sábado, 25 de julho de 2009

Duas semanas

Esperar [1.Ter esperança em, estar à espera de, contar com (...); 2. Aguardar; 3 Estar na expectativa; 4 Contar, obter; ter como certo ou muito provável, conseguir; 5. Confiar no auxílio ou proteção (...)".
Michaelis.

*Leia ouvindo
Letra

Acabei a fisioterapia. Seis sessões em duas semanas. Ridículo, mas a massagem era boa. A pessoa que me atendeu, que, infelizmente, não posso afirmar que seja fisioterapeuta, não falava (quase) nada de Inglês.

No primeiro dia ela me mandou ir para a piscina - talvez eu tenha coragem de descrevê-la um dia - e quando entrei (ok, depois saí e não voltei mais. Passou!) ela disse "Vai, nada".

- Como assim?; perguntei.
- Vai, nada, ela insistiu.
Decidi ir por mímica.
- Você não sabe nadar? Nadaaaa - enfatizou.
Desisti e fiquei parada, em pé, por 40 minutos, até que a maluca voltou e começou a erguer as pernas próximo à beira da piscina. Entendi que era aquela brincadeira de "imitar o bobo" e foi o máximo que fiz quanto aos bem recomendados "exercícios na água": dez vezes ergui a perna direita e dez a esquerda.

No resumo destes seis dias, intercalados, passei raiva, fiquei perdida com o motorista, não me comuniquei, recebi massagem e foi isso.
Ontem, no meu último dia, perguntei:

- Então, hoje é meu último dia, o fisioterapeuta vai me avaliar e dizer os próximos passos?
- Espera, foi a única coisa que a Líbia - a maluca - de pele morena e olhos fortes, mas perdidos, soube me dizer antes de sair.
Enquanto colocava o tênis, chegou um rapaz, dizendo:
- A Sara me disse que você falou algo. O que é?
(ahahahaha, às vezes acho que isso é um filme e que a qualquer hora alguém vai desligar a TV e vou voltar ao normal: não é possível!).
Repeti, com muita calma a pergunta e o colega, na mesma calma, respondeu, olhando para os lados, como quem procura alguma coisa.
- Ah, volta daqui duas semanas.
Eu: - Mas duas semanas? Ninguém pode me avaliar hoje? Posso voltar a fazer exercício físico?
- Isso, volta daqui duas semanas.
- Sim, entendi, mas e amanhã, faço o quê?
- O fisioterapeuta viajou, Ramadan, todo mundo viaja antes, Ramadan. Volta daqui duas semanas.

Ai, Senhor. Amarrei meu cadarço e anotei no meu celular: voltar no fisioterapeuta, em duas semanas. Enquanto isso, vou fazendo os alongamentos - dez na perna direita, dez na esquerda, na academia da empresa.

*Nestes últimos dias mudei de casa e me despedi da Teca e da Magequita. Durante a semana, a irmã do meio mandou esta música para a gente, então, vale regar o momento com ela.

sábado, 18 de julho de 2009

Dia de dois

Praia [Beira levemente inclinada de um oceano, mar, lago ou rio, coberta de areia, pedregulho ou fragmentos de rocha e banhada pelas marés ou pelas ondas.2 Região banhada pelo mar; litoral].
Michaelis

Em Setembro de 2007 eu fui para Turquia, quase como vim para cá: caída de pára-quedas!, sem rumo, planejamento. Me chamaram e eu fui. E ainda penso como essas duas experiências se cruzam em alguns pontos de comportamento - pouco de religião - e aprendizado.

Istambul registrou meu primeiro choque-cultural forte e me preparou para algumas impressões que tive e tenho na Líbia, o que me faz ser assertiva de que um dia as coisas vão fazer sentido, mesmo que demorem dois ou dez anos.

E quinta-feira fui a um casamento Turco. Na verdade, eles se casaram no dia anterior, na Embaixada e, quinta, nosso "Sábado à noite", foi a reunião de pouquíssimas pessoas para comemorar, de fato. Foi como se eu estivesse em Istambul novamente: toda aquela música, as danças (tcha tcha tchi tchi - um, dois; três, quatro) com o estalar dos dedos, acompanhando o ritmo; rodando em círculos e mexendo o ombro também com o "um-dois; três-quatro" e todo o meu desengonço.

A comida era repleta de doces, dos quais não gosto muito, mas valeu relembrar o sabor, porque gosto e cheiro são resquícios de memória.

Fim-de-semana
Na Sexta, nosso Domingo, pela primeira vez em dois meses de verão, fui à praia. O mediterrâneo é simplesmente maravilhoso. O azul não é da cor do mar. São quatro tons misturados que, com o sol forte, trazem uma luz e uma inspiração de beleza jamais vista. Então não é a cor retratada por poesias ou músicas já registradas, só lamento.

Era um resort. Pagamos 55 dinares (aproximadamente 90 reais) e poderíamos acessar parte da praia que teoricamente não seria freqüentada por locais. Não foi bem assim e, na verdade, desistimos de usar a piscina do Hotel no fim do dia, visto a reação das mulheres que estavam, quase completamente cobertas, com vestidos de manga e burca, sob aquele sol, acompanhando as crianças com os respectivos maridos: um constrangimento que fez ofuscar o brilho de curtir um pouco um dia normal.

De volta ao mar, nos jogamos na temperatura branda, sem ondas, de água transparente, parecendo estar em paraíso asiático e, porque não, brasileiro; embora a realidade voltasse à tona quando aquelas mulheres se adentravam ao mar: inacreditável! - sim, de roupa!, uma só mais moderna, com um maiô que a Adidas lançou por aqui - adoro essas sacadas! É uma calça, com blusa de manga comprida e burca - quase um macacão com touca - sintética e não 100% algodão como as mulheres tradicionais usam - além de nós, só ela estava ousada e escanadalosa, quebrando paradigmas.

Para fazer valer a viagem de mais de uma hora até lá, decidimos comer bem! O pacote dava direito a café da manhã, almoço e jantar e, de novo, não parecia Líbia. O buffet trazia várias opções de entrada, salada, sopa, pratos quentes, pães e porcarias em geral. Faltou só o pão-de-queijo para fechar o fim de semana como algum outro comum "em casa": festa, diversão, descanso, comer bem e recomeçar.

A saudade continua!
"Os melhores acontecimentos foram feitos por homens que estavam completamente desanimados e cansados, mas continuaram".

sábado, 11 de julho de 2009

Sufoco é pouco

Dor [1 Med Sensação desagradável ou penosa, causada por um estado anômalo do organismo ou parte dele; sofrimento físico. 2 Sofrimento moral. 3 Dó; pena, compaixão (...)].
Michaelis

Um dia acordei com dor nas costas e achei que tinha sido fruto de uma noite mal-dormida - talvez o calor de 44oC-48oC - seguidos da falta de refresco com as constantes quedas de energia ao fim do dia até a madrugada.
Dois dias se passaram, mas as dores não e acabei optando por suspender a utilização da minha válvula de escape: a corrida na esteira!

Até que em uma manhã, a dor realmente me tirava o foco e então liguei para uma brasileira que é fisioterapeuta, para saber se ela recomendava algo - remédio, alongamento, qualquer coisa. E após responder algumas das perguntas dela, senti um alívio quando ela disse que muito provavelmente não seria nada demais, mas que era prudente consultar um neurologista no intuito de tentar fazer uma ressonância: "Não vá em ortopedista, senão ele pode te pedir raio-x e não necessariamente preciso ver sua estrutra óssea. Talvez você tenha machucado um nervo por postura - ou algo do tipo", orientou.

Assim, comecei a saga da aventura de literalmente me virar por aqui, me irritar, me surpreender e, de novo, (re) descobrir o potencial do ser humano em ser solidário e solícito ou simplesmente um ser que dá de ombros.

O neurologista, em consulta, reafirmou a hipótese de que não seria nada demais e pediu a ressonância, seguida de uma receita médica que ignorei - se ele não sabia o que era, qual era o ponto de uso dos medicamentos? O resultado saiu e ele disse que era um princípio de hérnia de disco e então a partir daquela data comecei a tomar duas injeções diárias e um anti-inflamatórioà noite. Sem melhora (rápida), fraquejei e dois dias depois desta consulta comecei a ficar de repouso.

Dez dias em casa, na Líbia, sem internet, canais a cabo que não apresentem uma programação considerável, em calor absurdo - embora ainda não o pico do que teremos - foi difícil, mas não relutei tanto (acho que melhorei no quesito paciência). Ainda, abstrai a idéia de que meu Outlook deveria estar prestes a explodir - se já não ocorreu - devido ao número de e-mails que chegam e não são respondidos (nem lidos).

Passado o tempo previsto de medicamento tomado, voltei ao médico. Aliás, tentei, porque ele havia sumido - de fato. As recepcionistas não tinham informação dele e só souberam me informar que ele não ia ao consultório por dois dias, que o celular estava desligado e que havia uma suposta hipótese de que ele estaria em algum Congresso por aí.

Assim, consegui saber que o neurologista que tinha "tratado" o caso do Felipe (voltemos mais uma vez e sempre a este fato) estaria disponível para me atender e que daria direcionamento aos próximos passos.

Dessa vez meu chefe foi comigo e me apoiou - principalmente em caráter emocional.
Naquela ocasião, o diagnóstico já era outro, nada de hérnia ou nervo, "apenas" um espasmo muscular. As injeções tinham sido desnecessárias e o repouso em certo ponto também. Dentre algumas mudanças de hábito sugeridas, fisioterapia estava na lista do que fazer de imediato para que eu melhorasse.

A Jana - essencial nisso tudo, depois a apresento - marcou para um motorista me buscar e me levar em um outro Hospital: desespero e irritação. Fui mal-atendida, os atendentes discutiam meu caso - eu acho - em árabe e me comunicavam o que fazer em inglês quando não era o que tinham dito anteriormente.
Vai-pra-lá-pra-cá, a dor só se intensificava e eu não conseguia nem horário para fisioterapia, nem os remédios. Por fim, resolveram que um médico de lá deveria me consultar para confirmar a receita que trazia comigo e, para minha surpresa, ele voltou a prescrever as injeções que tinham sido suspensas e a voltar ao diagnóstico de "algum nervo inflamado".

A minha única reação foi chorar. Chorei por todos os sentimentos atropelados juntos: medo, desconfiança, desespero, impotência - ao não consegui me comunicar e, portanto, entender e ser entendida - saudade e dor. Sobretudo, por sentir isso tudo sozinha, naquele momento.

Toda esta lenta e chata narrativa retrata alguns dias que me deram vontade de voltar para casa - se estiver em dúvida, leia-se Brasil - sem olhar para lugar nenhum, a não ser para frente. Passei a falar todos os dias com minha mãe, pelo telefone, e a não ter concentração nem interesse para terminar a leitura da Época Negócios - de que tanto sou fã e me faz inspirar. Não trabalhei e nem mantive o ritmo dos "excessivos e-mails a amigos para dizer que estou bem", o que fez alguns deles me ligar e perguntar por onde eu andava que não online, de alguma forma.

Hoje, finalmente, fui fazer a avaliação fisioterápica, com a conclusão de que tenho espasmo muscular. Começarei amanhã. Todavia, em se tratando do país, as mulheres têm horário diferente dos homens, portanto, os meus serão aos Domingos, Terças e Quintas, entre 8h-10h.

E entreguei para Deus, com um limite de tentativa de 12 sessões - ou menos.


Aproveitei para parar no escritório principal e acessar a internet para dar o "oi" de sempre, atualizar os que perguntaram, me por em dia e postar no blog, até mesmo para manter o registro de que as histórias se repetem, com algumas personagens alteradas e dessa vez saí do pano-de-fundo para a cena principal, (in)felizmente.

A parte "feliz" é que minha mente está tranqüila por ora e por todo tempo, na medida do possível dentre toda a adversidade disso aqui e que, ainda, embora eu tenha conhecido de perto os aspectos ruins que caracterizam o comportamento dos líbios, crítica a qual eu defendi aqui várias vezes, exatamente por entendê-los sobre uma perspectiva cultural diferente, vários deles se mostraram preocupados, solícitos e, mesmo os que não falam inglês, cada um a seu modo, se esforçaram em me garantir o que os médicos não conseguiram: certeza e confiança.

Neste tempo de fragilidade e insegurança, tem valido pensar que "a vida é um bumerangue".

domingo, 5 de julho de 2009

Em seis meses

"O tempo e o espaço são modos pelos quais pensamos e não condições nas quais vivemos", Albert Einstein.

Camila. Paulo. Carol. Ciro. Blog. Felipe. Companhia. Inverno. Paula. Aeroporto. Eman. Curiosidade. Salah. Pães e Camelos. Wafa. Diferente. Ali, Adel, Said. Simplicidade. Perla. Perspectiva. Ziad. Prioridade. Carlos. Proximidade. Ester. Semelhante-parceria. Rodolfo. Graça. Santos. Festa. Bruno. Hotel. Enrique. Ricardo. Leveza. Cláudio. Argentina. Caiado. Aprendizado. Amel. Raça. Ahmed. Português. Tonhão. Feijoada. Eduardo. Sotaque. Marcos. Postura. Cristina. Referência. Attawfeek. Idioma. Brasil. Casa. Cleide. Pensamento. Elizabeth. Espanhol. Inês. Ensinamento. Azeite. Pistache, castanhas e amêndoas. Ritmo. Rotas. Perda. Oportunidade. Atitude. Corinthia. Luxo. Primavera. Troca. Terceiro. Pimenta. Luciana. BH. Mudança. Recomeço. Luiz. Novo. Janaíne. Conforto. Beth. Riso. Sara. Sutileza. Mohamed. Solidariedade. Salada de Fruta. Marcelo. Charuto. Caramelo. Sorvete. Areia. Tempestade. Pedro. Revisão. Alexandre. Fox-CNN. Paciência. Caminho. Carona. Férias. Fotos. Luz. Fernanda. Alan. Elaine. Fernando. Diego. Marco. Adilson. Força. Conflito. Esteira. Escape. Saúde. Van. Ben Gashir, Janzur, Saraj. Conhecimento. Mahmoud. Abdulatif. Filipinas, Tailândia e Vietnã. MSN. Aniversário. Formatura. Casamento. Telefone. Créditos. Pizza. Narguile. Sem álcool. Junina. Saudade. Vestido. Livros, revistas e discos. Dor. Fathia. Piscina e Sol. Igor. Energia. Turcos. Idil. Retorno. Verão. Flávia. Melhora. Descanso. Preocupação. Macarrão. Abraço. Filme. E-mail. Convite. Proposta. Aposta. Pense. Informação. Partilha. Família. Dúvida e certeza. Felipe.

Estas são algumas das pessoas que vieram de encontro a mim, na Líbia. Ou antes dela. E algumas das sensações que me trazem: "Nós criamos palavras para definir nossa experiência", Elizabeth Gilbert, sobre os sábios iogues.

E faço exatamente seis meses hoje por aqui.

Felipe e eu desembarcamos no dia 05 de Janeiro, completamente ansiosos e indefinidos quanto ao que sentíamos sobre onde estávamos. Teve aquele imprevisto, ele se afastou e volta hoje - coincidência - e então começaremos tudo outra vez!
"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida", V.M.

Seis meses mais? Mais do que seis meses?

"Todo homem tem seu período de sacrifício e renúncia. Para alguns esse período é curto, para outros é longo e vai até a velhice, para outros com menos sorte vai até o fim da vida, sem qualquer conclusão prática. Mas todos devem começar cedo, ficar firmes e aguentar tudo, tendo em mente que o acervo de tranquilidade para a velhice é feito durante a mocidade, quando as forças nos assistem na plenitude". Achilles Miraglia - 1956.
*Não adesão à nova regra gramatical.