"A gratidão é a consciência de que ninguém vai a qualquer lugar significativo sozinho". Ed. Rene Kivtz
Acordei ao som dos outros hóspedes indo para o café da manhã. Parecia que tinha dormido bem e levantei como uma criança para seu primeiro dia de aula, animadíssima para descobrir quais coleguinhas ficaram na mesma sala e quem seria a nova professora - me arrumei no capricho, com bastante protetor solar, para me encontrar com Boracay.
Acordei ao som dos outros hóspedes indo para o café da manhã. Parecia que tinha dormido bem e levantei como uma criança para seu primeiro dia de aula, animadíssima para descobrir quais coleguinhas ficaram na mesma sala e quem seria a nova professora - me arrumei no capricho, com bastante protetor solar, para me encontrar com Boracay.
O salão do café da manhã era cara-a-cara com o mar. Desculpa, gente, não é trocadilho: mas que vista mar|a-vi-lho-sa!
Logo uma moça veio me atender com o clássico e estridente "Good morning, ma'aaaaam", que só os asiáticos sabem fazer; e me entregou o cardápio. As opções não me causaram espanto ou novidade - mas eu realmente só precisava comer qualquer coisa.
De todo modo, não sou mesmo de encarar mini-refeições como desjejum e pulei, quase que com pesar, a opção local: noodles com mistura de carnes apimentadas e arroz-papa, tipo os que recebem os sushis no Brasil; e fui para o "café americano": ovos mexidos, bacon (que dispensei), batata frita (que dispensei - por que, né?, eram oito horas da manhã!) e duas fatias de pão - seco.
"Barriga cheia (#sóquenão), pé na areia", literalmente! Neste primeiro dia, me restringi a caminhar por toda a extensão dessa praia em que estava, White Beach (7km), conhecer as ruas paralelas e me surpreender com a cultura filipina/asiática de tomar sol: foram horas observando os trajes de banho que os protegem da radiação e algumas de incômodo nos momentos em que, ao deitar para desfrutar da belíssima cor azul-verde-água daquele mar, me senti intensamente assediada, a ponto de me vestir e ficar na sombra: uma pena!
No dia seguinte, eu já tinha reservado um passeio de barco para Puka Beach, 30 minutos dali, conhecida não só por sua beleza também paradisíaca, mas pela prática de kitesurfing, que decora ainda mais a paisagem.
Antes de chegarmos até lá, paramos em uma enseada muito bonita, em que não pude mergulhar, por não ter com quem deixar minha mochila - aliás, tinha me esquecido dos contras de viajar sozinha: haverá um dia uma proteção 100% à prova d'água para dinheiro e coisinhas?
Mais surpreendente do que descer em Crystal Cove, foi parar em alto mar para mergulharmos e vermos corais. A sensação de quando mergulhei, ainda que de roupa, porque 100% do meu grupo era asiático e até as crianças tinham seus corpos cobertos - não quis arriscar - e vi aquele azul-petróleo, com "seus peixinhos a nadar no mar", foi como se eu tivesse encontrado Deus e ele tivesse me dado um abraço aconchegante, abençoado e iluminado por aqueles raios de sol que davam luz e cor ao que parecia escuro.
Passado o sopro no coração por uma gratidão do tamanho daquele oceano, a parada para o almoço foi uma experiência antropológica, mas não saborosa: dividi a mesa com uma família filipina e a forma como comem - e foi nos servido o clássico; frango ao curry com pimenta, arroz-papa, noodles e o tal "barbecue", que é carne de porco bastante apimentada - me deu um desconforto imenso.
Eu entendo, afinal, moro em São Paulo e encontro dificuldades, mas veganos e vegetarianos passariam muito aperto. Eu não sou radical, mas não posso comer pimenta; então mesmo que não me restringisse à carne, a pimenta era um obstáculo. Cheguei até a experimentar um pedacinho do frango, mas não poderia arriscar: "too spicy!".
A mim restou comer o arroz, que não sei se tinha curry, ou se tudo cheirava a curry, e fiquei com o gosto de curry o tempo inteiro; mas não dei conta de participar da dinâmica do almoço da família, com suas mãos lambuzadas e misturadas entre carnes, melancia e manga - e me retirei, constrangida, com meu prato cheio abandonado às moscas e ao calor úmido dos arredores de uma das praias daquele Island Hopping.
Para o dia seguinte, meu último em Boracay, havia reservado um passeio ao Ariel's Point que, pelas fotos, levava a ser um dos lugares mais incríveis em que poderia estar.
Diferentemente do barco à Puka Beach, este para Ariel não tinha nenhum turista filipino e, pela primeira vez, vi europeus - russos, suecos e alemães - além de um casal neo-zeolandes. E, só por isso, relaxei e me abri ao que estava por vir, quase sem expectativas, porque os dias anteriores já haviam sido um presente, cada um à sua forma, e entrei nas rodadas de drinks ainda em alto mar.
Quando enfim o barco atracou, meu Deus!, estávamos no meio do nada, com a água já mais escura e belíssima. Logo as pessoas começaram a saltar, outras a subir os cliffs e a pularem de alturas que variavam de cinco, oito e 15 metros.
Optei por subir a pé a pedra, larguei minha mochila sem qualquer preocupação, "tirei a roupa", fui para a tábua dos cinco metros, olhei pr'aquilo tudo e gritei, em desabafo, com uma força intensa de agradecimento, um enorme "u-hulll" e me joguei, literalmente, naquela experiência.
Ao longo das cinco horas em que ali estivemos, pulei várias vezes - até dos oito metros - tomei cerveja com os gringos, nadei muito, vi mais peixinhos e me diverti vendo as sul-coreanas caírem dezenas de vezes dos stand-up paddles e dos caiaques.
Na volta para o hotel, enquanto caminhava do ponto de desembarque do barco até meu local, sorria gratuitamente, tomando a cervejinha filipina dada pela tripulação, quando decidi parar num dos restaurantes mais badalados de White Beach para comemorar não só os dias, mas a beleza de se ver o que pouco é visto e por me desprender à primeira versão dos fatos - afinal, o ponto alto de Boracay não foi exatamente em Boracay - e a estranheza se transformava no belo: O dia seguinte guardaria novas andanças, surpresas e aprendizados sobre mim mesma.
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