sábado, 26 de dezembro de 2009

Embalando

Natal [1 Que diz respeito ao nascimento; natalício. 2 Pátrio: Terra natal. sm 1 Dia do nascimento. 2 Dia do aniversário de nascimento de qualquer indivíduo. 3 Dia ou época em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo].
Michaelis

Até aqui seriam três aviões, horas de vôo que não consigo calcular, por mais que eu tente; alguns presentes pelas paradas, vinho ou cerveja para relaxar, leituras ou filme. Mas não teve (quase) nada disso.

Chegando em Londres a neve nos impediu de desembarcar para esperar o vôo com destino direto ao Brasil e vi que não tenho tanto auto-controle da ansiedade como achei que tivesse desenvolvido.

Por mais que tenha sido tudo e mais um pouco sentir a espera por cinco horas dentro do avião, antes de decolar, chato mesmo era esperar os últimos 45 minutos - de São Paulo a BH: Por que isso não pode ser normal? Que nada! Coração não agüenta e começa a bater como um louco desesperado, ofegante.

Já em solo, literalmente, é aproveitar a calma que aterriza e curtir o que estava em falta. De novo, amigos e família no contexto feliz e pleno:

O encontro daqueles que por um tempo são virtuais, mas que o Natal converge no experimento de abraçar e ver de novo: primas que envelhecem, como eu; que se casam e têm filhos. Amigas que falam em casamento e viagens enquanto "solteiras" no papel e em registros oficiais; planejamento do futuro curto que é a próxima semana e do longo que é o ano que vem; conversas por telefones de quem está em cima, do lado esquerdo, direito e abaixo de mim, no desenho do mapa do Brasil; resposta a e-mails de quem está do lado de lá do mapa-mundi, por onde estive há dias; novo olhar da mesma cidade, das mesmas pessoas, das praças, ruas e avenidas; nova escuta das mesmas músicas e prova de velhos sabores, natalinos. Tudo isto é parte do renascer e começar, de onde se fez o berço e o braço.

sábado, 19 de dezembro de 2009

O que você está fazendo?

relicário [1 Recipiente onde se guardam relíquias. 2 Bolsinha ou medalha com relíquias que, por devoção, alguns trazem ao pescoço. 3 Caixa de lembranças ou recordações. 4 Memória; coração].
Michaelis

Em tempos de COP-15 e discussão sobre os efeitos atuais e futuros quanto à mudança climática, a segunda-feira por aqui amanheceu como eu: devagar. As nove horas cruzaram o relógio e o tempo estava escuro; e eu fora da cama. No trabalho, com algumas planilhas de excel pela frente, confundindo o que não era claro, com o que é novo, tentava ajustar em mente uma semana de despedida, comemorações e sensibilidade do espírito que se prepara para um Natal em casa na Líbia ou no Brasil.

Parece que este ano o próprio país cedeu à nossa procura cristã para valorização do momento, sendo possível organizar ceia e transformar os colegas de trabalho em familiares ocasionais.

Nesta busca constante por nos sentirmos em casa, tentamos nos apropriar da vida do outro, fazendo do processo diário um fluxo natural de novos e importantes relacionamentos.

Não literalmente, mas quase, as mudanças estão também na ida-e-vinda, chegadas e partidas. E, nesta semana, em que o Sol tem dormido até tarde, sentindo o frio intenso, uma das minhas rommies vai de volta para casa: Brasil!

É estranho pensar, porque você se acostuma: acostuma com as gracinhas, com as conversas e com o "ter mais um". Por outro lado, fazendo parte, a gente comemora a felicidade da escolha e se prepara para se adaptar à nova rotina. Nem mais ou menos. Simplesmente, como é.

Entre as escolhas do que pôr na mala que só tem um despache e um destino, dá vontade de colocar algumas coisas mais; mesmo que não materiais.

Seguindo adiante, nós três levaremos, espaçadamente juntas, um relicário nosso, com momentos muito bons, caseiros, saudáveis, alegre e vivo; exatamente como somos e como não nos dispusemos a mudar. Pelo menos, isso não.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Apresentação do Meu Menino


Hasem Abobaker. 10 anos. E do jeito que eu pensei. Aliás. Mais alegre. E muito esperto.
Não pude ir, mas espero fazer uma visita em breve. Sem avisar. Sem ser (somente) pelo Natal. Quero dar um abraço nele. Me ligaram de lá e ele disse "Hey Bárbara, thank you! Thank you!". É um dos poucos que fala Inglês e eu, que falo muito, só pude dizer "Você é muito fofo! Espero que goste".

Minhas mãos ficaram trêmulas por longos minutos e meus olhos se encheram d'água, como já há algum tempo não os sentia. Emocionante e feliz.

Feliz Natal, Hasem!
- Alô?, Bárbara?
- Oi, sim!
- Oi Bárbara, é o Rapaz!
- Oi Rapaz, tudo bem?
- Bárbara, tem gente chegando para a república?
- Sim, Rapaz. Amanhã.
- Vixe. Tem que comprá cobertô!
- Uai, por que? Os quartos estavam todos montados. Eu fui lá na casa.
- Sim, mas a gente pegou os cobertô. Tá muito frio! Eu mes peguei dois a mais. Tô cum trêis.
- Tá bem, Rapaz! Vou ver como podemos fazer; se o pessoal consegue comprar mais hoje. Mas uma pergunta: vocês ligam a calefação?
- A quê?
- O ar quente. Vocês ligam o ar quente da casa e do quarto, pelo menos um tempo antes de dormir?
- Ah nem. Vou mexer qu'esse trem não. Nem. Muito complicado. To cons trêis cobertô! Compra mais lá, tá? Tchau.


sábado, 5 de dezembro de 2009

Sim. Ela é Bella

Sacrifício [1 Ação ou efeito de sacrificar. 2 Oferenda de animal, produto da colheita ou de qualquer coisa de valor, feita a uma divindade para lhe tributar homenagens, ou para reconhecimento do seu poder, ou ainda para lhe aplacar a cólera. 3 A pessoa ou coisa sacrificada. 4 Renúncia voluntária a um bem ou a um direito. 5 Ato de abnegação, inspirado por um veemente sentimento de amizade ou de amor. 6 Privação, voluntária ou involuntária, de uma coisa digna de apreço e estima. 7 Risco em que se põem os próprios interesses para interesse de alguém ou de alguma coisa (...)].
Michaelis

Não comprei nada para o meu menino. Não acho que ajudaria ou acrescentaria com foco na procedência dos presentes. Mesmo que não seja suficiente, prefiro pesar pela importância da representatividade e não propriamente dos objetos em si. E, na verdade, não vi nada por lá que me fizesse brilhar os olhos e dizer "vou levar". Se pudesse, levaria mesmo algumas pinturas, algumas especiarias e (re)distribuiria a emoção de ouvir ao Papa dali da janela do Vaticano: Praticamente o sopro da paz!

Ainda, enfatizaria que Shakespeare estava mesmo certo!, porque existe algo de muito misterioso entre o céu e a terra!; afinal, os quatro dias de andanças pelas longas, largas, curtas e estreitas ruas de Roma e Florença foram possíveis pelo Eid al-Adha, a Festa do Sacrifício, celebrado pelos muçulmanos em memória da disposição do profeta Ibrahim (Abrãao) em sacrificar o seu filho Ismail conforme a vontade de Deus.
Isso não aconteceu e um carneiro foi pôsto no lugar do filho e a carne deste foi distribuída entre os membros da comunidade à época.
Assim, estes (três/quatro) dias seguem tão importantes quanto aqueles que finalizam o Ramadã, com a ênfase para a quantidade de carneiro sendo sacrificado nas ruas, para que as famílias estejam reunidas em volta de um momento religiosamente sagrado e único.

Saí da Líbia neste contexto e horas depois eu comia bacon em algumas das cantinas charmosas das ruas entupidas de folhas secas: Ah Macarrone al Carbonara!Tomava café, depois do vinho, antes da cerveja. Sopas. Pastas. Carnes. Segui andando, pecando - pela gula - e rezando. Chocolates!

O Vaticano é gigantesco. É a imposição de um poder divino mesmo. No Domingo, em que pudemos estar presente na fala do Papa, tive a impressão de estar no meio do mundo. Exatamente ali. Com todas as nacionalidades. Como se o mundo todo fosse católico e só houvesse aquilo ali. Aquele momento. O instante em que ele apareceu na janela e foi aplaudido. O minuto em que desejou um dia de paz para todos e em coro fez o Amém mais harmônico que se pudesse planejar. Arrepiante. Belo. Belissimo! Talvez uma obra de arte não imaginada nem mesmo pelo genioso e abençoado Michelângelo, quem tentamos visitar na ida a Florença, repleta de espetáculos naturais e humanas, como no caso da Igreja Duomo.

Agora sim, posso dizer que conheci a Itália!

Absurdo também em Roma, de forma diferente, é o Coliseu. Entre as andanças você se depara com o que é, para mim, até hoje, a melhor imagem de um museu a céu aberto. Todas aquelas pedras, aquelas terras prensadas e todo aquele tempo reunido. Numa dessas, a gente respira, bate a foto, e continua, por todas as fontanas, de Trevi e das Quatro, e cantinas pelo caminho.

Uma coisa que deixou a desejar foi o espírito natalino! Irônico de novo! Tanto Cristianismo e nada de luzes, árvores ou Papai Noel de enfeites. Achei meio triste. Adoro luzes e cor! Traz alegria!
Deixarei então para vê-las no Brasil, para onde embarco em breve. Mais uma viagem e uma oportunidade de ver e rever pessoas e continuar experimentando, porque nenhuma ida é igual ao que foi: "Viajar compensa qualquer custo ou sacrifício*".


*Despertar de Uma Nova Consciência, Eckhart Tolle

sábado, 21 de novembro de 2009

Um presente para dois

Meu menino tem 10 anos, calça 39 e seu tamanho de roupa é 12. Não o conheço, mas o imagino alto, franzino, negro, com o sorrisão largo, talvez com dentes. Ele é da Eritréia, um país localizado no Chifre da África, que faz fronteira com o Sudão, Etiópia e Djibouti, com parte do litoral banhado pelo Mar Vermelho.

Quebrando a rotina casa-trabalho-academia-casa, comprei presentes de Natal para ele esta semana: um conjunto de malha para protegê-lo um pouco do frio, um par de tênis e uma bola de futebol, para ser um símbolo que transmita alegria, brincadeira e infância liberta em qualquer país sem conflitos.

Escolhi esta "adoção" pontual em meio a outros 50 nomes de uma lista preparada por uma Senhora que segue a missão de acolher menores, mães e pais destroçados de uma fuga de países como a Eritréia, na esperança de chegarem à Europa - preferencialmente Itália - para uma vida melhor.
Neste ensejo, a Líbia se põe como o melhor caminho entre a África e o Sul Europeu, mas até o desaguar no Mediterrâneo, muitas barreiras os impedem de atravessar, chegando algumas vezes violentados (algumas meninas grávidas) e órfãos.

Meu menino é um destes casos que, como outros piores, compõem ainda a realidade da colcha de retalhos que se faz este continente. Assim, uma freira, a Senhora Missionária, da única Igreja Católica de Tripoli, há anos, acolhe estas pessoas que chegam por aqui e, através do recebimento de doações, fornece lar, comida, acesso a educação - privada, porque a pública não aceita indigentes - um certo conforto e esperança.

Neste meu primeiro Dezembro na Líbia, adotar uma destas crianças foi bom, tipicamente Natalino!
Talvez este presente, para mim e para ele, seja o que Eckhart Tolle, autor de "O Poder do Agora", chamou de "Despertar de uma Nova Consciência", que também virou livro. E, no meu caso, para uma curiosidade de que aqui pode ter aquele "isso", que me intrigava.

Enquanto a data de conhecer "meu menino" não chega, vou para Roma, semana que vem, aproveitar alguns dias livres que teremos por aqui. No mínimo irônico: Compro um presente para ele da Itália?

sábado, 14 de novembro de 2009

Porque ele é o Presidente

líder [1 Chefe, guia. 2 Tipo representativo de um grupo. 3 Chefe de um partido político].
Michaelis

Se tem uma pessoa hoje que para mim é um verdadeiro líder, muito além desta definição simples, pouco profunda e sem adjetivos, é Fabio Barbosa - presidente do Grupo Santander Brasil e da Federação Brasileira de Bancos, Febraban.

Tive a oportunidade de presenciar duas palestras dele, quando em São Paulo. Uma foi incrivelmente inspiradora.Também, pudera, foi um bate-papo com Rey Anderson, fundador da Interface, mediado por Hélio Mattar, Presidente do Instituto Akatu. Depois, quando o conheci pessoalmente, Fabio falou para um grupo de 800 líderes, entre novos e maduros, em um Congresso que reuniu pessoas e representantes de mais de 100 países, para debater temas de relevância global.

Dali então, tive certeza de que era uma pessoa coerente, ainda porque pude falar com alguns que trabalham diretamente com ele e/ou que são funcionárias do Banco e que reafirmaram que é uma pessoa comprometida socialmente e que está por trás das tentativas, estratégias e espírito da responsabilidade que uma grande empresa tem para com as pessoas, fornecedores e todos os elementos que compõem as redes de relacionamento que nos mantém hoje.

Esta semana, o presidente do Grupo para o qual trabalho nos fez uma visita aqui na Líbia e se dispôs a fazer uma apresentação, seguida de conversa informal. Foi interessante e um pouco inspirador. Me surpreendeu. Dá uma motivação externa quando se pode entender o pensamento de um líder, de uma pessoa que está à frente de responsabilidades gigantes.

Ele é bom também. Mantém a tradição que marca o papel da fundação de toda e qualquer corporação que, mais do que qualquer outra coisa, leva consigo o legado do impacto - bom ou ruim.

De forma diferente, mas não menos importante ao do Fabio, ele tem um estilo de liderança expressivo e simples, se mostrando extremamente visionário, principalmente se lembrarmos que foi o grande defensor do pioneirismo que hoje nos é possibilitado viver. É claramente focado em relacionamento e, com resultados quase absurdos, se mostra efetivo e eficiente, contribuindo para a expansão de novos negócios, em todos os braços do Grupo.

A forma como ele caminha e transita pelas pessoas, acionistas, Governo e representantes da sociedade é feita de forma natural, inteligente, tipicamente brasileira e, porque não, inspiradora; de fato. A ele caberia parafrasear Isaac Newton, como Fabio o fez, no encontro com Rey: "Se eu vi mais longe, foi por estar de pé sobre ombros de gigantes".

Por isso que ele é o Presidente. Por essa e por outras que o dicionário não consegue definir.

sábado, 7 de novembro de 2009

Pijama

Nada [Nenhuma coisa. 1 A não-existência; o não existente. 2 Coisa nenhuma. 3 Nenhum valor. 4 Coisa vã, nula. 5 Alguma coisa; um pouco (...)].
Michaelis

Nesta de não ter transporte para ir-e-vir, de modo cômodo e normal, opto por ficar em casa no único dia livre que temos dentre os sete que compõem a semana: e é por pura preguiça em pedir carona e favores. Prefiro ficar no sofá, descansando, vendo o que se passa no Brasil - literalmente - lendo, escrevendo, ouvindo música ou simplesmente fazendo nada. Rindo, de preferência!

Mas e se o nada for tudo?

E foi exatamente hoje, entre o sofá e a cadeira da sala, entre o intervalo de alguma coisa na tevê e o "atualizar" da página do meu e-mail, que chegou um trecho do livro "Tempo De Delicadeza", do Affonso Romano de Sant'Anna: "Os imaturos tendem a se deixar seduzir pelo 'tudo', que é a aparência, quando é pelo 'nada' que se deve essencializar a vida".

E aí eu me lembrei de uma leitura feita há uns três, quatro anos, do "Livro sobre o Nada", do Manoel de Barros, que a Déa me deu.

É. Acho que o nada pode ser tudo, se fosse diário. Mas por aqui é só uma vez por semana, o que ainda é pouco, se pensarmos na velocidade pela qual passamos pelos outros seis. Então, usufruir de coisas simples, pequenas, não se torna tão corriqueiro. Pelo contrário, sendo opcional, é luxo.

Enfim, de pijama e já sem lugar em casa, desci as escadas e subi. Só para sair um pouco. Alonguei um pouquinho para mostrar aos músculos que eu estava ali, haha. Na volta, uma das meninas teve a brilhante idéia de irmos até o mercadinho da esquina. Eu tenho medo de sair assim. Para isso, não sou nada ousada, nem valente. Abaixo a cabeça e digo não. Mas queríamos um doce. Ou qualquer coisa. Queríamos nada. Queríamos sair de casa. O relógio marcava 21 horas e isto poderia ser tudo. Havendo companhia, a gente reza e inventa uma coragem.

Demos a volta no quarteirão, com algumas interrupções chatas de Líbios e alguns entraves entre a fala de uma e outra. Fomos por nada, sem rumo, só por ir, eu acho. E foi bom. Foi tudo de ontem.

"Não preciso do fim para chegar. Do lugar onde estou já fui embora". Manoel de Barros - O Livro sobre o Nada

sábado, 31 de outubro de 2009

A hora que for - e não for

Acho que o frio chegou mais cedo do que no ano passado, mas todo ano é tempo de dizer "ano passado choveu menos". Tenho antipatia destas frases, porque na verdade a gente nunca lembra, mas o "hoje" sempre parece ser mais do que o ontem e menos do que amanhã. Natural do ser humano que está sempre insatisfeito e/ou em busca por algo maior/melhor.
Eeee, que alegria!

Mas então. Dia lindo. Céu azul, sol sem força, vento de cortar os lábios, mãos no bolso. Em uma desta, meia fina para mais tarde ir para a academia, a gripe me derrubou. Pá. Nocaute. Cama, chá e banho quente. Sopa pela noite, por alguns dias. Um mimo só, que charme de narizinho vermelho =)

A metade do mês de Outubro não havia chegado e as pessoas já apareciam mais elegantes e, agora então, com casacos e a vontade de comer chocolate todo dia depois do almoço.

Eu prefiro frio do que calor e aqui o clima me faz melhor do que no Brasil, que é úmido. Acho que temos seis meses de frio e seis de verão-primavera-verão. Agora só vai ficando mais rigoroso e creio que Abril teremos casaco, ainda!

O dia já amanhece mais tarde e escurece mais cedo. E tudo isto me lembra a vida que levei em São Paulo, principalmente quando eu e Milinha saímos para ir no Puxa-Faca comprar uma cerveja, ficar bebendo em casa, porque a última opção era sair naquele sereno, naquela garoa típica. Ou então, subir a ladeira para ir na padaria com a Te ou a Nana e o Blitz e comer um croissant quentinho com um café expresso bem forte!

Lembro bem da sensação de acordar de meia, passar o dia de pijamão largo, naquela preguiça entre sofá, TV e computador e, depois, meia no pé após banho quente.
Em dias de trabalho, na dificuldade de cair para o chuveiro e sair, também com mãos no bolso e costas encolhida, encurvada para a frente, como se fôssemos colchões dobráveis e macios.

Saudosismos à parte, acho que são coisas de pós-aniversário, ainda no resquício de e-mails e mensagens em geral.

Neste mês em que o frio deu sinais de que está prestes a recomeçar, caiu uma chuva de engarrafar toda a cidade e de dar inveja no trânsito da Marginal: inacreditável! Depois de gastar duas horas para um caminho que geralmente dura 40 minutos, resolvi ouvir músicas daquela época e, dentre elas, Camarada d'água. Tudo a ver com isso, principalmente, pelo "viva a tua maneira/não perca a estribeira/saiba do teu valor/e amanheça brilhando mais forte (...)".

Maravilha-maravilha, faça chuva ou faça sol, faça frio ou calor, cada ano é um tempo, ô Camarada D' água.

sábado, 24 de outubro de 2009

Panis et Circencis

Esses dias me disseram que não sou uma pessoa da sala de jantar. Para quem também não tinha pensado nesta definição de pessoas que pensam fora da caixa e arriscam mais do que outras, aproveitem!
http://www.youtube.com/watch?v=VPN4lwVcZLo

Esta semana eu gostei da idéia de que as mulheres aqui saiam pouco nas ruas, se interagem quase nada com aqueles do sexo oposto e se cobrem, literalmente, da cabeça aos pés. Não é machismo da minha parte não, é simplesmente uma constatação: se elas fossem como nós, a competição aqui seria acirrada e o país seguiria dentro das proporções normais de que há mais mulheres do que homens no mundo e, em todas as festinhas e baladas, poderia perder um flerte por alguma delas "despidas".
Ahhh, assim não ia ter graça, não seria nada diferente do que temos e, qual a idéia em arriscar, senão para tentar o que é novo?

Gracinhas à parte, é verdade! Aqui há mulheres bonitas, de traços fortes e que sabem se produzir para um encontro no fim da tarde - pula a produção para casamentos que, não tem jeito, elas pecam pelo exagero!

Na quarta-feira, saí com quatro (também) expatriadas para irmos tomar um café na casa de uma delas, com as líbias. Duas das garotas locais foram em casa se arrumar. Confesso que fiquei muito confusa e não entendi, porque era somente um encontro entre mulheres, no fim do dia: pãozinho delicioso, uma torta salgada que a dona da casa tinha feito, pães de queijo de saquinho para que elas conheçam algo muito bom do Brasil, suco, refrigerante e bolo de chocolate. Simples e informal.

Eu particularmente estava ansiosa para o momento em que tirassem os véus, porque as vejo todos os dias, sempre e somente com aquela carinha redonda, limitada, à mostra, dificultando a expressão e minha curiosidade sempre foi em relação ao cabelo delas: será que é mofado?

Não dêem risada, hein, não é sacanagem. Meu questionamento é muito sério, embora tenha sim um tom debochado =)
Eram cinco meninas. Mulheres com postura infantil e ingênua. Super engraçado e estranho. Às vezes, dá até gastura quando elas me dizem que têm 28, 29 e 31 anos.

Enquanto eu ajudava a preparar a mesa e as meninas-expatriadas colocavam a mão na massa, as líbias se retiraram para "se arrumarem" e as outras duas que tinham saído do trabalho mais cedo chegaram, cobertas de preto, daquele jeito e, em 30 segundos, se transformaram em duas morenas tipicamente brasileiras de dar trabalho em qualquer calçadão do Rio deJaneiro.

Que agito para umas e que susto para mim! Ahaha. Senti medo. Parecia uma transformação cinematográfica. Cabelos longos, pretos, muito bonitos, olhos maquiados, roupas moderníssimas - saia, bermuda nos joelhos e blusa sem manga, decotada. Facilmente passariam despercebidas em qualquer boteco em BH! Aliás, despercebidas como árabes e muito bem notadas como toda jovem bonita que sai para tomar uma cerveja e se divertir!

Logo, as outras três saíram dos quartos-banheiros, com os cabelos à mostra e as roupas normais no corpo. Uma tinha até mechas a la Spice Girl! Uow-uow-uow, que alvoroço!

Eu olhava para as meninas e me perguntava o porquê não imaginá-las comigo em BH, conversando com meus amigos. Que nada! Isso aqui é outro mundo. E como disse um cara que me conhece muito bem, para viver isso, só pessoas que não são "da sala de jantar".

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Um quarto de século

Quarto [(...) 4 Diz-se de cada uma das quatro partes iguais em que alguma coisa está, ou possa estar dividida (...); 6 Cada quinze minutos ou cada quarta parte da hora; 7 Cômodo de dormir (...)].
Michaelis

Além da cozinha, diria que o quarto representa o grau de intimidade que compartilhamos com a pessoa. Se é amigo, se é próximo, você convida a entrar e ver aquilo que é mais importante e dá nome aos rostos expostos no mural de fotos e porta-retratos.

Apresenta-o aos bichos de pelúcia ou brinquedos que foram companhia durante um tempo - não necessariamente infância, porque tem gente que não cresce nunca e mantém o lado alegre - e porque não - bobo da vida.

Às 6:30 do dia 18 acordei e, no meu quarto, recebi o brinco de prata da minha mãe, com um cartão. Adorei, mas fiquei meio perdida. Logo que abri a porta, as meninas que moram comigo estavam na sala, prontas para descer e, literalmente, de braços abertos.
Assim, o dia começou bem e melhor do que eu imaginava!

No trabalho, alguns desavisados passaram despercebidos e isto foi meio estranho; mas depois de um e-mail do RH, comunicando o dia, recebi vários outros, seguidos de ligações.
Ainda, compartilhei da alegria contida dos líbios e de situações embaraçosas, em que um deles me abraçou e deu "dois beijinhos", como um brasileiro, causando alvoroço aos outros locais que viam a cena.

Para não demostrar minha vergonha, optei pelo riso e dei gargalhadas ao ver a cara de espanto dos demais. Meu chefe, brasileiro, aliviando a minha barra, disse "O que é isso minha gente? Isso é normal. Vejam só" e repetiu o abraço, seguido de beijos.

Durante as horas, ligações do Brasil, Equador, Cancun, Colômbia e a salvação permitida pelas comunidades efetivamente de relacionamento, como Orkut e Facebook, além do MSN.

Terminando o dia, enquanto eu alongava, dois bolos eram preparados no hall da academia: Parabéns para você - acho que foram 50 velas =)

Já em casa, mais gente reunida, alegria, um outro bolo de chocolate com pêssego - gigante, com um B-zão enfeitado por coco ralado - cachorro quente com milho e batata palha - Nossa Senhora - e cerveja sem álcool, refrigerante e água para o brinde do quarto, para onde fui, agradecer por mais uma vela acesa!

sábado, 10 de outubro de 2009

X - O décimo mês do ano

Dez [Diz-se do cardinal equivalente a uma dezena. sm 1 Os algarismos arábicos (10), a letra romana (X), ou qualqueroutro símbolo que representam dez. 2 Carta de jogar marcada com dez pontos. 3 Aquele ou aquilo que tem o décimo lugar numa série].
Michaelis

Comemorar aniversário para os líbios não tem o mesmo significado que para nós. Com a mentalidade voltada para o que é coletivo e, sendo aniversário uma data individual, não é grande coisa e nem comum uma pizzazinha com amigos ou família.

Assim, ho-ho-ho, não é Natal nem Ramadã, mas foi dada a largada para o melhor mês do ano para mim: Outubro!

De primeiro, no dia 03, vem a Cá. Mamãe é do dia 06 e a Te também. Logo em seguida vem a vovó e o Chefitcho no dia sete. Dia 11 é a Marcelita, minha prima, e dia 12 é um pouco de mim também: Criança e Fé - adoro relembrar o recreio desta época quando no colégio.
Felipão vem dia 15 e Ruth dia 16.
Seguindo com fôlego, chega o dia 18, onde, mais do que em qualquer outra data, costumo reunir "todos os meus amigos do mundo" e a família.
Alegria estoteante, em partilha com a Bela, "amiga para sempre", que, junto com o Mendes, faz aniversário no dia 19 e com quem divido a anual celebração há quase dez anos - o número do mês!
Dia 20 tem mais três bolos: um pro Chocô, um para a Tia Tetê e um para o meu primo Caio, que já deve fazer 15 - ou 14, por aí.
Quase fechando, dia 23 tem a Déa, amiga-noiva-poeta e, dia 24, o Tio Fael.
Particularmente neste ano, o mês será encerrado com chave de ouro, porque a Déa se casa dia 31 e, assim como nesta, não vou estar em nenhuma das outras fotos.

Não sei como vai ser, mas tem sido curioso receber e-mails ansiosos, idéias por telefone e cartões postais que serão destinados a BH, já que aqui não tem endereço.


Quando voltei do Brasil e abri minha mala, tinha um presente, um cartão e um bilhete "Abra somente dia 18. Beijos, Mamãe". O que será que será?

Enquanto a semana não passa, o dia não chega e eu não decido se viro líbia este ano - para esta data, vou vivendo um por vez, e, com graça, recomeçando de novo e terminando sorrindo.

A última da série foi:
- Por favor, gostaria de falar com Sr. Antônio?
- Sou eu.
- Oi Sr. Antonio, é Bárbara, tudo bem? (blablaba) Estou ligando para dar uma boa notícia (...), o Sr. tem interesse?
- Claro que eu tenho, fia! É rua..., número 44.
- Ahahahahaaha.

sábado, 3 de outubro de 2009

O que importa é o seu dia-a-dia

Rir [(...) 2 Ter um ar agradável, alegre; sorrir; 3 Assumir uma expressão alegre, ter aspecto agradável (...); 6 Achar graça; desfrutar(...)].
Michaelis

Eu tenho pensado no quanto dou risadas diariamente, por me surpreender com a humildade de algumas pessoas com as quais converso, principalmente, as que são do interior do Brasil; ou simplesmente por me divertir com minha própria espontaneidade - para não dizer "freqüente atuação por gafes".

Se eu tivesse o dom de ser roteirista, tentaria compartilhar a graça com muitas pessoas, para que pudessem rir também. Mas há situações que somente presenciando, todavia, vou ser ousada, porque ainda não paro de rir com dois casos que aconteceram esta semana e de uma lembrança de um tempo passado:

I - Episódio Ligando para a Tunísia (relembrando)
Eu, em inglês: - Por favor, queria falar com o Senhor Walled?
Do outro lado, uma voz feminina, tentativa de Inglês, quase que em desespero: - Alô? Oi? No English! French? Portuguese?
Eu, em Português - Português!, Você fala Português?
E a senhora, literalmente, gritando! - Siiiiiiiim, ô-ô-ô, Sou de Goiâniaaaaa

Ahahahaha, só pude rir por alguns minutos, e nada mais. Como assim eu ligo para a Tunísia e quem atende é uma brasileira de Goiânia?
Bom, o Walled não estava, é marido dela. Se conheceram quando ele foi para o Brasil, ela largou tudo para viver um grande amor. Além de bonito, muito engraçado - para mim.


II - Episódio Fauze
Eu, em Português, ligando para um DDD (11):
- Por favor, queria falar com o Fauze?
- Ô fia, ele num tá. Cê qué ligá di noiti? Fala cá mãe dele. ô cá irmã.
- Está bem, obrigada. Mas se eu ligar neste DDD (37) que tenho aqui, consigo falar com ele?
- Ah fia!, ele nunca me dá o celular dele. Eu peço, mas ele num dá. Liga di noiti. Fala cá mãe dele!
- Obrigada, senhora. Vou ligar mais tarde então. Tenha um bom dia.
- ô-ô-ô Fiáá, alô, alô, desligô?
- Não, senhora, pode falar.
- Fia, você quer falar com quem mesmo?

Ahahahahahahaha, essa eu ri no telefone mesmo, foi impossível! Como assim com quem quero falar? É com o Fauzeee, ahahaha, eu hein?!
A peça-rara da Senhora, eu acho, não tinha entendido, mas quem está sem saber o que aconteceu sou eu. Enfim, depois ligo para o DDD (37).

III - Episódio "Eu só queria ser a Miss Simpatia"
Saí da minha sala e fui até a sala ao lado, pegar uma impressão que tinha feito. Voltando, me deparo com dois Vietnamitas com a cara péssima e, em tom imperativo, começam a falar comigo - no idioma deles.

Impedindo-os de entrar na minha sala - fiquei com medo - comecei a gritar "Me ajudem, me ajudem! Alguém vem cá" e nisso o Fernando, que trabalha comigo, gritou "Estou indo, Babi!".
E então, um dos Vietnamitas parecia ter ficado muito impaciente com o fato de eu estar simplesmente parada, olhando para eles. Foi então que, na tentativa de ser a Miss Simpatia, para quebrar o gelo, trazer um sorrisinho de "calm down", eu puxei a minha mão direita, estiquei o braço em sentido à mão direita dele, apertei forte e disse, sorrindo:

"Eeeeeeeeeeeei! Bem-vindo ao RH! Posso ajudar?"

E então, a pessoa simplesmente desiste de emitir qualquer semblante, o Fernando chega, eu saio correndo para minha sala e compartilho: "Gente, que medo, sei lá o que eles queriam".

Logo, a Jana diz "Ah Babi, é o Vietnamita que está com a mão (direita) machucada, porque caiu um bloco de concreto e está com dor, porque não resolve".

ahahahahahahaha

Maravilha! A Miss Simpatia jájá toma um "presta atenção" e desiste de rir. Engraçadinha!

sábado, 26 de setembro de 2009

Êba!!

Voluntário [1 Que se faz ou deixa de fazer, sem coação nem imposição de ninguém; que está em nosso poder ou que depende do nosso livre-arbítrio fazer ou deixar de fazer. 2 Feito espontaneamente, por vontade própriasem constrangimento ou obrigação (...)].
Michaelis

O feriadão me surpreendeu positivamente e o que deveria ser quase um retiro espiritual, se compôs por leituras leves - advinhem? Sim, Época Negócios - e descanso, muito descanso e um eterno agradecimento à Globo, por fazer existir o canal Internacional por aqui, quando pude me distrair com novelas, programas (da GNT e MultiShow inclusive) e telejornais (até mesmo os da Globo News).

Quando tudo ia bem calmo, fiquei sabendo que um grupo de pessoas simples, entre Brasileiros e Colombianos, iriam para a região das ruínas no Domingo e na Segunda-Feira e, como não falavam inglês, pensei nas situações que poderiam enfrentar e decidi ir junto, mesmo já havendo visitado um dos lugares anteriormente.

Além disso, havia um outro grupo de pessoas por aqui, em grande maioria Equatorianos, a quem compartilhei a informação de que o ônibus sairia às oito horas da manhã de um determinado lugar e que espalhassem o convite aos demais que conhecessem.

Quando acordei, às 7:15, não acreditei no sacrifício, afinal, nada como poder dormir sem que um despertador te interrompa. Por longos cinco minutos pensei na minha decisão libriana, se ia ou se não ia e, de novo, me veio a imagem na cabeça do pessoal eventualmente perdido ou com entraves na comunicação para aproveitarem a oportunidade.

Assim, fui com um grupo de um pouco mais de 40 pessoas, sendo que a única mulher que me acompanhava era uma senhora, esposa de um dos Engenheiros presentes, com três filhos.

No primeiro dia andamos bastante por aquela que foi uma grande cidade na época do Império Romano e que traz registro interessante, principalmente, do que ficou depois de terremotos e guerras, além de estarmos sempre em frente à cor indescritível do Mediterrâneo.

Ao fim do passeio, não consegui - nem alguns deles - chegar à praia ideal para banho e esperamos o horário combinado com o motorista do ônibus tomando uma cerveja sem álcool e conversando bobagens, compartilhando experiências comparativas a como seria um feriado como aquele em outros países que já vivemos ou conhecemos.

No dia seguinte, as ruínas eram bem mais limitadas, porque segundo nos disseram, grande parte do que sobrou foi engolido pelo mar e é interessante ver os corais "bem lá longe" e imaginar que ali havia cidade, ainda com traços de igreja, mercado de frutas e teatro.

Fechando com chave-de-ouro, mergulhamos nas águas salgadas para recomeçar, depois de um bom tempo afastados da rotina e, melhor ainda, com sinceros "muito obrigado" e o sorrisões na foto e, satisfeita, vi que eles levariam para a casa, quando forem, registros e memórias de um belo passeio vivido e comunicado.

Nestes particulares dois dias de passeio, me lembrei de outros bons que vivi: Por quatro anos me dediquei, quase que integralmente - ou, tira o quase - a uma organização de trabalho voluntário em que me alegrava fazer simplesmente por acreditar no seu objetivo-fim e em suas pessoas-meio de fazer acontecer.

Aqui sinto falta disso, de efetivamente contribuir e fazer a diferença, mesmo que pequena, mas fazer. Nestes simples dois dias me lembrei desta sensação e de outras, mais intensas, que pude sentir quando visitava favelas e/ou comunidades carentes em Belo Horizonte para tomar um café da manhã com uma família desestruturada ou ensinar uma criança a passar fio-dental.

No mais, como pouco do que é planejado sai da forma imaginada, o feriado não se fez a ferramenta que achava ideal para este último quarter do ano, todavia, é em manhãs como estas que vale o poema "caminhante não há caminho/se faz o caminho ao andar".

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O que é que é bom


Voltar [1 Dirigir para outro lado; virar, volver(...). 2 Ir ou tornar ao ponto de onde partiu; regressar; ir ou vir pela segunda vez (...). 6 Retroceder. 7 Retroceder para atacar. 8 Acometer, investir (...). 10 Retornar a um estado anterior (...). 13 Pôr do avesso. 14 Fazer de novo; repetir. 15 Ocupar-se ou tratar novamente de uma coisa ou de um assunto. 16 Reaparecer. 17 Manifestar-se de novo; reproduzir-se. 18 Recomeçar (...). 20 Mudar de rumo ou direção (...). 27 Converter, mudar, transformar].
Michaelis.
Já não me lembro mais como foi a ida da Malásia para o Brasil. Lembro-me que por um bom tempo pegamos uma turbulência fortemente considerável, daquelas em que parece que todas as bagagens e comida dos armários cairão sobre sua cabeça e que você não sabe se faz xixi nas calças, ignora a sede nervosa e o fato de que não vê nem sinal dos comissários de bordo ou se dá gargalhadas forçadas, fingindo estar super interessada no filme que passa à sua frente. Enfim, passou e ansiosamente pousei em São Paulo, desejando que minha casa fosse efetivamente lá, para evitar pegar mais um vôo.

No Aeroporto de Belo Horizonte, era tanta alegria que me sentia bêbada, zonza, completamente fora de mim. Quando as portas que dividem o saguão do desembarque de quem te espera se abriram, rapidamente identifiquei meus pais, com sorrisão largo e olhos brilhantes e meu coração prestes a ser vomitado por ali mesmo. E, como se isso não fosse suficiente, logo que eu virei para a direita, para sair daquela corda de isolamento, um bando de meninas-mulheres-loucas, gritando alto, apito e pompons, pulam em cima de mim e do meu carrinho com as malas mais pesadas de todos os tempos (salve-salve multas pagas). Eram algumas das minhas melhores amigas que à meia-noite entre a segunda e terça-feira foram me saudar. Naquele instante não conseguia pensar em nada, somente que tudo era inacreditável e que era muito bom estar de volta, mesmo que por acaso, depois de oito meses.

Fui para o Brasil não por opção, mas por questão de visto. A idéia era seguir da Malásia para a Indonésia, não deu. Mas, então, ali estava, com as pessoas que efetivamente amo e me fazem bem: alegria-alegria!

Mesmo zuada do fuso e de tanta adrenalina, fomos comer pizza e, claro, tomei um chopp!Falei bem sobre meus últimos meses, sobre as pessoas, os lugares e, principalmente, viver em um contexto tão diferente como este tem sido. É bom externalizar, porque aí as pessoas desistem da idéia de achar que é fácil fazer algo difícil e que pelo fato de você ter feito coisas interessantes anteriormente, não necessariamente significa que você dará conta de algo que mexe essencialmente com o seu interior, com aquilo que te forma e várias vezes te cala.

Foi bom ver que as pessoas em BH estão felizes, que as surpresas continuaram e que vi outras que não via desde minha mudança para São Paulo, em 2007. Valeu para ter tido a certeza de que todos os momentos bons continuam mantidos e que é preciso estarmos unidos e conectados ao "lá", para que as coisas continuem. Foi bom registrar tudo isso, compartilhar e trazer comigo.

Foram 10 dias de muita energia boa, risada, encontros & re-encontros, família, amigos e todas as coisas boas que se explodem quando se volta para a casa.
E, mesmo sendo difícil, mais uma vez, deixar tudo passar e voltar para o que é o hoje, é o que tem que ser, neste momento. O depois, veremos com o tempo.

Assim, a viagem Brasil-Líbia foi muito mais calma do que pensaria que fosse, não só pelas turbulências que graças aos Deuses - o meu e o Allah - não aconteceram, mas pela tranqüilidade em recomeçar e começar 2010, onde quer que seja.

Em Guarulhos, como se eu não pudesse ir embora sem uma benção, um sinal ou outra coisa do tipo, houve uma luz, mas preciso de ajuda para interpretá-la. Acho que este feixe, de certa forma, foi o que fechou com chave de ouro a minha ida e, já na Líbia, pude estar de bom-humor no convívio com os últimos dias do Ramadã.

Falando nele, por três dias fiquei sem conseguir ir à vendinha, porque os "nômades" dormem de dia e aproveitam pela noite. Eu, com fuso trocado, agitado, não consegui acompanhá-los. Ho-ho-ho o Ramadã termina agora neste fim de semana e, em comemoração, serão três dias de feriado (Sábado, Domingo e Segunda-Feira) e deve ser uma alegria para eles, que poderão voltar a fumar os cigarros, beber o café e tomar a água, deixando como lembrança o fato de que o que eu mais senti falta neste período todo foi do pãozinho quente de manhã - isso deixava em péssimos lençóis meu estômago egocêntrico.

Nesta reta final, pós-Brasil, cometi gafes ao beber água na frente de algum deles e, pior, ofereci uns biscoitos a um líbio com quem queria ser simpática e o que ganhei foi um sorrisinho sarcástico como quem disse "se eu pudesse, dava a você bolachas na cara", haha. Foi cômico, porque senão teria sido trágico. O rapaz não gostou do meu desleixo mesmo. Ficou com raiva. Mandei o típico "sorry-pardon" de sempre, fazer o quê?

Enfim, nestes dias então em que seguirei somente comigo mesma, já que quase todos os expatriados partiram para o Egito ou para algum país na Europa, aproveitando a rebarba do feriado líbio, vou retomar a minha mente e corpo à vida aqui, valorizando os alongamentos* e as leituras e ver se me direciono melhor para o que vier depois. E, ainda, me desafiar a ser algo que um amigo meu, involuntariamente, se tornou e me convidou para tentar: "mais importante do que coragem, eu tenho paciência".

*Fui a médicos no Brasil e, a grosso modo, um dos discos da minha coluna saiu do lugar. O tratamento seria pilates/RPG/acupuntura, como aqui não tem, sigo com exercícios leves (sem impacto) e alongamentos para fortalecimento do músculo. Em caso de dor, estou consultada =)

sábado, 5 de setembro de 2009

Capítulo à parte - The Truly Asia

Quase morri várias vezes e ainda não entendi como funciona o trânsito em mão-inglesa. Me enrolei até mesmo nas escadas rolantes dos shoppings e parecia uma jacu deslumbrada. Várias vezes gritei - ui! - de susto, quando achava que a pessoa não estava vendo o nosso carro, tranqüila e calma, lendo jornal em um cruzamento e só depois via que tudo bem, o do contrário era quem estava no volante: muito confuso, mas uma diversão para o motorista da nossa van. Tenho certeza que ele deveria chegar em casa dizendo "gente, tem uma passageira muito retardada (...)!". hahahaha

Se Kuala Lumpur for a Ásia, eu acho que adorei e penso em voltar mais vezes, mas China ou Hong Kong. Se for a Malásia, talvez não volte. Indo para as ilhas do Sul, vou optar pela Indonésia.

Aqui é tudo muito colorido, não sei se por estarmos no mês da celebração da Independência - 52 anos no dia 31 de Agosto - e se pela própria bandeira ter cores fortes (vermelho, amarelo, azul e branco) e por estar em todos os lados, bem grande; ou se pela mistura de malaios, indianos e chineses, em que as três culturas têm um laço estreito com o significado da força e da beleza.

Falando no que é belo, como tem estrangeiro gato por aqui, meu Deus! Eu já tinha observado no avião (Doha para cá, por favor, hein?!), mas achava que era meu nível de exigência que tinha caído. Que nada, cada casal maravilhoso e em grande estilo moda-praia-verão! Na verdade, os próprios malaios são um pouco elegantes. As mulheres, mesmo de véu ou burca, se vestem com um tecido mais fino e delicado, com alguns brilhantes que não chegam a ser espantosos. Maquiagem leve e sapatos bonitos - porque agora entendo de moda, ô! Aliás, pela disposição das lojas e pelas marcas que encontramos por aqui, é notório que de um modo geral as pessoas têm bom-gosto e não é somente por Kuala Lumpur ser uma cidade turística.
Faz parte da composição social mesmo, divago. E, diferente dos parisienses, por exemplo, as pessoas mesmo elegantes são muito solícitas e educadas e, de um modo geral, as coisas para a vida cotidiana - vide comida - são bem baratas! Me entupi de noodles - um tipo de macarrão de origem chinesa (e não me diga que miojo dá no mesmo) - salmão, peixes e um pouco de fritura - salve, saudade!

Para mim, os malaios são magros por genética mesmo, só pode ser uma combinação milagrosa, porque como comem mal, viu? E não só os 25% descendentes de chineses que se entopem de porco ou os 10% indianos que utilizam molhos picantes até em café com chá, mas como um todo! Mesmo havendo muitas frutas - fiquei impressionada com a variedade e o sabor fresco e doce - mas não há muitas opções de salada, a este primeiro olhar. Logo que acordam eles têm uma refeição pesada, com noodles e costelinha e todas as variações de molho para comer com arroz.

O café da manhã do Hotel mesmo, na caixinha de sugestões deu vontade de colocar "servir o café até as 15 horas", hahaha, porque dá mais do que um brunch ou um café-colonial. Que fartura! Tem de tudo um pouco, mas como uma boa e velha admiradora do que é bom e simples, me satisfiz com um belo par de croissants a dar inveja aos da França e Argentina - por Dios!

Ah!, vinho não consegui tomar. Muito caro e, sozinha, é para página de livro da Elizabeth Gilbert - "como curtir a vida sozinha, na Malásia". Não é para mim não. O máximo que fiz foi pagar, também caro, por seis latinhas de Heineiken - elas de novo, mas desta vez, sem bicicleta.

Por aqui, as pessoas se viram bem com táxi, o que não é tão barato quanto na Líbia, mas nem tão caro quanto no Brasil. Eu realmente acredito que o grau de civilidade de um povo pode ser denotado a partir do seu comportamento no trânsito e na forma estrutural como se compõe. Assim, diria que Kuala Lumpur, para seus mais de dois milhões de habitantes está dando show em Curitiba - sim, com reciclagem de lixo ativa e campanhas para "Green Malaysia" bem sucedida.

Os ônibus são muito bem equipados, o trânsito os comporta bem e, claro, como toda metróple tem engarrafamentos, mas parece que mais fluida - sem buzinas! De quase todas as ruas em volta da região podemos ver as PETRONAS Twin Towers, que são maravilhosamente harmônicas, como uma grande maquete sob nossas cabeças e a KL Tower, hoje já a quinta maior do mundo, mas que dá um charme para a paisagem bem urbanística, envolta a cimento, aço e muito vidro.

Indo e vindo de ônibus - fácil de informação - vale uma visita ao Mercado Central e, do lado, à China Town. Ali dá de tudo, uma globalização inserida em um contexto local muito restrito, mas a feiura - como de todo centro de uma grande cidade - tem lá seu charme refletido por tanto vermelho e amarelo!

Charmoso também é o The Gardens. Um novo complexo de compras que, vou pesquisar, mas deve ter sido a grande fonte inspiradora para o Shopping Jardim em São Paulo, todavia, falta muito para nós, Brasileiros. Isso em Kuala é o que há de mais moderno e ousado. Cheira a café, tamanho o conceito para entrar, se divertir, relaxar e ser feliz em lugar completamente exótico e deslocado do que a nós do Ocidente foi apresentado.

Neste quesito, me apaixonei de novo pelo Oriente e foi bom estar de volta em contato com o que me fez bem na minha preparação em 2007 para me mudar para São Paulo. Aqui, não retomei a acupuntura, mas as massagens e as essências de lavanda e canela e, de novo, à inquietante questão de que há uma magia nos lados de cá, da qual quero experimentar mais vezes!

Para finalizar, dois pontos que me deixaram positivamente surpresa foi a falta de papel e toco de cigarro no chão, e, por sinal, vi pouquíssimas pessoas fumando e, mesmo em ambiente aberto, longe das "passivas". Ainda, fiquei impressionada com o fato de que todo mundo fala inglês. Foi surreal entrar no ônibus, pedir informação e tê-la; entender um mapa do guia com a gari que retirava folhas secas do Jardim do Parque do KLCC (Kuala Lumpur Convention Center); ter cardápio, placas de trânsito, promoção em lojas, jornais, letreiro de ônibus, mapa de metrô, enfim, absolutamente tudo em inglês!

Na verdade, a comunicação trava quando se encontra com algum representante dos 25% de chineses. A sensação ao ouvi-los é de que a língua está enrolada na garganta e que o nariz está absurdamente entupido, mas são bem educados e ágeis. Tanto, que se estiver acompanhado em um restaurante, pense bem no pedido e tente separá-los, porque o atendimento é ótimo e rápido - aliás, reparei que eles comem e pagam logo em seguida, quase mastigando, sem dar alguns minutos para suspirar ou falar dos pratos.

Diria que por aqui tive uma das minhas melhores refeições na vida, salve-salve noodles saboroso! Na última noite comi algo que não tenho a mínima idéia do que seja, mas excelente, e a pergunta que não sai na minha cabeça desde então é se não poderia ser cachorro, afinal, não vi nenhum deles em momento algum pelas andanças pelo centro e, vai saber, né?, afinal, no sul da China e no Vietnã as pessoas comem carne de cão tal como nós a de vaca. Será?! Eca-eca já foi e estava bom!

Enfim, valeu. Mais um carimbo de novas perspectivas e a certeza de que há muito o que ser feito no e pelo Brasil e, como sempre, é tudo uma questão de mentalidade. A minha e a sua! Mas agora é hora de voltar para "casa" e me preparar para tudo o que vier com ela - dela!

sábado, 29 de agosto de 2009

Num é que a Malásia é longe?

Desta vez eu tentei buscar informações. Até que li bastante, porque tinha que procurar Hotel. Mas nem assim me senti preparada e, até agora, mesmo estando aqui e já interrogado alguns nativos, como é da minha natureza ser inconveniente, ainda não entendi porque os malaios, embora tenham sido colonizados pelo Reino Unido, são em maioria (64%) muçulmanos!

Antes disso, uma parada para compartilhar o parto até chegar ao Sul da Ásia:

No check-in em Tripoli me fiz, pela primeira - de várias que viriam - a pergunta: "por que não fui ao Brasil de uma vez?". Sendo vôo internacional, minha bagagem poderia ter um peso limite X, que já não me lembro. Sozinha, naquele mundaréu de homem - que Deus me entenda! - o cidadão me diz que tenho que pagar 200 Euros de multa. Isso: du-zen-tos!.

Naquele inglês mais do que enrolado, ele não conseguia explicar e eu, nervosa, não adiantava. Cedi e puxei o cartão de crédito. Que inocência, nem tem sistema! Respirando, um guardinha foi me "guiando" - andando léguas na minha frente, bem rápido - até algo que seria um Caixa Automático 24h para saques. Não funcionou também! Não sei como o homem queria que eu pagasse, sendo que os meus libians dinares já trocados para Euro para a ir à Malásia não davam nem 90. Contrações indo e vindo, um gênio - poderia ter sido o Aladin, para se fazer de príncipe, mesmo que vindo a camelo - pensou em pegar com uma agência do Aman Bank que há dentro do Aeroporto. Respirações em pausa, ui, foi. Não me pergunte a mágica da lâmpada, vale saber que então paguei 353 libians dinares para um excesso que deveria ser somente do meu corpo, nada a ver com a mala - de viagem.

No avião, um susto: quanta gente, meu Deus! Não tinha a mínima idéia de que da Líbia poderiam sair tantas pessoas para o mundo - mesmo que o destino fosse Doha, no Qatar.

Para começar bem, um senhor, tradicionalmente vestido com chapéu e bata longa até os pés, de mangas compridas, era meu companheiro. Até ali, tudo bem, até balbuciar alguma coisa em minha direção: que cheiro! Ho-ho-ho é Ramadã! Avião no céu, tiozinho cochila e cai para qual lado? O meu! E o cheiro? Ahhhh, delícia, imaginem o hálito de alguém há mais de 10h sem ingerir nada: vou pular! Me expremia tanto para tentar tirar aquele ser do meu braço, que achei que por um momento tinha trincado a janela - hahaha, verdade! O tsc me deu um ligieiro suor gelado pelo corpo e pensei que meu peso, talvez, valeria a multa! hahaha. Mas, antes tarde do que nunca, veio o anúncio: hora de quebrar o Jejum! - quase gritei "Handriallah" (graças a Deus em árabe) para que eu tivesse certeza que todos haviam entendido a minha mensagem. Mas só segurei, discretamente, em meu escapulário e rezei, mil vezes, metalmente, o Pai-Nosso, afinal, não queria arriscar a declaração do meu catolicismo fervoroso, principalmente em momentos de alívio pós tensão, em meio todos àqueles muçulmanos, tradicionalmente expostos.

Assim, me acostei direito na poltrona, finalmente, e me preparei para um vinho. Começaria de leve a me relaxar, para que dormisse bem até Doha:

"Não servimos bebida alcóolica, senhora. Temos água, suco...", disse a comissária de bordo.

Ahhhh, que desespero. Dessa vez eu pulei para a asa do avião, lá fora, de maozinha ao vento. Pelo menos o gente boa do vizinho teria um bafo de comida agora, graças. Respiremos, um, dois, respira. Respiremos, um, dois, respira. "Shukran" - obrigada, foi tudo o que devolvi à senhorita.

Então, nunca achei que seria tão feliz ao chegar em Doha: aquilo sim era um Aeroporto, que luxo! Não diria que estava em um dos países árabes em desenvolvimento, a não ser pela ausência de bebida alcóolica nas geladeiras. Estou sedenta por uma cervejinha e vida normal!

Lá mesmo foi incrível ver como as pessoas mudam bem de cara: já se vê muitos asiáticos, muitos!, daqueles típicos com sandália, bermuda, boné ou chapéu (no caso das mulheres), pochete e máquina fotográfica: uma graça!

Meu humor já estava bem melhor, mas não imaginei que demoraria tanto para chegar à Kuala Lumpur que, até agora, não sabe me dizer se estar aqui pode se dizer que se conhece a Malásia ou se caímos naquela de Rio, Paris, Milão e Amsterdã. Vou ficar mais uns dias para tentar achar resposta, enquanto isso, vai mais uma: sendo então a Malásia um país oficialmente islâmico: "Não servimos bebida alcóolica, senhora. Temos água, suco...".

sábado, 22 de agosto de 2009

"(...)Sim, são três letrinhas(...)"

1. [re]Quebrando Ovos
Lembrança
[1 Ato ou efeito de lembrar. 2 Coisa própria para ajudar a memória. 3 Memória. 4 Recordação que a memória conserva por certo tempo].

Isso de compartilhar pode ser engraçado e esta situação diária do suco me lembrou uma de quando morei em São Paulo, momento feliz, difícil, recompensador, mas sobretudo hilário! Desde as discussões, discórdias, até a dúvida para escolher o bar do happy hour, tudo terminava em riso ou choro,fruto de gargalhadas incontidas!

Dentre os momentos mais puxados, em que eu era a primeira a acordar e a última a dormir, correndo atrás do que deveria ser atingido, motivada pela paixão e crença naquilo em que fazia, acordei às 5:30, caminhei, de salto, por bons quarteirões, subi uma ladeira e cheguei ao ponto de ônibus. Depois, peguei mais um, logo ali que passei pela Paulista e fui até o Alphaville, fazer uma reunião. Voltei por volta das 10h e quase refiz o trajeto, com a diferença que fui a uma outra reunião no Villa Lobos e, ao fim da tarde, no Butatã.

Neste intervalo acho que estava com um pão-de-queijo (saudade), um café de copo-lagoinha (saudade) das típicas padocas de São Paulo (saudade) e talvez algum outro carboidrato no estômago.
Quase sem sentir os pés, chegando em casa, dentro do último ônibus, troquei o salto alto pelo chinelo de dedo e, ao parar no ponto, antes da ladeira ser descida, realizei a fome e pensei "Hm, paro na Padoca, tento um final de um self-service ou faço algo caseiro?". E foi quando eu pensei eu um omelete suculento, com pimentão e cebola, ou um sanduíche, não me lembro ao certo, mas era algo bem gordo (saudade) com ovo, delícia!

Andei os quarteirões só pensando no ritual de lavar as mãos, jogar a bolsa no sofá e quebrar os ovos. Quando abri a geladeira, cadê?? Gente, foi impulsivo e bem espontâneo, um grito só "Quem comeu meu ovoooooooooooo", ahahahaha, mais um episódio para deixar registrado!

Nisso, descem Naninha e Lora, desesperadas, achando que algo realmente grave tinha acontecido, até que a Nana assumiu a culpa do roubo fatídico - ó, drama! Terminei com um miojo, grande salvador, naquele mau-humor e cara emburrada, notoriamente dita "não falem comigo hoje!".

Entre essas e outras lembranças me pego pensando que compartilhar, mesmo que involuntariamente, tem lá seu valor e a interpretação depende muito de nós. Deve haver, quase que "somente", humor para se pré-dispor. E é por essas e outras buscas de energia, alegria e sentimentos em geral, que vou à Malásia, reaviver e re-ver!

2. Ho-Ho-Ho. Chegou o Ramadã!
E não é que a tecnologia acertou mais uma previsão? A Lua de quinta-feira chegou trazendo o início do nono mês do Calendário Lunar e, com ele, a continuidade da crença dos muçulmanos que celebra a revelação de Alá, feita a Maomé, que findou na transcrição dos primeiros versos do Alcorão.

Na cidade é absurda a mudança. A começar pelos enfeites por todos os lados, luzes pisca-pisca, supermercados lotados, trânsito mais infernal (ops) do que o habitual, corre-corre como se o mundo fosse acabar e todas as famílias estivessem a estocar toda a comida do país para o próximo "para sempre". Ho-ho-ho, é quase Natal!

Hoje, no trabalho, os líbios chegaram após as nove horas da manhã, em novo horário, como sinal de respeito nosso a eles, que trocam o dia pela noite e passam a madrugada comendo, comemorando com os familiares, após jejuar pelas longas horas sob luz do sol, até que se ponha, em sinergia com a última reza antes do início da "ceia".

Foi estranho entrar no restaurante e deparar com meia-dúzia de expatriados e encarar os líbios que nos serviam, em jejum, inclusive de água, há horas e que dali ficariam até a noite.

Engraçado que tudo isso por aqui não é uma opção. É simplesmente pelo fato de ser.

3. Quem fecha uma porta, abre uma janela
Estou influenciando diretamente a vida de pessoas, quando as digo "sim, está aprovado para vir" ou "não, mantemos contato para futuras oportunidades".
Isso tem sido muito sério, como foi e tem sido comigo mesma. E aí também não é necessariamente uma opção.

Escolha [Ato ou efeito de escolher; seleção, classificação. 2 Aquilo que se escolhe. 3 Discernimento (...)].
Michaelis.

Sim ou não? São três letrinhas...

sábado, 15 de agosto de 2009

Ela tomou meu suco!

Compartilhar [Participar de, ter ou tomar parte em].
Dividir [1 Separar em partes (...)3 Efetuar uma divisão; 4 Demarcar (...) 10 Compartilhar].

Michaelis

Me mudei de casa de novo, deve ter um pouco mais de um mês e foi a terceira em sete meses. E desta vez não teve planejamento. Fazendo fisioterapia e dependendo do transporte da empresa, a logística se atropelou e as malas ficaram prontas entre uma noite e o dia seguinte. Sem sentimentos. Empacotei e parti.

Me sinto em uma pousada, onde estou agora. Chego da academia - vulgo alongamentos fisioterápicos - coloco a mochila no quarto, lavo as mãos, desço para o restaurante proporcionado pela empresa, sirvo salada e alguma proteína - frango, em grande maioria - subo, tomo banho e vejo novela.

Pois é. Nesta casa tem Globo Internacional e Internet Rápida. Assim, tudo em letra maiúscula porque é um privilégio, benefício e invejável a alguns olhos!
Achei que, depois de tanto tempo, não teria paciência para Caminhos que não fossem os meus, mas até que os da Índia estão sendo aceitáveis, exceto pela música da abertura que, Arebaba, ninguém merece!

E o Faustão?? Gente, que saudade! É a sensação imediata de "vamos sair" ou "depois tem Fantástico, então amanhã é Segunda!". Mas aqui não é isto o que importa. O que importa é que é uma válvula de escape - somehow - quando estamos mais próximos do Brasil ou compartilhamos o que acontece lá; enquanto aqui, parece que as coisas não se movem.

Video Show, Jornal Hoje - Ok, Zorra Total nem aqui dá para agüentar, confesso!! - mas são programas que para a gente é só uma justificativa para se sentar no sofá e ficar alguns momentos juntas, sem que cada uma vá para seu quarto, feche a porta e interaja com o computador. Até porque, Sábado e Domingo aqui são dias normais de trabalho, então, o som que relembra o Fantástico ou a própria abertura dele mesmo, não tem a mesma conotação depressiva, desesperadora, chata ou qualquer outra coisa negativa que sugere para as pessoas que estão no Brasil. Nosso Sábado aqui é a quinta à noite e nosso Domingo, a Sexta-Feira. Portanto, bom mesmo é Os Normais, por exemplo, que independe da sensação que traz o que será o dia seguinte: será igual ao hoje e ao ontem, provavelmente, e cabe a nós nos reinventar!

Neste circo, estou com mais quatro meninas: duas de BH, uma mexicana e uma do Rio. Dizem que meu sotaque está aquela beleza. Um apanhado de "Po meu, agora não vou, uai", exageradamente confuso - mas engraçado (ou irritadiço - nunca sei).

Tem uma sala ampla, os quartos são bem montados, cozinha quase Gourmet - só uma pessoa se atreve e as demais comem, na cara-de-pau mesmo - e piscininha! As compras continuam sendo feitas de forma mais individual, mas como almoço e jantar são fornecidos pela empresa, o que mais temos na geladeira é ovo e suco.

Um dos meus sucos prediletos é o de Laranja com Cenoura, que quase me fez vomitar na mesa de almoço com as pessoas do escritório na minha recém-chegada à Líbia. Como vocês podem ver, meu paladar mudou - e para pior!, mas é aquilo né?, adapte-se, Camaleoa!

Para fechar a nova rotina, chego em casa, da "academia", com a sede mais gostosa de suco de laranja-com-cenoura do mundo e, sendo rotina, todos os dias, minha frase, ao abrir a geladeira é "P.Q.P, ela tomou meu suco de novo!!".

É a doméstica, que, entre tomar o suco e usar nossos ovos, arruma a casa por nós!

sábado, 8 de agosto de 2009

Amém

Fé [Crença, crédito; convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção. 2 Crença nas doutrinas da religião cristã (...)].
Michaelis
Leia ouvindo:
http://www.youtube.com/watch?v=Vw9JT_JEDTI

Eu nunca fui muito católica, mas fui batizada, fiz Primeira Comunhão e Crisma. Se casar, será em uma Igreja. Não sei se como manda o figurino, porque ainda sou bem relapsa para essas coisas.

Mas aqui, fora da minha zona de conforto, acho que tenho tido mais fé. Em minhas rezas por todas as noites, meus agradecimentos são mais fortes, sinceros e enfáticos. Meus pedidos são poucos e, em grande maioria, que as pessoas que eu amo fiquem e estejam bem, neste período em que me ausento e me distancio. E "para sempre" - :).

Assim, a fé continua como um mistério para mim e, de fato, "mais do que sonha nossa vã filosofia".*

Estamos há semanas de começarmos a compartilhar o Ramadã.
Não se sabe ao certo quando ele começa, dizem que é por volta do dia 21 de Agosto, mas o anúncio é oficializado um dia antes, depois que os Líderes Muçulmanos olharem para a Lua e confirmarem se ela estará crescente na noite seguinte.

Sem dúvida, é o mês mais importante do calendário lunar, que completa os cinco pilares do Islamismo - seguido da Declaração de Alá (Deus), Preces, Caridade e Peregrinação à Meca (na Arábia Saudita).

Esse período de fé deve superar as necessidades físicas-corporais, em todas as diferentes formas, para declaração e dedicação à espiritualidade. E se espiritualidade é "um assunto de vida e morte para as nações" e fé é a "confiança e a convicção que conduzem à liberdade e à transformação das aflições", mesmo que sejam definições de um Monge Vietnamita - Tchich Nhat Hanh** - vê-se que fé é fé em todo e qualquer lugar.

Amém!

*Trecho de Hamlet, Shakespeare:
" - Há algo de podre no reino da Dinamarca - Ato I, Cena IV
- Há mais coisas entre o céu e a terra, Horácio, do que sonha a nossa vã filosofia - Ato I, Cena V
- Duvida da luz dos astros, de que o Sol tenha calor, duvida até da verdade, mas confia em meu amor - Ato II, Cena II
- Se fôsseis tratar todas as pessoas de acordo com o merecimento de cada uma, quem escaparia da chibata? Tratai deles de acordo com vossa honra e dignidade. Quanto menor o seu merecimento, maior valor terá nossa generosidade - Ato II, Cena II
- Ser ou não ser... Eis a questão (...)".

** Thich Nhat Hanh foi indicado ao Nobel da Paz por Martin Luther King, em 1967 e em 2001, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, apresentou uma impactante conferência, pauta para a última inspiração da Época Negócios - Julho.

sábado, 1 de agosto de 2009

Que seja eterno enquanto dure

União [1 Ato ou efeito de unir. 2 Ajuntamento, reunião (...). 5 Adesão harmonia, concórdia; paz, comunhão, intimidade. 6 Casamento, conjúgio, consórcio (...)].
Michaelis.

Estava previsto para começar às 20:30, mas eram 21:30 e nada. As pessoas saíram correndo do trabalho, tomaram um banho rápido e esperaram carona para estar lá pontualmente.
Às 22 horas foi servido um suco de amêndoas, doce, que parece essência e/ou perfume em estado cremoso, bastante artificial.

Havia somente mulheres e elas estavam com vestido justo, curto, decotado e de cor forte, acompanhando as das frutas cítricas: verde limão era o mais corriqueiro. Com eles, a maquiagem deixava ainda mais reluzente a composição, sendo ofuscada a luz do lugar. Era pérola e brilho por todos os tecidos, desde as cortinas e tapete do salão, até a sombra dos olhos fortes das mulheres, árabes.

Na mesa, junto com o arranjo de flor também pouco discreto, estava um pote de pó de café instantâneo, um com açúcar e uma garrafa de água - fria. Quase às 23:30, refrigerantes - quentes - foram servidos, com uma carne de carneiro ensopada na própria gordura - fria - com pães.

Próximo a este momento, entra uma mulher especial, mais colorida e pintada que as outras, com um vestido com cauda enorme, de cobrir as poeiras do ambiente, acenando a todas as outras: era a noiva, filha de um dos funcionários líbios que trabalha na empresa.

Enquanto as demais mulheres permaneciam nas mesas, "comendo" o jantar, a noiva tirava fotos no palco. E durou mais de uma hora. Depois, a mãe dela passou por todas para agradecer a presença.

Com fome, cansada, em uma situação mais chata e tediosa - embora curiosa - de todos os tempos, as mulheres expatriadas foram embora, sem que a festa daquele casamento estivesse de fato terminada.

Reza a história que lá pelas duas horas da manhã o noivo entraria e, neste momento, todas as presentes cobririam o cabelo, braços e ombros, exceto a mãe e as mulheres da família dele, ou seja, pessoas que não teriam eventual apelo sexual.

Dali então, sairiam casados, porque em outra casa, somente com os homens, o noivo haveria se casado com o pai da noiva, com quem fez os acertos para que conseguisse permissão para fazer parte da família como genro e que "buscar a noiva", frente às amigas e mãe, é a certeza de que tudo correu como planejado, na cerimônia dele.

Em linhas gerais, este é um dia que compõe os quatro de um total de celebrações de um casamento líbio. Embora várias percepções, poucos são os expatriados que efetivamente chegaram até o fim do compartilhamento de um momento tão íntimo para uma mulher daqui e, sem dúvida, o mais importante na vida dela e daqueles que são parte da sua família: casar é permitir a continuidade!


*Nota: eu não fui ao casamento, ouvi dizer isso tudo, por diferentes olhares e perspectivas, mas em resumo, afirmaram que não perdi nada, porque era uma diferença tão grande ao que estamos habituados, por um ritmo que não nos pertence, que eu teria ido embora, provavelmente, na entrega do doce de amêndoa, que é o aperitivo - sobremesa vem antes!
O curioso é que, no mesmo dia, um casal de expatriados brasileiro comemorava um ano de casamento - e foi igualzinho ao líbio. ;)

sábado, 25 de julho de 2009

Duas semanas

Esperar [1.Ter esperança em, estar à espera de, contar com (...); 2. Aguardar; 3 Estar na expectativa; 4 Contar, obter; ter como certo ou muito provável, conseguir; 5. Confiar no auxílio ou proteção (...)".
Michaelis.

*Leia ouvindo
Letra

Acabei a fisioterapia. Seis sessões em duas semanas. Ridículo, mas a massagem era boa. A pessoa que me atendeu, que, infelizmente, não posso afirmar que seja fisioterapeuta, não falava (quase) nada de Inglês.

No primeiro dia ela me mandou ir para a piscina - talvez eu tenha coragem de descrevê-la um dia - e quando entrei (ok, depois saí e não voltei mais. Passou!) ela disse "Vai, nada".

- Como assim?; perguntei.
- Vai, nada, ela insistiu.
Decidi ir por mímica.
- Você não sabe nadar? Nadaaaa - enfatizou.
Desisti e fiquei parada, em pé, por 40 minutos, até que a maluca voltou e começou a erguer as pernas próximo à beira da piscina. Entendi que era aquela brincadeira de "imitar o bobo" e foi o máximo que fiz quanto aos bem recomendados "exercícios na água": dez vezes ergui a perna direita e dez a esquerda.

No resumo destes seis dias, intercalados, passei raiva, fiquei perdida com o motorista, não me comuniquei, recebi massagem e foi isso.
Ontem, no meu último dia, perguntei:

- Então, hoje é meu último dia, o fisioterapeuta vai me avaliar e dizer os próximos passos?
- Espera, foi a única coisa que a Líbia - a maluca - de pele morena e olhos fortes, mas perdidos, soube me dizer antes de sair.
Enquanto colocava o tênis, chegou um rapaz, dizendo:
- A Sara me disse que você falou algo. O que é?
(ahahahaha, às vezes acho que isso é um filme e que a qualquer hora alguém vai desligar a TV e vou voltar ao normal: não é possível!).
Repeti, com muita calma a pergunta e o colega, na mesma calma, respondeu, olhando para os lados, como quem procura alguma coisa.
- Ah, volta daqui duas semanas.
Eu: - Mas duas semanas? Ninguém pode me avaliar hoje? Posso voltar a fazer exercício físico?
- Isso, volta daqui duas semanas.
- Sim, entendi, mas e amanhã, faço o quê?
- O fisioterapeuta viajou, Ramadan, todo mundo viaja antes, Ramadan. Volta daqui duas semanas.

Ai, Senhor. Amarrei meu cadarço e anotei no meu celular: voltar no fisioterapeuta, em duas semanas. Enquanto isso, vou fazendo os alongamentos - dez na perna direita, dez na esquerda, na academia da empresa.

*Nestes últimos dias mudei de casa e me despedi da Teca e da Magequita. Durante a semana, a irmã do meio mandou esta música para a gente, então, vale regar o momento com ela.

sábado, 18 de julho de 2009

Dia de dois

Praia [Beira levemente inclinada de um oceano, mar, lago ou rio, coberta de areia, pedregulho ou fragmentos de rocha e banhada pelas marés ou pelas ondas.2 Região banhada pelo mar; litoral].
Michaelis

Em Setembro de 2007 eu fui para Turquia, quase como vim para cá: caída de pára-quedas!, sem rumo, planejamento. Me chamaram e eu fui. E ainda penso como essas duas experiências se cruzam em alguns pontos de comportamento - pouco de religião - e aprendizado.

Istambul registrou meu primeiro choque-cultural forte e me preparou para algumas impressões que tive e tenho na Líbia, o que me faz ser assertiva de que um dia as coisas vão fazer sentido, mesmo que demorem dois ou dez anos.

E quinta-feira fui a um casamento Turco. Na verdade, eles se casaram no dia anterior, na Embaixada e, quinta, nosso "Sábado à noite", foi a reunião de pouquíssimas pessoas para comemorar, de fato. Foi como se eu estivesse em Istambul novamente: toda aquela música, as danças (tcha tcha tchi tchi - um, dois; três, quatro) com o estalar dos dedos, acompanhando o ritmo; rodando em círculos e mexendo o ombro também com o "um-dois; três-quatro" e todo o meu desengonço.

A comida era repleta de doces, dos quais não gosto muito, mas valeu relembrar o sabor, porque gosto e cheiro são resquícios de memória.

Fim-de-semana
Na Sexta, nosso Domingo, pela primeira vez em dois meses de verão, fui à praia. O mediterrâneo é simplesmente maravilhoso. O azul não é da cor do mar. São quatro tons misturados que, com o sol forte, trazem uma luz e uma inspiração de beleza jamais vista. Então não é a cor retratada por poesias ou músicas já registradas, só lamento.

Era um resort. Pagamos 55 dinares (aproximadamente 90 reais) e poderíamos acessar parte da praia que teoricamente não seria freqüentada por locais. Não foi bem assim e, na verdade, desistimos de usar a piscina do Hotel no fim do dia, visto a reação das mulheres que estavam, quase completamente cobertas, com vestidos de manga e burca, sob aquele sol, acompanhando as crianças com os respectivos maridos: um constrangimento que fez ofuscar o brilho de curtir um pouco um dia normal.

De volta ao mar, nos jogamos na temperatura branda, sem ondas, de água transparente, parecendo estar em paraíso asiático e, porque não, brasileiro; embora a realidade voltasse à tona quando aquelas mulheres se adentravam ao mar: inacreditável! - sim, de roupa!, uma só mais moderna, com um maiô que a Adidas lançou por aqui - adoro essas sacadas! É uma calça, com blusa de manga comprida e burca - quase um macacão com touca - sintética e não 100% algodão como as mulheres tradicionais usam - além de nós, só ela estava ousada e escanadalosa, quebrando paradigmas.

Para fazer valer a viagem de mais de uma hora até lá, decidimos comer bem! O pacote dava direito a café da manhã, almoço e jantar e, de novo, não parecia Líbia. O buffet trazia várias opções de entrada, salada, sopa, pratos quentes, pães e porcarias em geral. Faltou só o pão-de-queijo para fechar o fim de semana como algum outro comum "em casa": festa, diversão, descanso, comer bem e recomeçar.

A saudade continua!
"Os melhores acontecimentos foram feitos por homens que estavam completamente desanimados e cansados, mas continuaram".

sábado, 11 de julho de 2009

Sufoco é pouco

Dor [1 Med Sensação desagradável ou penosa, causada por um estado anômalo do organismo ou parte dele; sofrimento físico. 2 Sofrimento moral. 3 Dó; pena, compaixão (...)].
Michaelis

Um dia acordei com dor nas costas e achei que tinha sido fruto de uma noite mal-dormida - talvez o calor de 44oC-48oC - seguidos da falta de refresco com as constantes quedas de energia ao fim do dia até a madrugada.
Dois dias se passaram, mas as dores não e acabei optando por suspender a utilização da minha válvula de escape: a corrida na esteira!

Até que em uma manhã, a dor realmente me tirava o foco e então liguei para uma brasileira que é fisioterapeuta, para saber se ela recomendava algo - remédio, alongamento, qualquer coisa. E após responder algumas das perguntas dela, senti um alívio quando ela disse que muito provavelmente não seria nada demais, mas que era prudente consultar um neurologista no intuito de tentar fazer uma ressonância: "Não vá em ortopedista, senão ele pode te pedir raio-x e não necessariamente preciso ver sua estrutra óssea. Talvez você tenha machucado um nervo por postura - ou algo do tipo", orientou.

Assim, comecei a saga da aventura de literalmente me virar por aqui, me irritar, me surpreender e, de novo, (re) descobrir o potencial do ser humano em ser solidário e solícito ou simplesmente um ser que dá de ombros.

O neurologista, em consulta, reafirmou a hipótese de que não seria nada demais e pediu a ressonância, seguida de uma receita médica que ignorei - se ele não sabia o que era, qual era o ponto de uso dos medicamentos? O resultado saiu e ele disse que era um princípio de hérnia de disco e então a partir daquela data comecei a tomar duas injeções diárias e um anti-inflamatórioà noite. Sem melhora (rápida), fraquejei e dois dias depois desta consulta comecei a ficar de repouso.

Dez dias em casa, na Líbia, sem internet, canais a cabo que não apresentem uma programação considerável, em calor absurdo - embora ainda não o pico do que teremos - foi difícil, mas não relutei tanto (acho que melhorei no quesito paciência). Ainda, abstrai a idéia de que meu Outlook deveria estar prestes a explodir - se já não ocorreu - devido ao número de e-mails que chegam e não são respondidos (nem lidos).

Passado o tempo previsto de medicamento tomado, voltei ao médico. Aliás, tentei, porque ele havia sumido - de fato. As recepcionistas não tinham informação dele e só souberam me informar que ele não ia ao consultório por dois dias, que o celular estava desligado e que havia uma suposta hipótese de que ele estaria em algum Congresso por aí.

Assim, consegui saber que o neurologista que tinha "tratado" o caso do Felipe (voltemos mais uma vez e sempre a este fato) estaria disponível para me atender e que daria direcionamento aos próximos passos.

Dessa vez meu chefe foi comigo e me apoiou - principalmente em caráter emocional.
Naquela ocasião, o diagnóstico já era outro, nada de hérnia ou nervo, "apenas" um espasmo muscular. As injeções tinham sido desnecessárias e o repouso em certo ponto também. Dentre algumas mudanças de hábito sugeridas, fisioterapia estava na lista do que fazer de imediato para que eu melhorasse.

A Jana - essencial nisso tudo, depois a apresento - marcou para um motorista me buscar e me levar em um outro Hospital: desespero e irritação. Fui mal-atendida, os atendentes discutiam meu caso - eu acho - em árabe e me comunicavam o que fazer em inglês quando não era o que tinham dito anteriormente.
Vai-pra-lá-pra-cá, a dor só se intensificava e eu não conseguia nem horário para fisioterapia, nem os remédios. Por fim, resolveram que um médico de lá deveria me consultar para confirmar a receita que trazia comigo e, para minha surpresa, ele voltou a prescrever as injeções que tinham sido suspensas e a voltar ao diagnóstico de "algum nervo inflamado".

A minha única reação foi chorar. Chorei por todos os sentimentos atropelados juntos: medo, desconfiança, desespero, impotência - ao não consegui me comunicar e, portanto, entender e ser entendida - saudade e dor. Sobretudo, por sentir isso tudo sozinha, naquele momento.

Toda esta lenta e chata narrativa retrata alguns dias que me deram vontade de voltar para casa - se estiver em dúvida, leia-se Brasil - sem olhar para lugar nenhum, a não ser para frente. Passei a falar todos os dias com minha mãe, pelo telefone, e a não ter concentração nem interesse para terminar a leitura da Época Negócios - de que tanto sou fã e me faz inspirar. Não trabalhei e nem mantive o ritmo dos "excessivos e-mails a amigos para dizer que estou bem", o que fez alguns deles me ligar e perguntar por onde eu andava que não online, de alguma forma.

Hoje, finalmente, fui fazer a avaliação fisioterápica, com a conclusão de que tenho espasmo muscular. Começarei amanhã. Todavia, em se tratando do país, as mulheres têm horário diferente dos homens, portanto, os meus serão aos Domingos, Terças e Quintas, entre 8h-10h.

E entreguei para Deus, com um limite de tentativa de 12 sessões - ou menos.


Aproveitei para parar no escritório principal e acessar a internet para dar o "oi" de sempre, atualizar os que perguntaram, me por em dia e postar no blog, até mesmo para manter o registro de que as histórias se repetem, com algumas personagens alteradas e dessa vez saí do pano-de-fundo para a cena principal, (in)felizmente.

A parte "feliz" é que minha mente está tranqüila por ora e por todo tempo, na medida do possível dentre toda a adversidade disso aqui e que, ainda, embora eu tenha conhecido de perto os aspectos ruins que caracterizam o comportamento dos líbios, crítica a qual eu defendi aqui várias vezes, exatamente por entendê-los sobre uma perspectiva cultural diferente, vários deles se mostraram preocupados, solícitos e, mesmo os que não falam inglês, cada um a seu modo, se esforçaram em me garantir o que os médicos não conseguiram: certeza e confiança.

Neste tempo de fragilidade e insegurança, tem valido pensar que "a vida é um bumerangue".

domingo, 5 de julho de 2009

Em seis meses

"O tempo e o espaço são modos pelos quais pensamos e não condições nas quais vivemos", Albert Einstein.

Camila. Paulo. Carol. Ciro. Blog. Felipe. Companhia. Inverno. Paula. Aeroporto. Eman. Curiosidade. Salah. Pães e Camelos. Wafa. Diferente. Ali, Adel, Said. Simplicidade. Perla. Perspectiva. Ziad. Prioridade. Carlos. Proximidade. Ester. Semelhante-parceria. Rodolfo. Graça. Santos. Festa. Bruno. Hotel. Enrique. Ricardo. Leveza. Cláudio. Argentina. Caiado. Aprendizado. Amel. Raça. Ahmed. Português. Tonhão. Feijoada. Eduardo. Sotaque. Marcos. Postura. Cristina. Referência. Attawfeek. Idioma. Brasil. Casa. Cleide. Pensamento. Elizabeth. Espanhol. Inês. Ensinamento. Azeite. Pistache, castanhas e amêndoas. Ritmo. Rotas. Perda. Oportunidade. Atitude. Corinthia. Luxo. Primavera. Troca. Terceiro. Pimenta. Luciana. BH. Mudança. Recomeço. Luiz. Novo. Janaíne. Conforto. Beth. Riso. Sara. Sutileza. Mohamed. Solidariedade. Salada de Fruta. Marcelo. Charuto. Caramelo. Sorvete. Areia. Tempestade. Pedro. Revisão. Alexandre. Fox-CNN. Paciência. Caminho. Carona. Férias. Fotos. Luz. Fernanda. Alan. Elaine. Fernando. Diego. Marco. Adilson. Força. Conflito. Esteira. Escape. Saúde. Van. Ben Gashir, Janzur, Saraj. Conhecimento. Mahmoud. Abdulatif. Filipinas, Tailândia e Vietnã. MSN. Aniversário. Formatura. Casamento. Telefone. Créditos. Pizza. Narguile. Sem álcool. Junina. Saudade. Vestido. Livros, revistas e discos. Dor. Fathia. Piscina e Sol. Igor. Energia. Turcos. Idil. Retorno. Verão. Flávia. Melhora. Descanso. Preocupação. Macarrão. Abraço. Filme. E-mail. Convite. Proposta. Aposta. Pense. Informação. Partilha. Família. Dúvida e certeza. Felipe.

Estas são algumas das pessoas que vieram de encontro a mim, na Líbia. Ou antes dela. E algumas das sensações que me trazem: "Nós criamos palavras para definir nossa experiência", Elizabeth Gilbert, sobre os sábios iogues.

E faço exatamente seis meses hoje por aqui.

Felipe e eu desembarcamos no dia 05 de Janeiro, completamente ansiosos e indefinidos quanto ao que sentíamos sobre onde estávamos. Teve aquele imprevisto, ele se afastou e volta hoje - coincidência - e então começaremos tudo outra vez!
"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida", V.M.

Seis meses mais? Mais do que seis meses?

"Todo homem tem seu período de sacrifício e renúncia. Para alguns esse período é curto, para outros é longo e vai até a velhice, para outros com menos sorte vai até o fim da vida, sem qualquer conclusão prática. Mas todos devem começar cedo, ficar firmes e aguentar tudo, tendo em mente que o acervo de tranquilidade para a velhice é feito durante a mocidade, quando as forças nos assistem na plenitude". Achilles Miraglia - 1956.

sábado, 27 de junho de 2009

Notícias de lá retratam parte disso aqui

Notícia [1 Conhecimento, informação. 2 Nova, novidade (...) 6 Memória, lembrança. 7 Nota, observação, apontamento. 8 Noção, conhecimento].
Michaelis


Esses dias uma pessoa chegou em Tripoli e vinha direto do Brasil. Trouxe em sua mala duas revistas para mim: a Época e a Época Negócios. Optei primeiro pela semanal, pois já não estava assim tão atualizada, então não gostaria de passar mais tempo distante das manchetes principais que narram o Brasil.

Fiquei um pouco chocada com algumas reportagens, como a que faz um paralelo do custo do Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais, com a construção e montagem de quatro hospitais como o Instituto do Câncer em São Paulo, com 474 leitos - e que ainda sobraria dinheiro para um hospital menor, com 200 leitos.
Ainda, li quanto às especulações de um terceiro mandato do Presidente Lula, da doença da Dilma, das articulações do PSDB e da volta de Renan Calheiros, daquele jeito.

Sobre o mundo, nada além de Barack Obama e o (maluco) Kim Jong-il, da Coreia do Norte, com seus testes com bombas nucleares.

No fim das contas e da revista, tudo permanece como está - e esteve. A impressão que tive foi de que estou imersa em uma bolha e que tenho utilizado a internet para raríssimas curiosidades e excessivas mensagens aos amigos e familiares, para dizer que estou bem.

Embora minha página de abertura do navegador seja a de um Jornal Brasileiro, rapidamente passo os olhos pelas manchetes e dificilmente clico em alguma para me aprofundar um pouco mais. E, na verdade, não saber o que acontece por lá me fez sentir emburrecida, mas ao mesmo tempo, não vou prometer para ninguém, nem a mim mesma, de que vou me esforçar para me sentir conectada ao "lá".

O que vou tentar fazer é procurar por estas pessoas que vêem do Brasil e pedir que elas tragam oportunidades como essa. Só com algo impresso, em mãos, consigo priorizar a minha leitura e não ao trabalho ou ao ócio individual - e é por isso que acho que os livros não vão acabar um dia, como o vinil, em troca do CD e quase o CD, pelos MPs - 3, 4, 20 - da vida.

Divagações à parte, ler a Época da primeira semana de Junho me trouxe a conhecimento o Projeto Generosidade. Em soma, veio uma reportagem ilustrando o que é e tende a ser a Terceira Edição desta iniciativa.

O que li retratava parte do trabalho do Instituto Rukha, uma organização não-governamental que ajuda mães de crianças pedintes a refletir sobre a educação que dão a seus filhos: forte e difícil, bem Brasil.

E, curiosamente, ontem fui comer pizza com as pessoas do departamento onde trabalho e, pela primeira vez, andei a pé por uma das ruas mais movimentadas de Tripoli, vivendo um pouco do que é estar aqui, finalmente. Dentre umas passadas e outras, entre a ida e a volta, antes e depois da pizza, eu vi algumas crianças entre os carros em meio ao engarrafamento, pedindo esmola* e outras supostamente tentando vender algo que tinha acabado.

De novo, ao meu ver, eles estão começando errado. Estão fazendo o país renascer sob os piores mau-exemplos que temos: falta de transporte público, infra-estrutura, educação e acessos em geral.

Enfim, parecia que tinha lido uma Época da Líbia e, como disse Luiz Alfaya, diretor do Rukha, "o farol é o melhor caminho para acabar com o futuro de uma criança".
Assim, começamos a mesma história, em outro lugar, da mesma forma: "Quem nunca contribuiu com isso, dando uma esmolinha e depois acelerando o carro com a consciência aliviada?", Alfaya. Resta saber se o fim se repetirá por aqui, como o começo.

*Vale dizer que as pessoas que estão em Tripoli há mais de um ano se surpreendem ao ver cenas como esta, ainda não vistas até então. Será uma conseqüência do Pioneirismo, do estrangeirismo, do crescimento acelerado, desordenado, não planejado? E a gente faz o quê? Quem é "a gente" e o que é "o quê"?

domingo, 21 de junho de 2009

A escolha de ir - e permanecer

"Se você tem coragem de deixar para trás tudo que lhe é familiar e confortável (pode ser qualquer coisa, desde a sua casa aos seus antigos ressentimentos) e embarcar numa jornada em busca da verdade (para dentro ou para fora), e se você tem mesmo a vontade de considerar tudo o que acontece nessa jornada como uma pista, e se você aceitar cada um que encontre no caminho como professor, e se estiver preparada, acima de tudo, para encarar (e perdoar) algumas realidades bem difíceis sobre você mesma... então a verdade não lhe será negada".

Essa frase poderia ser minha, mas não é. E a li em um momento muito especial: na Sala de Embarque em São Paulo, vindo para cá. Foi mais um dentre os tantos presentes que ganhei de pessoas que me amam, me querem bem e definitivamente torcem muito para que as minhas escolhas sejam certas e as melhores para mim mesma e, em conseqüência, para elas também.

Mamãe me deu um álbum de fotos que marcaram os meus 24 anos até esta partida, com cartas do meu irmão mais velho, dela e do meu pai. Meus amigos me deram também fotos e cartas, objetos, músicas e inseparáveis livros.

A citação acima é de Comer, Rezar, Amar, de Elizabeth Gilbert - de quem já falei rapidamente neste blog, no post sobre Milão.

Vários destes presentes vieram a mim na Sala de Embarque, como uma surpresa intensa, ao abrir minha mochila para pegar... um livro!, e lá estavam todas as outras coisas. São segundos em que você repensa rapidamente se vai ser uma boa idéia entrar no avião e deixar tudo isso - que está estampado nas fotos - "para trás" e, lendo a contra-capa de Comer, Rezar, Amar, tive certeza de que aquela leitura eu teria que postegar para um momento em que eu estivesse mais certa da escolha, feliz e equilibrada.

Hoje, terminei de ler o livro. Não sei se o recomendaria. Não gosto de influenciar esse tipo de escolha. Mas, para mim, valeu pelo momento em que foi dado e por quem foi dado e pela escrita que interpretei há quase seis meses, versus a de hoje.

Em resumo, é a história de uma Jornalista engraçada e muito bem sucedida que decide viver quatro meses na Itália, Índia e, por fim, Indonésia, a procura, neste total de 12 meses, do equilíbrio.

Em paralelo comigo, nos últimos dois anos eu vivi o "oito" em São Paulo e aqui diria que vivo o "oitenta" - sem considerações, é só uma ilustração de que são momentos extremos.

Refleti sobre várias coisas durante a leitura do livro, mas três coisas me marcaram para a aplicabilidade do meu equilíbrio:

- "Não participo da palavra, portanto não estou morando aqui por completo", página 112, sobre a Itália: falar na língua do líbio é poder ser entendido por mente e coração, não posso fazê-lo;
- "(...) Você é o que você pensa. As suas emoções são escravas dos seus pensamentos, e você é escravo de suas emoções", página 140, sobre a Índia: eu ainda falo muito, mas tenho aprendido a gostar e a sentir falta do silêncio;
- "(...) Quatro virtudes de que uma pessoa necessita para ter segurança e felicidade na vida: inteligência, amizade, força e (adoro essa parte) poesia", página 259, sobre Bali: Ler é o melhor refúgio!

E, sem dúvida, em qualquer lugar que se esteja, é premissa básica que você se alimente, reze, ame e, acrescentaria, inspire-se pelo o que aparentemente ficou para trás.



*Não adesão à nova regra gramatical.