamente desrespeitados pelo atraso; porque ingleses e australianos são mais diretos na comunicação oral, mas nem por isso gostam menos de você; porque indianos comem carne e tomam cerveja sim; porque chineses (garotos) geralmente não dizem "oi" a uma garota antes dos 16 anos, a não ser que seja parente próximo; porque italianos não gostam mesmo de colocar catchup na pizza ou talvez porque eslovacos colham batata no verão para visitarem outros países da Europa no inverno.

E, aqui, não devo me deixar levar por ser brasileira. É preciso entender do que são formadas as pessoas que aqui estão e vivem e que eu me enquadre nelas. Enfim, ser sensível culturalmente nada mais é do que uma soma de fatores e característica que, se não temos, podemos desenvolver:

- Inclusão: Forma como as pessoas se comportam e se interagem em grupo, envolvendo cada um no processo de decisão e gerando performance inspirada pela confiança e pelo respeito. Sentimento ou atitude de admiração por alguém ou alguma coisa, valorizando as pessoas e deixando-as agir de acordo com cada umade sua unicidade.
- Compreensão ao outro: Habilidade de identificar e entender o sentimento das outras pessoas ou dificuldades, conectando-a em torno de suas ações e emoções.
- Auto-conhecimento: Equilibrada e honesta visão de sua própria personalidade e habilidade de interagir com as outras pessoas franca e confidencialmente.
- Pensamento flexível: Usar de conhecimento/expertise técnica efetiva para analisar as informações e situações, tomando de forma mais eficiente as decisões, bem como estando pronto para mudar de opinião.
- Comunicação efeitva: Ser claro no fornecimento de mensagens (feebdack ou opiniões escritas ou verbais) para convergir as necessidades de todas as pessoas envolvidas.

Parece complexo, mas não é. Principalmente porque é o viver, lê-se, portanto, a soma das nossas ações pessoais e profissionais. Assim, não importa origem; cor ou credo; ditadura ou liberdade; paternalismo ou agressividade. O sujeito em questão é uma pessoa e, assim sendo, deveria merecer tratamento respeitoso, se àquelas ao seu redor estivessem sensíveis a ele e a si mesmo. Os locais deram show: de novo, aqui há homens bons!
Há muito espaço para aprender. E a irracionalidade está na nossa cabeça. E a sensibilidade, também.

Para constar, sensibilidade cultural é uma das quatro características que forma o perfil de um agente de mudanças positivo. Em breve destrincho sobre as demais, se assim for.

4 comentários:

Juliana Bittar disse...

Oi Babi! Aqui é a Ju (Bittar).

Gostei do que escreveu... tem uma área de conhecimento que tem sido explorada na Psicologia que chama Diversidade Cultural. Já leu sobre? Você adoraria um professor meu, o Cláudio Torres. Posso te enviar material depois... um beijo!

Marcelinho disse...

Engraçado fofa, essas competências me pareceram bem familiar :) será pq?

Depois vamos bater um papo no msn, a saudade de vc já não está mais cabendo aqui...Amanhã estou indo para BH, colar grau e aguardar o carnaval! A gente se fala no meio da semana.

Grande beijo, seu pequeno grande fã!

Anônimo disse...

Cara, em todos os lugares do mundo você encontrará:

a) Pessoas bacanas;
b) Pessoas chatas;
c) Pessoas indiferentes.

Isso aconteceu comigo nos EUA, na Europa, no colégio, na faculdade, no trabalho e até na família. Acho que é essa pluralidade que torna as pessoas mais interessantes. Resta-nos ter a sensibilidade para coexisitir da maneira mais pacífica possível.

Beijo grande!

Anônimo disse...

rá. ainda bem que li seu post hoje, quarta-feira. um dia em que tudo deu errado devido, exatamente, a falta de compreensão do outro, a uma comunicação efetiva que fiz.

hehehe

te mandei um email há algum tempo. vc ainda usa os mesmo endereços?

abs de urso

*Não adesão à nova regra gramatical.