sábado, 27 de fevereiro de 2010

Pó-Léu

Entre Tunísia e Tailândia, preferi ler outras coisas, fazer o relatório da primeira visita, ao invés de ler sobre o país e sobre Bangkok. De praxe, não arrependi por não ter sido mais interessada, mas ao mesmo tempo fiquei com aquela sensação de quem acaba de cair de pára-quedas: Uow! Onde foi?

O que mais tinha claro em mente era a suposta figura do agente que nos receberia, com quem havia falado algumas vezes por telefone e várias por e-mail: o Mister Kang.

Imaginava-o como um de nossos trabalhadores Tailandês ou Vietnamita, mas tive a surpresa de que ele é Coreano.
Com um bom vôo entre Istambul e a Cidade dos Anjos, tive uma semana leve, com muita risada, ótima alimentação, recepção e alguém para se guardar:

Mister Kang é aparentemente como imagino ser o Silvio Santos; simples, espontâneo, tranqüilo e esperto; vivido, engraçado; muito engraçado e, tomara, um avô bacana! De estatura média-baixa, esbelto, com olhos pequenos que engrandecem por trás das lentes dos óculos de grau, sempre elegante, com roupa social, rodou um pouco mais do que meio mundo, se perdeu da família e atrela seus laços aos sócios da empresa e aos herdeiros deles.
São cinco filhos, mas conheci somente dois. Tá e Tam. Talvez seria assim a pronúncia-escrita. Vinte e cinco e vinte quatro anos, respectivamente, com um bom inglês e uma serventia admirável. São pessoas boas.

Talvez Mister Kang seja um empresário demasiadamente solícito com o interlocutor e não tão duro com os negócios. Ou, talvez, nós, como interlocutores, amolecemos o coração dele e ele retirou a tropa reativa, sendo um bom companheiro, guia e, porque não, parceiro.

Nos levou para jantar no restaurante preferido dele, fez questão que conhecêssemos sua filha mais próxima - os outros dois estão por aí, espalhados em algum canto do mapa-mundi, com encontros casuais, pessoalmente; fez questão de nos deixar à vontade, quando nos sentimos em casa e pudemos coordenar o trabalho da maneira que melhor nos atendesse e não a ele, necessariamente. Variou o cardápio todos os dias da semana, almoço e jantar, e nos fez ensinar a palavra mais pronunciada nestes últimos cinco dias: "pó-léu"/chega! Acabou!

Pela manhã, tão logo começávamos a trabalhar, havia café, chá, água, frutas (parabéns para a Manga Tailandesa!),biscoitos, doces, balas e o que quer que fosse; mesmo ele sabendo que por estarmos em um belo hotel, havíamos tomado um desjejum à altura.
Logo chegava a hora do almoço e o absurdo era contínuo. O jantar então, eita, contribuía fortemente para o aumento dos quilos que, segundo o Mister Kang, "no problem". Para ele, aplicando os ensinamentos da mãe, desperdiçar não é aceitável e comer faz bem, não faz mal. Comer muito também faz bem: "no problem!".

Assim, no mínimo três vezes por dia, seguimos gritando "Póléu, póléu, póléu", na tentativa árdua de que os ajudantes nos entendessem, pelo idioma deles, que aquilo era suficiente e, diretamente, que estávamos lo-ta-dos e que, por favor, "pó-léu food"!

Ufa, cansei!

Bom, falando de Bangkok, a Cidade dos Anjos, do grande Palácio Real, o que pude ver foi por dentro de espelhos e vidros - dos carros e da janela do quarto do Hotel. Entre um engarrafamento e outro, me lembrei muito da Malásia e de tudo o que vi por lá, com a exceção de que Bangkok é tipicamente São Paulo, com seu desenho concretista, carros enfileirados e cortados por motos e lambretas, com quase nenhum helicóptero e aparente segurança; mesmo com algo como 10 milhões de pessoas (2008). Preciso voltar, para contar mais do que sobre sua culinária, batendo palmas de pé quando se ordena frutos do mar ou quaisquer noodles. Pela falta de buzina no trânsito. Pelos arranha-céus. Pela hospitalidade gentil e harmônica do povo local. Pela forma como mantém o moderno, com o tradicional, principalmente os valores familiares e o respeito aos mais velhos. Pela fala mansa e truncada, quando em inglês.

Preciso voltar para ver as cobras e os hipopótamos no zoológico, do qual pude ver elefantes, mágicos, crocodilos e tigres, com direito a foto que registra o momento em que segurei o rabo dele, sem gritar, suando horrores. Mas ali, forte: uh! Praticamente a Shiha!

Voltarei para contar da ilhas promovidas em filmes e para dizer o que é possível, sendo tão barato.

Voltarei, sabendo, indo, e não dois dias depois, que estive na cidade que tem o maior nome do mundo e que se chama originalmente Krung Thep Mahanakhon Amon Rattanakosin Mahinthara Yuthaya Mahadilok Phop Noppharat Ratchathani Burirom Udomratchaniwet Mahasathan Amon Piman Awatan Sathit Sakkathattiya Witsanukam Prasit: 157 letras!

Voltar é a idéia, mas tudo pode mudar, desde a idéia original.

É, mundão de meu Deus: é hora de guardar isso tudo e seguir para o Sri Lanka, que, segundo o Mister Kang, "o melhor hotel lá é péssimo e não tem chá verde; só vermelho" e que, ainda:

- Não se assuste, senhorita Bárbara. Você vai ver exército por todos os lados, chegando no Aeroporto, vários soldados com grandes armas em mãos. É que eles estão em Guerra Civil, mas nada acontece: no problem!
- Muito obrigada, Mister Kang. Agora posso viajar tranqüila e realmente sem necessidade de checar qualquer informação sobre o país antes, afinal, nada vai mudar a minha ida:

Pára-quedas armado e, depois dessa, Pó-Léu! Pó-léu de vez e rotina de volta!

2 comentários:

Marcelinho disse...

Que imersão cultural hein fofa! Palmas com os pés ao pedir frutos do mar haha, fiquei imaginando a cena :)
Aproveite esse tempo longe da Libia! Grande beijo

Anônimo disse...

Puxa, Bárbara! Só mesmo você para conseguir descrever tudo com tanta riqueza de detalhes. O texto ficou, como dizia nosso amigo Tang, nham nham - excelente. Mas vou denunciar aqui a sua omissão: Seu nome em thailand é Ms. Balbala, ok. Bjs

*Não adesão à nova regra gramatical.