Esta semana tive o privilégio de poder ouvir uma nativa falar sob o ponto de vista dos líbios sobre tudo aquilo que nos é mais curioso. Diria que ela é a ovelha negra do rebanho: viveu oito anos nos Estados Unidos e dois na Alemanha. Haverá o momento em que vou falar sobre isso: "Mulheres que abrem Passagem" - elas existem nos lados de cá também.
Nos próximos quatro posts vou falar de todo este processo de aprendizado que, embora tenha sido por duas tardes, resultaram em mim como uma antecedência de alguns anos a serem vividos por aqui.
Todas as curiosidades que tinha em relação a tudo o que envolve um (ou uma) muçulmano (a), TU-DO, foram esclarecidas. Interessante e compreensível.
Os quatro pilares que vão preencher a minha angústia de ter falta de assunto, já que a vida por aqui virou rotina, serão a questão do isolamento do país por 35 anos, o Islamismo como construtor da base social de um líbio, o papel da mulher nesta sociedade e, por fim, todo este direcionamento que acaba por formar a mentalidade (bem diferente) deles.
Um dia escrevi aqui sobre Sensibilidade Cultural e de novo me senti diferente dos demais por ter tido oportunidades passadas que me desafiaram mais fortemente quanto a este tema de "diversidade cultural". Foi difícil para mim ouvi-la dizer e responder às nossas perguntas, mas ao mesmo tempo me vi mais flexível em aceitar certos comportamentos que a outros olhos podem parecer absurdos inaceitáveis. Vou compartilhar, mesmo que por uma perspectiva de interpretação bem pessoal minha, mas seria importante se se abrissem a este entendimento mais do que cultural e sensível, mas intensamente religioso: eu também sou católica.
Por 35 anos o país ficou fechado. Nos últimos cinco anos, contando com este, foi iniciado um processo de abertura e temos vivido a oportunidade de experimentar a mudança. E para mim, isso é tudo sobre "liderar pelo exemplo" - há quem chame isso de "raça" ou "coragem". Que seja!
Nestes 35 anos, os estrangeiros eram vistos como aqueles que vêm para tomar a terra. A imagem da colonização italiana ainda tem reflexos negativos no sentido de que aquele que não é líbio se interessará pela terra e não pelas pessoas. Neste sistema fechado, eles aprenderam (foram educados) a não ser orientados a servir, portanto, sem o perfil de "fácil relacionamento" - o que explica a espera excessiva em alguns restaurantes: eles estão se habituando agora a fazer algo que nunca foi preciso ser feito anteriormente.
Trabalhando bem ou não, o dinheiro era fornecido pelo Governo e, fechados a qualquer que fosse o mundo exterior, construíram uma história isolada, sem que as emoções fossem postas a mostra pela cara. Aprenderam a ser superficiais em relacionamento com o outro, principalmente com "estranhos". Mas ao mesmo tempo, aprenderam que se confiassem uma vez, confiariam para sempre e te considerariam um ente familiar.
À época, a "América" (entenda Estados Unidos) significava um ser inimigo e, portanto, nenhum sinal em inglês era permitido. De modo mais claro, escrever ou falar em inglês era ilegal: i-le-gal. Se você estivesse a caminhar pela rua, com um escrito na blusa como, por exemplo, "United Colors of Benetton", um guarda do exército te pararia, pedindo explicações sobre o que significavam todas aquelas letras reunidas e, se fosse identificado como sendo “da América”, você se veria nu, em plena luz do dia ou a qualquer hora que fosse. Ir contra a tudo o que remetia ao Ocidente era uma atitude. Nada além disso. E uma atitude positiva.
Curiosíssimo pensar que naqueles tempos defender sua própria origem e valorizá-la como sendo o melhor que existia era nobre e, atualmente, soa como terrorismo. É muita mudança.
Hoje, os estrangeiros são vistos como sinal de progresso, mas precisam se mostrar humildes e não superiores.
Aprendizado para o dia-a-dia, sob a fala de um líbio: "Aja como se você estivesse em casa, mas não se esqueça de que você está na minha casa".