Perspectiva [arte de representar num plano os objetos tais como se apresentam à vista, conforme a sua posição e distância;aspecto que apresentam os objetos vistos de longe; panorama; aparência; miragem; probabilidade. em —: esperado no futuro].
Priberam
Esta semana eu entendi porque quem tem dinheiro aqui vai comprar móveis em Dubai, na Europa ou na China. Realmente, ser sofisticado nos nossos padrões ou simplesmente procurar algo pelo bom-gosto não é fácil - aliás, tenho reparado que nada é normal por aqui. Há sempre poréns: aí também é assim, será?!
Fui com uma das pessoas que vai dividir condomínio comigo e um dos nossos motoristas (local) procurar mesa para sala de jantar: que suplício!, a começar pelas ruas. Comércio movimentado, carro em fila-dupla, buzinas, poeira, vento e muito amarelo-ouro. Óculos escuro, por favor. Em determinados aglomerados de "lojas", eu me sentia em um museu. Aquele cheiro de mofo, móveis escuros de madeira pesada, forte e decorações bordadas com cores reluzentes - chi-quê!
Estávamos quase desistindo daquele dia, quando subitamente o motorista parou em frente a uma loja. Nem desci do carro. Mas aí ele fez sinal, rindo de felicidade, com o polegar direito levantado para cima. E não é que a mesa era bonita?! (Para quem é de BH, me fez lembrar algumas peças do Ponteio - é pois é).
Fechamos a compra e no dia seguinte acordaríamos a entrega e só então faríamos o pagamento. De boba só tenho a cara - fico com cara de idiota mesmo, não entendo nada de árabe, pareço bem lenta, olhando para aqueles que dialogam com meus olhos esbugalhados e boca aberta. Babei.
O dia seguinte se tornou o dia atual. Fui à loja - porque por telefone não se negocia - só com o motorista e chegando lá o preço e a mesa eram diferentes. Haha. Que beleza. Claro que mais caro. Quanto ao tipo, okay, passa. Era bom demais para ser verdade. A mesa de jantar "brasileira" era para inglês ver. Desistimos daquela loja, complicada demais para nosso pequeno orçamento, tempo e paciência, até que na reta final da peregrinação já com clima bem negativo, um "museu" nada convidativo recolhe por trás de seus móveis rústicos uma bela mesa de jantar com cadeira lisa - sem detalhes acolchoados - e vidro. Pois é, luxus.
Fechamos o mesmo acordo e, acreditem, duas horas depois ela estava sendo montada lá em casa. Linda.
Mas na verdade, o melhor destes últimos três dias foi ter convivido por boas horas com o motorista. Ele me ensinou muita coisa da cultura, religião, crença e comportamento a respeito do que eles adotam por aqui.
Um momento marcante, dentre vários, foi na volta para o escritório. Eu estava muito feliz - finalmente tinha feito algo útil na composição da casa - e não havia reparado que ao invés de música ele escutava ao noticiário. De repente, parados em um sinal, ele disse:
- Senhorita Bárbara, você viu o que um jovem alemão fez ontem?
- Não - respondi.
- Matou várias pessoas, entre estudantes e professores.
- Meu Deus, não vi não. O pior é que não foi a primeira nem a última vez, não é? Não entendo como um ser humano é capaz de fazer isso.
- Mentalidade Senhorita Bárbara, mentalidade. Sabe, tenho duas filhas e a mais velha, de dois anos e meio, não anda, não fala, não come. Deus quis assim. A vida é assim. Deus dá, só ele pode tirar. O ser humano não deveria ter nada a ver com isso.
Pausa. Forte. Foi assim também no carro.
Não que minha felicidade tenha ido embora junto com as palavras do meu "professor-motorista", mas fez dela um pouco contida. E eu preocupada com a mesa de jantar:
"Mentalidade senhorita, mentalidade".
Priberam
Esta semana eu entendi porque quem tem dinheiro aqui vai comprar móveis em Dubai, na Europa ou na China. Realmente, ser sofisticado nos nossos padrões ou simplesmente procurar algo pelo bom-gosto não é fácil - aliás, tenho reparado que nada é normal por aqui. Há sempre poréns: aí também é assim, será?!
Fui com uma das pessoas que vai dividir condomínio comigo e um dos nossos motoristas (local) procurar mesa para sala de jantar: que suplício!, a começar pelas ruas. Comércio movimentado, carro em fila-dupla, buzinas, poeira, vento e muito amarelo-ouro. Óculos escuro, por favor. Em determinados aglomerados de "lojas", eu me sentia em um museu. Aquele cheiro de mofo, móveis escuros de madeira pesada, forte e decorações bordadas com cores reluzentes - chi-quê!
Estávamos quase desistindo daquele dia, quando subitamente o motorista parou em frente a uma loja. Nem desci do carro. Mas aí ele fez sinal, rindo de felicidade, com o polegar direito levantado para cima. E não é que a mesa era bonita?! (Para quem é de BH, me fez lembrar algumas peças do Ponteio - é pois é).
Fechamos a compra e no dia seguinte acordaríamos a entrega e só então faríamos o pagamento. De boba só tenho a cara - fico com cara de idiota mesmo, não entendo nada de árabe, pareço bem lenta, olhando para aqueles que dialogam com meus olhos esbugalhados e boca aberta. Babei.
O dia seguinte se tornou o dia atual. Fui à loja - porque por telefone não se negocia - só com o motorista e chegando lá o preço e a mesa eram diferentes. Haha. Que beleza. Claro que mais caro. Quanto ao tipo, okay, passa. Era bom demais para ser verdade. A mesa de jantar "brasileira" era para inglês ver. Desistimos daquela loja, complicada demais para nosso pequeno orçamento, tempo e paciência, até que na reta final da peregrinação já com clima bem negativo, um "museu" nada convidativo recolhe por trás de seus móveis rústicos uma bela mesa de jantar com cadeira lisa - sem detalhes acolchoados - e vidro. Pois é, luxus.
Fechamos o mesmo acordo e, acreditem, duas horas depois ela estava sendo montada lá em casa. Linda.
Mas na verdade, o melhor destes últimos três dias foi ter convivido por boas horas com o motorista. Ele me ensinou muita coisa da cultura, religião, crença e comportamento a respeito do que eles adotam por aqui.
Um momento marcante, dentre vários, foi na volta para o escritório. Eu estava muito feliz - finalmente tinha feito algo útil na composição da casa - e não havia reparado que ao invés de música ele escutava ao noticiário. De repente, parados em um sinal, ele disse:
- Senhorita Bárbara, você viu o que um jovem alemão fez ontem?
- Não - respondi.
- Matou várias pessoas, entre estudantes e professores.
- Meu Deus, não vi não. O pior é que não foi a primeira nem a última vez, não é? Não entendo como um ser humano é capaz de fazer isso.
- Mentalidade Senhorita Bárbara, mentalidade. Sabe, tenho duas filhas e a mais velha, de dois anos e meio, não anda, não fala, não come. Deus quis assim. A vida é assim. Deus dá, só ele pode tirar. O ser humano não deveria ter nada a ver com isso.
Pausa. Forte. Foi assim também no carro.
Não que minha felicidade tenha ido embora junto com as palavras do meu "professor-motorista", mas fez dela um pouco contida. E eu preocupada com a mesa de jantar:
"Mentalidade senhorita, mentalidade".
4 comentários:
Minha querida Bárbara,
São momentos como esse que nos fazem refletir sobre a vida e sobre nossos atos. É a vida...no seu formato mais realista!!
Muitas pessoas passam por nossas vidas, e cada uma nos deixa uma lição. Feliz é àquele que consegue aprender com cada uma delas.
Beijinhos e cuide-se!!
As pessoas mais humildes e sofridas sao aquelas que nos ensinam a viver. Poucas palavras podem nos abrir os olhos para enxergarmos o que é felicidade para cada um.
PERSPECTIVA!
Sim Babi, its really conforting to know that one thing, one situation; has more than one way to be seen and to be taken as.
This creative excersice shall support the challenges that we face. But also shall impulse us to grow and be more mature with... mentalidade señorita!
Beijos!
KT
A menininha não fala e não anda porque ainda é muito novinha. Daqui a pouco ela aprende, tenho certeza.
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