sábado, 21 de novembro de 2009

Um presente para dois

Meu menino tem 10 anos, calça 39 e seu tamanho de roupa é 12. Não o conheço, mas o imagino alto, franzino, negro, com o sorrisão largo, talvez com dentes. Ele é da Eritréia, um país localizado no Chifre da África, que faz fronteira com o Sudão, Etiópia e Djibouti, com parte do litoral banhado pelo Mar Vermelho.

Quebrando a rotina casa-trabalho-academia-casa, comprei presentes de Natal para ele esta semana: um conjunto de malha para protegê-lo um pouco do frio, um par de tênis e uma bola de futebol, para ser um símbolo que transmita alegria, brincadeira e infância liberta em qualquer país sem conflitos.

Escolhi esta "adoção" pontual em meio a outros 50 nomes de uma lista preparada por uma Senhora que segue a missão de acolher menores, mães e pais destroçados de uma fuga de países como a Eritréia, na esperança de chegarem à Europa - preferencialmente Itália - para uma vida melhor.
Neste ensejo, a Líbia se põe como o melhor caminho entre a África e o Sul Europeu, mas até o desaguar no Mediterrâneo, muitas barreiras os impedem de atravessar, chegando algumas vezes violentados (algumas meninas grávidas) e órfãos.

Meu menino é um destes casos que, como outros piores, compõem ainda a realidade da colcha de retalhos que se faz este continente. Assim, uma freira, a Senhora Missionária, da única Igreja Católica de Tripoli, há anos, acolhe estas pessoas que chegam por aqui e, através do recebimento de doações, fornece lar, comida, acesso a educação - privada, porque a pública não aceita indigentes - um certo conforto e esperança.

Neste meu primeiro Dezembro na Líbia, adotar uma destas crianças foi bom, tipicamente Natalino!
Talvez este presente, para mim e para ele, seja o que Eckhart Tolle, autor de "O Poder do Agora", chamou de "Despertar de uma Nova Consciência", que também virou livro. E, no meu caso, para uma curiosidade de que aqui pode ter aquele "isso", que me intrigava.

Enquanto a data de conhecer "meu menino" não chega, vou para Roma, semana que vem, aproveitar alguns dias livres que teremos por aqui. No mínimo irônico: Compro um presente para ele da Itália?

sábado, 14 de novembro de 2009

Porque ele é o Presidente

líder [1 Chefe, guia. 2 Tipo representativo de um grupo. 3 Chefe de um partido político].
Michaelis

Se tem uma pessoa hoje que para mim é um verdadeiro líder, muito além desta definição simples, pouco profunda e sem adjetivos, é Fabio Barbosa - presidente do Grupo Santander Brasil e da Federação Brasileira de Bancos, Febraban.

Tive a oportunidade de presenciar duas palestras dele, quando em São Paulo. Uma foi incrivelmente inspiradora.Também, pudera, foi um bate-papo com Rey Anderson, fundador da Interface, mediado por Hélio Mattar, Presidente do Instituto Akatu. Depois, quando o conheci pessoalmente, Fabio falou para um grupo de 800 líderes, entre novos e maduros, em um Congresso que reuniu pessoas e representantes de mais de 100 países, para debater temas de relevância global.

Dali então, tive certeza de que era uma pessoa coerente, ainda porque pude falar com alguns que trabalham diretamente com ele e/ou que são funcionárias do Banco e que reafirmaram que é uma pessoa comprometida socialmente e que está por trás das tentativas, estratégias e espírito da responsabilidade que uma grande empresa tem para com as pessoas, fornecedores e todos os elementos que compõem as redes de relacionamento que nos mantém hoje.

Esta semana, o presidente do Grupo para o qual trabalho nos fez uma visita aqui na Líbia e se dispôs a fazer uma apresentação, seguida de conversa informal. Foi interessante e um pouco inspirador. Me surpreendeu. Dá uma motivação externa quando se pode entender o pensamento de um líder, de uma pessoa que está à frente de responsabilidades gigantes.

Ele é bom também. Mantém a tradição que marca o papel da fundação de toda e qualquer corporação que, mais do que qualquer outra coisa, leva consigo o legado do impacto - bom ou ruim.

De forma diferente, mas não menos importante ao do Fabio, ele tem um estilo de liderança expressivo e simples, se mostrando extremamente visionário, principalmente se lembrarmos que foi o grande defensor do pioneirismo que hoje nos é possibilitado viver. É claramente focado em relacionamento e, com resultados quase absurdos, se mostra efetivo e eficiente, contribuindo para a expansão de novos negócios, em todos os braços do Grupo.

A forma como ele caminha e transita pelas pessoas, acionistas, Governo e representantes da sociedade é feita de forma natural, inteligente, tipicamente brasileira e, porque não, inspiradora; de fato. A ele caberia parafrasear Isaac Newton, como Fabio o fez, no encontro com Rey: "Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes".

Por isso que ele é o Presidente. Por essa e por outras que o dicionário não consegue definir.

sábado, 7 de novembro de 2009

Pijama

Nada [Nenhuma coisa. 1 A não-existência; o não existente. 2 Coisa nenhuma. 3 Nenhum valor. 4 Coisa vã, nula. 5 Alguma coisa; um pouco (...)].
Michaelis

Nesta de não ter transporte para ir-e-vir, de modo cômodo e normal, opto por ficar em casa no único dia livre que temos dentre os sete que compõem a semana: e é por pura preguiça em pedir carona e favores. Prefiro ficar no sofá, descansando, vendo o que se passa no Brasil - literalmente - lendo, escrevendo, ouvindo música ou simplesmente fazendo nada. Rindo, de preferência!

Mas e se o nada for tudo?

E foi exatamente hoje, entre o sofá e a cadeira da sala, entre o intervalo de alguma coisa na tevê e o "atualizar" da página do meu e-mail, que chegou um trecho do livro "Tempo De Delicadeza", do Affonso Romano de Sant'Anna: "Os imaturos tendem a se deixar seduzir pelo 'tudo', que é a aparência, quando é pelo 'nada' que se deve essencializar a vida".

E aí eu me lembrei de uma leitura feita há uns três, quatro anos, do "Livro sobre o Nada", do Manoel de Barros, que a Déa me deu.

É. Acho que o nada pode ser tudo, se fosse diário. Mas por aqui é só uma vez por semana, o que ainda é pouco, se pensarmos na velocidade pela qual passamos pelos outros seis. Então, usufruir de coisas simples, pequenas, não se torna tão corriqueiro. Pelo contrário, sendo opcional, é luxo.

Enfim, de pijama e já sem lugar em casa, desci as escadas e subi. Só para sair um pouco. Alonguei um pouquinho para mostrar aos músculos que eu estava ali, haha. Na volta, uma das meninas teve a brilhante idéia de irmos até o mercadinho da esquina. Eu tenho medo de sair assim. Para isso, não sou nada ousada, nem valente. Abaixo a cabeça e digo não. Mas queríamos um doce. Ou qualquer coisa. Queríamos nada. Queríamos sair de casa. O relógio marcava 21 horas e isto poderia ser tudo. Havendo companhia, a gente reza e inventa uma coragem.

Demos a volta no quarteirão, com algumas interrupções chatas de Líbios e alguns entraves entre a fala de uma e outra. Fomos por nada, sem rumo, só por ir, eu acho. E foi bom. Foi tudo de ontem.

"Não preciso do fim para chegar. Do lugar onde estou já fui embora". Manoel de Barros - O Livro sobre o Nada

*Não adesão à nova regra gramatical.