São quase quarto meses sem escrever. De fato, não vivi muitas coisas diferentes para manter o ritmo de compartilhar, semanalmente.
Houve dias em que tive vontade de detalhar, mas parecia pouco.
Ao mesmo tempo em que vou ficando menos exigente com as coisas (não com as pessoas), porque já passei por situações em que escolher é um luxo, já não consigo enxergar a beleza e o diferente "em lugares escondidos e inesperados", então, o que talvez pudesse ser publicado, ficou comigo.
Demorei a sair de São Luís, capital, para percorrer os trechos que compõem o projeto físico ao qual estou alocada desde a Líbia: muito trabalho de reconhecimento do negócio, do cliente e dos parceiros.
Enfim, nas últimas três semanas, pude percorrer pelo interior do Maranhão e do Pará para visitar nossos escritórios e ver, de fato, como as coisas iam. E eu, embora com raízes humildes, pobres e interioranas, que, além de tudo, já tinha vivido as experiências no Sri Lanka e Tailândia, me desbanquei, de novo!: nota-se uma carência extrema e diferente, onde não há água (mesmo), imersos a um calor naturalmente prejudicial, com pessoas dispostas a serem outra coisa além do que foram até hoje.
Jovens ou velhos com um olhar de esperança de que aquilo vai fazer as coisas mudarem.
De que haverá tratamento de água, redes de esgoto, escola, conforto, asfalto, alimentação saudável, diferentes marcas de consumo, opções de escolha, olhares que se olham e decisões que impactam. Transporte público. Segurança. Coleta de lixo.
Crianças vivem em meio ao alcoolismo dos pais, que não necessariamente são agressivos, apenas se dopam para dormir sem ventilador e trabalhar por meio salário mínimo.
Jovens sem ter o que fazer, perambulando e, tentando se encontrar ali, na praça, em meio a fumaças de cigarros baratos.
Nem mesmo naquele que dizem e promovem em revistas caras, nos Lençóis Maranhenses, há quaisquer estruturas para o que poderia de fato ser. Vale o visual e o passeio pelo Rio Preguiça; a observação dos nativos que vivem em vilas e vilarejos, à espera dos turistas que vão comprar um adorno, um artesanato ou simplesmente vão abrir a mão para que tenham como retorno o sorriso da criança.
Difícil prever um futuro nisso tudo. E é Brasil. Logo aqui, em cima de nós, que "somos do Sul":
é preciso evoluir, e muito!
Do interior do Maranhão segui para o interior do Pará - a ponta de lá do projeto. Por terra, foi sensacionalmente estranho andar em uma estrada que separava em lados esquerdo e direto a Floresta Amazônica.Em vários pontos, a Floresta é fechada, robusta, se impõe e se mostra ao que veio. Adiante, ela vira pasto e demonstra-se devastada, não tão dona do reinado mais: os burgueses acabaram com a nobreza, também ali.
Chegando em uma das minhas cidades-destino, perguntei pela Transamazônica, projetada como uma "obra faraônica", mas que não disse e ainda está muda, a respeito do que veio.
Pouco interessante, ela é uma avenida como outra qualquer, com seus buracos, má sinalização, envolta a prédios e casebres inacabados e mal-cuidados: nada demais, infelizmente.
Entre-sinais, tribos indígenas vendendo seus cocais; indiozinhos dependurados pelo seio materno; índios dirigindo caminhonetes caras, com celulares na cintura, fumando outros cigarros baratos e não naturais.
Tudo muito estranho, mas não ao ponto de ser caracterizado como um "choque-cultural".
De fato, nesta nova experiência de Brasil, é bom que tenha trazido vivências, de onde quer que sejam e que tenho tentado colocá-las, por onde quer que passe.
Se te intriga o porquê deste texto, Saramago me justificaria: "No fundo, todos temos necessidade de dizer quem somos e que é que estamos fazendo e a necessidade de deixar algo feito, porque esta vida não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma forma de eternidade*".