Notícia [1 Conhecimento, informação. 2 Nova, novidade (...) 6 Memória, lembrança. 7 Nota, observação, apontamento. 8 Noção, conhecimento].
Michaelis
Esses dias uma pessoa chegou em Tripoli e vinha direto do Brasil. Trouxe em sua mala duas revistas para mim: a Época e a Época Negócios. Optei primeiro pela semanal, pois já não estava assim tão atualizada, então não gostaria de passar mais tempo distante das manchetes principais que narram o Brasil.
Fiquei um pouco chocada com algumas reportagens, como a que faz um paralelo do custo do Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais, com a construção e montagem de quatro hospitais como o Instituto do Câncer em São Paulo, com 474 leitos - e que ainda sobraria dinheiro para um hospital menor, com 200 leitos.
Ainda, li quanto às especulações de um terceiro mandato do Presidente Lula, da doença da Dilma, das articulações do PSDB e da volta de Renan Calheiros, daquele jeito.
Sobre o mundo, nada além de Barack Obama e o (maluco) Kim Jong-il, da Coreia do Norte, com seus testes com bombas nucleares.
No fim das contas e da revista, tudo permanece como está - e esteve. A impressão que tive foi de que estou imersa em uma bolha e que tenho utilizado a internet para raríssimas curiosidades e excessivas mensagens aos amigos e familiares, para dizer que estou bem.
Embora minha página de abertura do navegador seja a de um Jornal Brasileiro, rapidamente passo os olhos pelas manchetes e dificilmente clico em alguma para me aprofundar um pouco mais. E, na verdade, não saber o que acontece por lá me fez sentir emburrecida, mas ao mesmo tempo, não vou prometer para ninguém, nem a mim mesma, de que vou me esforçar para me sentir conectada ao "lá".
O que vou tentar fazer é procurar por estas pessoas que vêem do Brasil e pedir que elas tragam oportunidades como essa. Só com algo impresso, em mãos, consigo priorizar a minha leitura e não ao trabalho ou ao ócio individual - e é por isso que acho que os livros não vão acabar um dia, como o vinil, em troca do CD e quase o CD, pelos MPs - 3, 4, 20 - da vida.
Divagações à parte, ler a Época da primeira semana de Junho me trouxe a conhecimento o Projeto Generosidade. Em soma, veio uma reportagem ilustrando o que é e tende a ser a Terceira Edição desta iniciativa.
O que li retratava parte do trabalho do Instituto Rukha, uma organização não-governamental que ajuda mães de crianças pedintes a refletir sobre a educação que dão a seus filhos: forte e difícil, bem Brasil.
E, curiosamente, ontem fui comer pizza com as pessoas do departamento onde trabalho e, pela primeira vez, andei a pé por uma das ruas mais movimentadas de Tripoli, vivendo um pouco do que é estar aqui, finalmente. Dentre umas passadas e outras, entre a ida e a volta, antes e depois da pizza, eu vi algumas crianças entre os carros em meio ao engarrafamento, pedindo esmola* e outras supostamente tentando vender algo que tinha acabado.
De novo, ao meu ver, eles estão começando errado. Estão fazendo o país renascer sob os piores mau-exemplos que temos: falta de transporte público, infra-estrutura, educação e acessos em geral.
Enfim, parecia que tinha lido uma Época da Líbia e, como disse Luiz Alfaya, diretor do Rukha, "o farol é o melhor caminho para acabar com o futuro de uma criança".
Assim, começamos a mesma história, em outro lugar, da mesma forma: "Quem nunca contribuiu com isso, dando uma esmolinha e depois acelerando o carro com a consciência aliviada?", Alfaya. Resta saber se o fim se repetirá por aqui, como o começo.
*Vale dizer que as pessoas que estão em Tripoli há mais de um ano se surpreendem ao ver cenas como esta, ainda não vistas até então. Será uma conseqüência do Pioneirismo, do estrangeirismo, do crescimento acelerado, desordenado, não planejado? E a gente faz o quê? Quem é "a gente" e o que é "o quê"?
"Os barcos estão seguros se permanecem nos portos. Mas não foram feitos para isso". Fernando Pessoa
sábado, 27 de junho de 2009
Notícias de lá retratam parte disso aqui
domingo, 21 de junho de 2009
A escolha de ir - e permanecer
"Se você tem coragem de deixar para trás tudo que lhe é familiar e confortável (pode ser qualquer coisa, desde a sua casa aos seus antigos ressentimentos) e embarcar numa jornada em busca da verdade (para dentro ou para fora), e se você tem mesmo a vontade de considerar tudo o que acontece nessa jornada como uma pista, e se você aceitar cada um que encontre no caminho como professor, e se estiver preparada, acima de tudo, para encarar (e perdoar) algumas realidades bem difíceis sobre você mesma... então a verdade não lhe será negada".
Essa frase poderia ser minha, mas não é. E a li em um momento muito especial: na Sala de Embarque em São Paulo, vindo para cá. Foi mais um dentre os tantos presentes que ganhei de pessoas que me amam, me querem bem e definitivamente torcem muito para que as minhas escolhas sejam certas e as melhores para mim mesma e, em conseqüência, para elas também.
Mamãe me deu um álbum de fotos que marcaram os meus 24 anos até esta partida, com cartas do meu irmão mais velho, dela e do meu pai. Meus amigos me deram também fotos e cartas, objetos, músicas e inseparáveis livros.
A citação acima é de Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert - de quem já falei rapidamente neste blog, no post sobre Milão.
Vários destes presentes vieram a mim na Sala de Embarque, como uma surpresa intensa, ao abrir minha mochila para pegar... um livro!, e lá estavam todas as outras coisas. São segundos em que você repensa rapidamente se vai ser uma boa idéia entrar no avião e deixar tudo isso - que está estampado nas fotos - "para trás" e, lendo a contra-capa de Comer, Rezar, Amar, tive certeza de que aquela leitura eu teria que postegar para um momento em que eu estivesse mais certa da escolha, feliz e equilibrada.
Hoje, terminei de ler o livro. Não sei se o recomendaria. Não gosto de influenciar esse tipo de escolha. Mas, para mim, valeu pelo momento em que foi dado e por quem foi dado e pela escrita que interpretei há quase seis meses, versus a de hoje.
Em resumo, é a história de uma Jornalista engraçada e muito bem sucedida que decide viver quatro meses na Itália, Índia e, por fim, Indonésia, a procura, neste total de 12 meses, do equilíbrio.
Em paralelo comigo, nos últimos dois anos eu vivi o "oito" em São Paulo e aqui diria que vivo o "oitenta" - sem considerações, é só uma ilustração de que são momentos extremos.
Refleti sobre várias coisas durante a leitura do livro, mas três coisas me marcaram para a aplicabilidade do meu equilíbrio:
- "Não participo da palavra, portanto não estou morando aqui por completo", página 112, sobre a Itália: falar na língua do líbio é poder ser entendido por mente e coração, não posso fazê-lo;
- "(...) Você é o que você pensa. As suas emoções são escravas dos seus pensamentos, e você é escravo de suas emoções", página 140, sobre a Índia: eu ainda falo muito, mas tenho aprendido a gostar e a sentir falta do silêncio;
- "(...) Quatro virtudes de que uma pessoa necessita para ter segurança e felicidade na vida: inteligência, amizade, força e (adoro essa parte) poesia", página 259, sobre Bali: Ler é o melhor refúgio!
E, sem dúvida, em qualquer lugar que se esteja, é premissa básica que você se alimente, reze, ame e, acrescentaria, inspire-se pelo o que aparentemente ficou para trás.
sábado, 13 de junho de 2009
Sem quentão ou paçoca, vai, uai
A Teca - Ester - é Arquiteta, tipicamente paulista pelo sotaque e mundana pelas experiências que agrega em si mesma. Como eu, já morou no Canadá e jogou handball, fez cirurgia no joelho e é fã dos seriados da Warner - aliás, ela é mais fã e entendida do que eu.
A Magequita - leia-se "Marrequita", Elizabeth - é Engenheira e, assim como a Teca, trabalha no Projeto do Aeroporto: É Equatoriana e paciente em ouvir a prática lenta do meu Espanhol.
Juntas, com uma Turca e uma Líbia, nos encontramos na Medina, ruína do Império Romano que hoje é um conglomerado para compras no Centro (Velho) de Tripoli. Nossa missão naquele fim de tarde era achar vestido ou qualquer estampa xadrez e/ou com flores que nos fizesse jeca, para irmos bem a caráter, na Festa Junina da Empresa.
Eu estava empolgadíssima, porque adoro principalmente as comidas desta Festa e, rezava a lenda, haveria canjica, paçoca e pé-de-moleque: "Nó, na Líbia?" - era tudo o que eu pensava durante a semana!
Com toda essa expectativa e sob a boa companhia e engraçada energia da Teca, com o desconhecido entendimento da Magequita sobre o que seria essa Festa, saímos à procura de vestidos e, sem querer ofender - mesmo! - perguntamos para a Líbia onde poderíamos encontrar um parecido com o que ela estava usando =). E achamos! Não só um, mas três, e a brilhante arquiteta, como uma boa coordenadora de idéias, fez com que alternássemos somente a cor: Eu de xadrez vermelho e preto; ela de preto e azul e a Magequita de preto e roxo: Sucesso!
Demos uma parada para comprar agulha, linhas e flores para decorar o vestido - ah, claro, até chapéu de palha a Teca achou e, quando coloquei, parecia uma Vietnamita, mas com maquiagem, flor, fita vermelha e tranças, fiquei uma bela camponesa - e legitimamente brasileira!
Uma noite antes do dia da festa, desci para o apartamento das meninas para "bordar e costurar" - quem me conhece não vibre com o ocorrido: eu quebrei a agulha! =)
Fizemos uma prova básica e no dia seguinte era só alegria. Maquiagem "leve" nos olhos, ao contrário das bochechas e da boca! Pintinhas! Na festa, algumas pessoas bem engraçadas, mas éramos três!, e a Inês, terceira moradora do andar debaixo, também Arquiteta, era a mãe jeca mais chique e nossa Festa Junina na Líbia daria um caldo nas do Brasil.
Tinha canjica e docinhos. Eu não vi paçoca nem quentão - mesmo que fosse suco de uva de caixinha quente.
O trem foi bão, engraçado e mais uma constatação de que isso aqui dá para ser "um pouquinho de Brasil, ai ai".
sábado, 6 de junho de 2009
A cidade da moda, do design e da não-Itália
Eu não gostei de Milão. Enquanto ia do Aeroporto de Malpensa de ônibus para a Estação Central, a primeira impressão foi de que a cidade é muito grande para o que tinha imaginado, feia e com as negativas que a civilização traz: sujeira, em todos os aspectos. Naquele trajeto pude ver que os carros da Fiat são bem diferentes dos nossos, mas que a poluição visual com propagandas políticas são parecidas. Ao contrário de Paris e Amsterdã, pouquíssimas bicicletas pelas ruas. Durante aquele percurso decidi me lembrar de que foi opção minha não ler sobre o destino antes para não criar expectativa e que, então, se fosse bom seria ótimo e que se fosse ruim só não seria tão legal assim.
Os dias se passaram e posso afirmar que não voltaria lá se não fosse, de novo, pela companhia. O Du me recebeu na Estação conforme combinado e pude sentir o quanto é bom termos um rosto conhecido em um lugar diferente, em que não podemos falar a nossa língua, ou não nos comunicar devidamente, sob qualquer forma que seja.
O Du é um talento, embora estudante, já um grande publicitário. Antenado, moderno, inteligente. Me ensina muito sobre estratégias, mercado e que tipo de profissional ser neste meio perigoso que se chama "corporação": também o conheci em São Paulo.
Diferente da Mila, Lora e Lieske, não trabalhamos tão diretamente em um Projeto específico, mas ele era uma das estrelas com as quais eu contava para conseguir entregar alguns trabalhos pontuais e importantes.
E assim, Milão valeu! Tomamos muito gelato e lembrei do porque Elizabeth Gilbert, escritora de Comer, Rezar, Amar, engordou 13kg em quatro meses na Itália. Ah, falando nisso, fico feliz que Milão não seja a Itália, Paris não seja França, Amsterdã não seja Holanda e Rio de Janeiro não seja Brasil, assim, teremos motivo para voltar e conhecer outras impressões que não somente as primeiras.
Fomos ao quadrilátero da moda e, estando com o Du, impossível não divagar sobre as "Lojas Conceito" - Armani: divino!
Enfim, Milão é a Igreja Duomo, naquela praça aberta que reúne todas as nacionalidades e raças que se encontram pela cidade, em uma celebração calma, bem italiana, com pães, salame, vinho e gelato.
A Duomo levou 500 anos para ser construída e lembra o estilo gótico de Sacre Coeur ou Notre Dame, em Paris. Em frente à ela há uma galeria belíssima, ó ragazza, chamada Victorio Emmanuele II, que concentra outras Lojas Conceito e restaurantes charmosíssimos, que ali se revelam a Itália que imaginei encontrar em Milão.
Esta galeria demorou 90 anos para ficar pronta e o jovem idealizador, primeiro a usar cristais em vidro como cobertura, morreu sem que antes a visse realmente - também pudera.
Para fechar o passeio, após passarmos pelo Brera, o que seria a Vila Madalena de São Paulo, andamos pelo Naviglio, o quase equivalente a andar pelo Rio Sena em Paris ou pelos canais de Amsterdã. Lá comemos uma pizza, Mama Mia! e, depois, matamos o dia a andar pelo Lago di Como, estilo Argentino, com o que seria a Cordilheira no fundo, em divisão com o Chile, mas lá, menos simples; já que se faz a linha que separa da Suíça, onde pudemos ver os Alpes ainda com neve!
Findamos a noite com um belo Maccherone a Carbonara regada il vino Merlot!