Sem Youtube, Leia ouvindo Stairway To Heaven - Led Zeppelin:
- Babi, vamos para o deserto de novo; anima?
- Opa!
- Mas dessa vez não vai furar, hein?
Felipe me ligou no meio da semana e como já tinha dito "não" da última vez, disse "sim" desta para quebrar a monotonia: como estou chata!.
Na quinta, saí do trabalho meia hora antes do horário previsto, fui para casa, peguei cobertor, moleton e otras cositas más; tomei banho e segui para o Aeroporto.
Éramos 17 pessoas, quatro mulheres, seis nacionalidades. Não tinha a mínima idéia do que esperar e foi muito bom, porque realmente fui bem surpreendida e, por ora, está em uma das melhores viagens que fiz.
Chegamos em Sebah - saindo de Tripoli, pelo mapa, desça em linha reta em direção ao sul do País; dê uma olhadinha para a esquerda: é lá - e logo que o portão do desembarque se abriu havia um legítitmo Tuaregue a nossa espera: barba grande, turbante, vestido de pano branco, com sandálias. Era o Otman. Naquele instante, não senti medo, porque o Tonito, Sul-Africano que organizou a aventura, já tinha estado lá anteriormente com ele e disse que podíamos confiar. Ok, né? Já estava ali e, adiante, era rezar.
Seguimos em cinco Jeeps por uma estrada de asfalto e o destino era o acampamento em meio a dunas de areia, não mais que 30, 40 minutos. Caminho escuro, a lua estava tímida, não cruzamos com outros carros e não se via nada pela janela. Absolutamente nada!
Em determinado momento, avistamos uma barreira policial e Otman parou. Entendemos que, com o intenso trânsito ilegal de pessoas pelo país e, sendo o deserto bem extenso, teríamos que apresentar uma carta - de alguém - dizendo que tudo bem e que só queríamos passear por ali. O Tonito apresentou a tal carta, virou-se para trás e disse:
- Babi, para todos os efeitos você não trabalha no seu Projeto. Você trabalha em outro.
Que alegria!
Como tudo que envolve polícia, ainda mais em um país estranho, foi tenso. Blablabla. Olhares. Enfim. Liberado. Ufa.
Barreira rompida, em alguns minutos entramos nas areias, que só senti, pois não via nada. Não sei como, e nem vou saber, mas chegamos ao acampamento. Do nada. Sem qualquer placa ou referência. Alegria, música, friozinho e lareira. Alguns outros sete já estavam lá, porque tinham ido logo depois do almoço. Nos acostamos, pegamos colchões, saudamos a todos e aos outros quatro Tuaregues.
As 22 horas já se aproximavam e a pergunta era: "e o jantar"?:
- Fizemos supermercado antes de vir, Babi - diz Felipe.
Logo, Otman e os amigos pegaram farinha, ovos e água e, com várias mãos, uma massa de pão estava pronta. Formato decidido, começa uma das experiências mais interessantes das quais já participei: pegaram a brasa da lenha da fogueira, esquentaram uma parte da areia, cavaram o pão nela, literalmente, e ali ele foi assado - por quase duas horas!
Enquanto o forno natural dava seu jeito, picaram tomate, cebola, alho e abriram latas de atum.
Às 2h da manhã, com a lua naquele momento totalmente tímida, coberta por nuvens, com o frio apertando, sentamos todos e, já não me lembro como - talher, mão - comemos e, para mim, nada saboroso, até porque, o delicioso pão árabe naquela noite estava absurdamente areado =)
O dia amanheceu, fizemos ovo cozido, compartilhamos o pão dormido, empacotamos e seguimos para o real objetivo daquela viagem: quebrar a rotina, conhecendo o deserto e encontrando com o oásis!
Dali de onde estávamos seria 80km pela estrada de asfalto, no sentido contrário à barreira policial, e 25km pelas dunas. Logo que começamos pela areia, os nossos motoristas-tuaregues e, portanto, guias, resolveram parar para esvaziar o pneu, explicando-nos que precisavam tirar 1kg de ar de pressão multiplicado por xis outras medições - e isso tudo em árabe. Não entendi bulhufas!
Neste momento, Otman disse para segurarmos firme no "puta-que-pariu" (perdoem meu Francês) e pediu que usássemos cinto de segurança. De novo, não fiquei preocupada e tudo o que sentia era: Uhuuuu, ia começar o meu Rally Dakar!
Em todo o trajeto - das 9h às 16:30 - tivemos três paradas fantásticas, sendo a última surreal:
- 1a.: Areia por todos os lados, cinco carros e um baticum eletrizante. Era tanta adrenalina, que o medo desistiu de se pronunciar e riu de si mesmo. Entre as subidas-e-descidas, chegamos a um ponto alto de onde achei que íamos despencar, mas logo que o campo de visão foi aberto de novo, ali estava uma área verde, linda, que envolvia um lago seco: deslumbrante!
Fotos tiradas, todo mundo babando, entramos para o carro de volta e encontramos o primeiro cenário imaginado por mim quando se falava em oásis. Ali, foi rápido. O tempo já corria contra nós e Otman disse "Vamos para Gebaren".
E fomos: Inacreditável!
Gebaren (lê-se Gabron) ainda se dispõe fisicamente como uma cidade antiga, com casebres e vários Tuaregues que vendem artesanato para quem quer que visite o local. No "bar" existente, pode-se alugar pranchas para fazer "Sandboard".
Em meio às dunas há um lago, verde; tão verde quanto a vegetação que o circunda; mas a água é um verde-esmeralda; lindíssimo!
Estirei minha canga, deitei, agradeci, fiquei emocionada pela delicadeza dos traços naturais e pela perfeição da composição da imagem e, com o calor, só queria ficar de biquini e dar um tibum na água. Que nada! Tuaregues, tuaregues! Foi de calça e camiseta mesmo! Se não tem tu, vai tu mesmo!
Esta caída n'água, diferentemente da sensação em ver um pão debaixo da areia quente ser assado, provocou em mim uma das estranhezas mais difíceis de assimilar que já tive:
Com o forte calor, a evaporação é alta, havendo muito sal e minerais; então, tentava mergulhar e empurrar meu peso para baixo, sem sucesso. Boiei naturalmente!
O sal irritou muito os meus olhos e minha boca praticamente estourou: pá! Sensível já pelo frio da noite anterior, aquele pulo dentro d'água foi a gota que faltava. Ainda, do joelho para baixo a água é quente-quente e, do joelho para cima, muito fria! Era tanta coisa ao mesmo tempo que molhei meu cabelo e saí; mas, enfim, posso dizer que mergulhei num Oásis - que dizem dar a mesma sensação do mar Morto: será?
Saindo, me vi absolutamente branca: ó sal! E cadê o chuveirinho depois da praia? E a barraca para secar e trocar? Tuaregues, tuaregues!
Muito homem, grande maioria local ou, mesmo que não fossem, eram muçulmanos, e não dava nem uma cabaninha protegida por mulheres.
Desafios logísticos à parte, sem detalhes, fiquei com boa parte do sal no corpo e, pior ainda, no cabelo.
Passamos um pouco da tarde conversando e vendo nossos guias prepararem macarrão com atum, que ficou muito bom por sinal - sem areia - e dali seguimos pelo deserto, até o Aeroporto, de volta.
Otman ficou sabendo que o posto para encher pneus tinha fechado e que, então, faríamos todo o percurso pelas dunas: ai minhas costas!
Algumas paradas para desatolar alguns dos carros que estavam conosco, mas no fim, tudo certo! Tanto, que não vi serpentes, lagartos, escorpiões ou camelos: "Tudo na mais perfeita ordem; tudo na mais santa paz".
Depois do banho de sal (não necessariamente grosso), não há porquê não recomeçar, com energia boa: a semana promete!
6 comentários:
Mais limpa e descarregada impossível. Podiamos até fazer a arvorezinha de sal..hehe
Sem comentarios... estou horrorizada e com mta inveja!!!! deve ter sido alucinante e tudo que vc sempre sonhou.. que medo e mistura de puro extase ai senhor!!1
bjos e saudades Bela
Ahhh babes!!! Adorei!! me lembrou a minha aventura no deserto da india, fronteira com o paquistão!! Muito bom! Rachei os bicos da sua aventura!! BJaoo Saudade
Putz, nunca iria imaginar que a àgua de um oásis era salgada!
O bom dos seus posts que viajamos contigo e dividimos um pouco dessas experiências! Obrigada!
Muitos beijos!
eee laia!!!! pao com areia, agua com sal!! =) delicia do verão! qnto tempo sera q essa areia vai ficar no seu corpo? hahahahaha
bjs
Fico me imaginando nesses cenários contigo cada vez que leio seu blog. Fantástica experiencia e fico feliz que tenha reposto as energias! Bjs
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