terça-feira, 27 de junho de 2017

Namastê II* - Filipinas | parte 4

"Não importa o que os outros fazem, a menos que você decida que isso importa para você**". Michael A. Singer 

Cheguei no hotel de Puerto Princesa e a recepção foi totalmente diferente da de Boracay: perguntaram do atraso do meu voo e se eu queria um lanche, por estar aparentemente cansada. Ah e, obviamente, falavam inglês; além do que a estrutura deste era bem mais aconchegante e confortável: enfim, relaxei.

No dia seguinte, acordei ao som do latido de um cachorro, galo cantando e criança chorando, sem ter me dado conta de que não havia feito reserva para as ilhas no dia anterior - nessa de chegar tarde, acabei não conferindo as opções - mas depois do café (arroz-papa, peixe frito, macarrão com atum e carne cozida com cebola; ovos mexidos e pão de forma), me dei ao desfrute de deitar na piscina e descansar, além de nadar um pouco, até a hora do "City Tour", que foi o que consegui agendar da manhã para a tarde.

Um pouco antes do guia chegar, resolvi sair a pé pelas redondezas e ver como era, onde eu estava; acabei pegando um tuk-tuk para aproveitar a experiência, sob o pretexto de comprar água e protetor solar: é uma arte dirigir e sobreviver nesse amontoado de maquininhas que se comportam como formigas, mas "causam" como manadas de elefante e, logo pelos poucos metros que andei, percebi que estava no meio do mato - ambas as laterais pelas quais olhava eram repletas de mata fechada, o que explicava a sinfonia da manhã: sons ausentes em Boracay.

À tarde, pelo city tour, foi interessante, embora penoso, compartilhar do modo de vida dos Filipinos, mais próxima da realidade deles: 35% só da população é urbana, os outros 65% prevalecem no estilo de vida rural que vi na estrada entre Boracay e o aeroporto - e um pouco na aventura da manhã: casebres sem água, luz ou esgoto; muitas crianças e adultos na rua sem asfalto tentando vender de tudo um pouco em barracas que se assemelham às dos ambulantes de comida nas avenidas de São Paulo ou; não, pior: bem pior! Aliás, pense nas barracas de yakissoba nas estações de metrô - mas ainda não é isso. Ok. Sem comparações; são diferentes e ponto.

Puerto Princesa me lembrou muito Colombo, no Sri Lanka. Em alguns momentos quis chorar, não sei porque. Uma memória emocional vendo aquelas pessoas, tão sem nada, mas que me pareciam tão felizes: que coisa!

O clima em Puerto Princesa estava bem mais ameno do que em Boracay e menos úmido, mas ainda assim, beirando os 30oC, céu azul e sol rachando. A cidade em si tem zero atrativo, é bem precária, mas é a capital de Palawan - um arquipélago de 1708 ilhas, sendo que a 30 minutos dali, de carro, se chega em Honda Bay (que significa "águas profundas"): um conjunto de 16 ilhas!

Passado o city tour, tive a melhor refeição, finalmente, dos últimos cinco dias: faminta, pedi uma massa com camarões no hotel e senti dignidade (risos), até mesmo porque o dia seguinte demandaria energia, afinal, visitaria três das 16 ilhas de Honda Bay: Starfish Island, Luli Island e Cowrie Island.

Mais interessante do que as praias em si foi o percurso: eu, para variar, a única ocidental, mulher e sozinha, o que dentro da van despertava olhares atentos dos outros turistas.

A primeira ilha, Starfish, foi a que mais curti estar, aproveitar a água e a paisagem - as demais me pareceram pequenas ou mal distribuidas com a logística de pessoas e barcos; aliás, parênteses: vim em "baixa temporada", talvez em alta, não valesse a pena pela aparente espera e fila, clássicos de destinos superprocurados.

Ali em Starfish almoçamos (arroz-papa, frango, peixe e qualquer coisa do porco na grelha, alguma coisa com berinjela, molho de pimenta, melancia e manga verde - não madura). Comi basicamente arroz e peixe, que não tinham gosto de nada - ah!; aquele dia minha boca era puro curry, porque o arroz me parece "cozido" mesmo sem tempero - mangas e quase a melancia inteira: sorry guys!

Neste dia a comida em si não me chamou a atenção - acho que até esperava por este cardápio - mas o hábito dos filipinos de se alimentarem com as mãos - aliás, sem talheres, porque com as mãos todos comemos; ufa!, e os talheres deles são garfo e colher, sem faca - fazendo uma montoeira de barulho com a boca, isso eu não consegui lidar: comia, pedia licença e saía da mesa: teria sido eu menos observadora ou menos incomodada em outras experiências similares?** 

Ao longo da tarde, fomos de ilha em ilha e lá pelas 15 horas eu já estava exausta do sol e sobe-e-desce dos barcos: impressionante como estarmos presente no momento faz do tempo parecer mais longo e suficiente para o que nos pretendemos, quando inclusive exercitamos com foco, paciência e entendimento as escolhas.

A beleza da cor do mar em Cowrie Island me fez relaxar: comprei uma cerveja, desfrutei muito tudo aquilo e horas depois me preparava para aquele que estava por ser a grande razão de tudo: El Nido.

*Uma forte referência à minha experiência no Sri Lanka. Como é misturado o que sinto por essas pessoas. Como é mágico, misterioso, mas, sobretudo, bonito. Meu "vida longa" vai para todos os asiáticos, com muita gratidão por me ensinarem tanto". E eu decidi que isso importa para mim.

Um comentário:

Rafita disse...

Estou adorando a saga "arroz-papa" ;)

*Não adesão à nova regra gramatical.